Crescimento Relevante

A Comunhão dos cristãos


"Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações.  Todos estavam cheios de temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos.  Os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum.  Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade.  Todos os dias, continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração,  louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos"(Atos 2:42-47 NVI).

Três coisas me chamam a atenção na igreja de Jerusalém e eu as considero realmente relevantes para que o crescimento saudável

A primeira delas é a qualidade. Muitos pastores afirmam preferir qualidade a quantidade, como se essas duas coisas fossem antagônicas. Na verdade, porém, elas não são opostas. No reino de Deus, qualidade é santidade. É vida abundante. E isso nós percebemos nessa igreja. A igreja de Jerusalém perseverava na doutrina dos apóstolos. Aqueles cristãos não tinham ainda o Novo Testamento. Como poderiam seguir os ensinos de Cristo? Ouvindo o que os apóstolos ensinavam e indo além: vivendo o evangelho. Eles estavam constantemente aprendendo a Palavra de Deus e a praticavam no seu dia a dia. Nós só sabemos se realmente entendemos um ensino em sua totalidade quando o experimentamos no nosso cotidiano.

A igreja de Jerusalém vivia em comunhão. Os crentes ali mantinham relacionamentos profundos e verdadeiros. Isto é qualidade. Aprenderam a andar juntos. Não adianta eu discursar sobre amor, se o meu relacionamento com minha esposa e meus filhos não manifesta o meu conhecimento sobre isso. É nos relacionamentos que a santidade se revela de maneira mais intensa. É nos relacionamentos que você demonstra viver aquilo em que crê ou que professa crer. É quando percebemos as necessidades das pessoas ao nosso redor e nos dispomos a participar com elas, dividindo o que temos, que o cristianismo se torna real. Precisamos aprender, com aquela igreja, a nos responsabilizar pelo nosso irmão. O pão era partido de casa em casa; caminhavam juntos na vida de oração; estavam sempre no templo e nas casas, louvando a Deus e servindo-lhe de coração.
Há necessidade de incentivarmos o relacionamento entre os membros de nossas igrejas, e esse relacionamento precisa ser cada vez mais profundo. É preciso que a fé seja compartilhada de maneira pessoal entre aqueles que creem; e o púlpito nunca será a resposta para isso. É impossível desenvolver relacionamento profundo num culto público ou no meio de uma multidão. É preciso algo que se assemelhe a uma família. É por isso que os crentes de Jerusalém se reuniam nas casas. É na comunhão que as pessoas se revelam como são. Quanto mais íntimo se torna o vínculo, mais fácil é abrirmos o coração profundamente. É aí também que manifestamos a falta de amor e onde podemos ser confrontados a respeito disso.

Qualidade é também compartilhar o pão, é socorrer meu irmão nas suas necessidades. Qualidade é uma vida de oração compartilhada — não apenas o quarto secreto, mas a perseverança na oração conjunta.
Em cada alma havia temor. O significado da palavra temor tem sido desaprendido em nossas igrejas. Esta é uma perda irreparável, pois, sem o temor do Senhor não há santidade. A igreja de hoje conquistou a liberdade, mas infelizmente não está sabendo o que fazer com ela. Quando eu era jovem, assisti a uma reunião da igreja onde foi discutida a legitimidade do uso ou não do violão nos cultos! A questão era saber se aquele instrumento era mundano ou não. Antes dele, o piano também teve dificuldade para ser aceito, e depois dele veio a bateria...
Hoje até a percussão faz parte da maioria das igrejas, e isso já deixou de escandalizar os irmãos. Aos poucos, fomos conquistando essa liberdade. Por outro lado, porém, fomos deixando o temor a Deus desvanecer. Certa leviandade foi tomando conta de nós. Entoamos cânticos de adoração, mas muitas vezes esses cânticos estão completamente dissociados da vida que vivemos. Perdemos a consciência da presença de Deus, que está constantemente ao nosso redor e em nós, e o resultado dessa perda é que o temor também acabou.

A segunda característica relevante da igreja primitiva era a unidade. Os cristãos primitivos eram unânimes. Estavam juntos! Tinham a unidade quando partiam o pão. Todos se reuniam para orar. Juntos perseveravam na doutrina dos apóstolos. A unidade era gerada por uma comunhão profunda e por um amor que fazia ver a necessidade do outro antes da própria necessidade. Essa unidade era uma dádiva a ser mantida.
A santidade é algo extraordinário, mas só sabemos se é real quando ela se manifesta na comunhão uns com os outros, quando a unidade é resultado de uma vida santa, quando realmente temos um só corpo, quando da multidão dos que creem é um o coração e a alma!
Certa vez, o pastor Ariovaldo Ramos disse que “vida eterna é comunhão”. Só podemos experimentar a vida abundante que Deus tem para nós em uma vida de relacionamentos, de comunhão e de unidade.
Muitos de nós, ministros, temos tido experiências de ver igrejas divididas, de enfrentar disputas internas, conflitos na comunidade por causa da busca do poder. Pessoas que se ofendem, trocam agressões e palavras que, às vezes, ferem muito mais do que a agressão física. Qualquer assunto que possa destruir a unidade de uma igreja precisa ser analisado com muito cuidado. É preciso orar muito antes de tomar decisões.
A unidade é algo tão precioso que precisa ser cuidadosamente preservado. Quando nos reunimos para tomar decisões em uma igreja, é preciso lembrar que este também é um ato de culto a Deus! Não nos reunimos para expressar nossa vontade, mas para que a multiforme sabedoria de Deus se manifeste por meio de cada um de nós. O mais importante de tudo é fazer a vontade de Deus, preservando o vínculo da paz.

A terceira característica relevante que encontramos na igreja primitiva é o crescimento. Quando Deus criou o homem, ordenou que este se multiplicasse e enchesse a terra. Jesus, que criou no Calvário o novo homem, também ordenou à sua igreja que fosse por todo o mundo e fizesse discípulos de todas as nações, alcançando os confins da terra. Milhares de homens e mulheres estão em regiões distantes, inóspitas e perigosas. Por quê? Porque Deus quer crescimento, anseia que cada dia as pessoas sejam salvas. Ele quer acrescentá-las à igreja todos os dias!

O mundo precisa ver Jesus na minha vida, na sua vida; e Deus se revelará pela maneira com que vivemos como Corpo de Cristo. Se tivermos amor uns pelos outros, o mundo crerá naquilo que pregamos. Não dá para deixarmos essa tarefa a cargo de um grupo seleto de líderes. Há lugares onde esses líderes nunca poderão chegar. O Senhor enviou a sua igreja até os confins da terra, e todas as nações ouvirão o evangelho do reino, e o fim virá.

O que essas três características têm a ver com o que Deus quer revelar por intermédio da sua igreja? Vejo-as como características que não podem faltar a uma igreja que deseja manifestar Cristo ao mundo. 

Deus não é presbiteriano, batista ou congregacional. Ele nunca escolherá entre ser histórico ou pentecostal. Deus é santo, e a igreja tem de ser como ele é. Tem de manifestar qualidade ao mundo — e qualidade, no reino de Deus, é santidade. Quando o mundo encontra santidade em nós, ele pode ver como Deus é.
Embora subsista em forma de três pessoas, Deus é um só. A unidade em Deus é tão perfeita que, às vezes, em determinados momentos das Escrituras, temos dificuldade de perceber qual das três pessoas está em evidência. Como igreja, temos de ser como as três pessoas da Trindade: um só corpo, um só coração.

Finalmente, Deus é amor. Ele não quer que ninguém se perca, por isso deseja que todos os homens sejam salvos. Assim, a igreja precisa crescer. Precisamos sair e alcançar a nossa geração, para que o propósito de Deus se cumpra: Jesus sendo o primogênito na multidão de irmãos semelhantes a ele.
É interessante descobrir, no meio da igreja, aqueles que não se preocupam com a salvação de nenhuma pessoa, especificamente. Irmãos que não se angustiam e não oram por amigos, parentes ou vizinhos que caminham a passos largos para a perdição eterna. É possível aceitar que pessoas tenham dificuldade de evangelizar; alguns são muito tímidos. Entretanto, ser indiferente e nem sequer preocupar-se e orar, isso é inaceitável para um cristão. É preciso haver arrependimento e busca de cura nessa área. 

Precisamos entender que Deus quer alcançar o coração das pessoas.
Como manter, então, qualidades tão interessantes que preparam a igreja para revelar ao mundo a santidade, a unidade e o amor de Deus?

A maneira que eu descobri de tentar manter essas qualidades sempre presentes na vida da igreja durante o processo de seu crescimento é o pastoreio de cada pessoa e a preparação de espaço para relacionamentos em que essas qualidades se manifestem. Como pastorear, por exemplo, um grupo de mil pessoas? Por melhores que sejam suas intenções e maiores que sejam os seus talentos, isso é impossível de ser feito por uma pessoa só. Muitas mãos serão necessárias para esse trabalho.

Existem diversos modelos. Eles não são santos em si mesmos, e nenhum é teologicamente o mais correto. Em cada comunidade, dependendo de cada liderança, pode-se abraçar um desses modelos, mas os princípios é que preci- sam ser a meta aonde os modelos vão levá-los.
Cada crente em Cristo Jesus precisa saber e sentir que está sendo pastoreado e que há um caminho a seguir para o seu crescimento espiritual. Cada pessoa precisa sentir que tem alguém cuidando dela, ajudando-a nas suas lutas e ensinando-a. Não alguém que a subjugue, mas um irmão disposto a servir-lhe. Ela precisa se sentir não um discípulo do líder, mas um discípulo apaixonado de Jesus. Dessa forma, nas crises e nos desafios da vida ela não vai se sentir só. Cada um de nós precisa de um irmão, com quem dividir  dores e alegrias; alguém para ser nosso companheiro na jornada da fé.

Em nossa comunidade, temos utilizado o modelo de células. Esta tem sido para nós uma ferramenta extraordinária. Sem ter a pretensão de colocar esse modelo acima dos outros, vejo como o método nos tem ajudado a desenvolver os princípios discorridos aqui. Nas células, as pessoas são pastoreadas e discipuladas e, já no início de sua vida cristã, estimuladas a testemunhar da sua fé e a cuidar dos que elas próprias conduzem a Cristo. Assim, além de serem pastoreadas, aprendem também a pastorear.

Os relacionamentos desenvolvidos em uma célula são muito mais íntimos e profundos do que em uma reunião da igreja toda. Na célula, cada pessoa tem nome, rosto e pessoas que conhecem o seu coração e caminham com ela. Cada pessoa tem ainda a oportunidade de exercer seus dons e conhecer seus companheiros em profundidade.

Tem sido maravilhoso ver pessoas novas na fé trazendo toda a família para o reino de Deus. É extraordinário vê-los, ainda em seus primeiros passos na fé, já cuidando dos que eles mesmos estão trazendo a Cristo! Ao mesmo tempo, eles sabem que não precisam temer, pois o seu líder os ajudará nessa tarefa. São muitas as experiências de respostas às ora-ções que temos vivido nas células; algumas bem simples, de irmãos que estão apenas começando sua jornada com Jesus.

Assim, ao longo desses anos, a igreja tem experimentado alegria com o crescimento dado por Deus a cada ano. A unidade e o sentimento de família fazem parte do nosso dia a dia. Além de crescermos em número, a liderança tem aumentado com o treinamento iniciado na própria ambiência da célula e continuado num investimento que consideramos o mais importante da igreja. 

Em nosso orçamento, pode-se ver claramente o investimento feito no treinamento de nossos líderes. Vê-los crescendo é uma grande recompensa para nós! Alguns certamente irão muito além do que imaginamos; muitos desenvolverão talentos superiores aos nossos, mas um pai sempre se alegra quando o filho o supera.

Um pastor é sempre uma espécie de pai para o seu rebanho. O amor que nutre pelas pessoas faz que deseje vê- las crescendo dia após dia, e a retribuição é o amor que elas lhe devolvem.

Faltaria tempo para falar da importância da oração e da Palavra, mas isso tem sido falado em toda a nossa jornada cristã. Se é que podemos tornar alguma coisa relevante — só Deus pode realmente fazê-lo! —, isso será manter uma igreja com vida diante de Deus. Isto é algo que vale o ministério!

Livro: Lutando pela igreja
Ariovaldo Ramos , Ricardo Bitun
Editora Hagnos

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