Vida na cidade pós-moderna: solidão, exclusão ou ...

Foi minguando o espaço, encolheram-se as salas, dispersou-se a sombra acolhedora e quieta das árvores em parques e pomares. A casa que se estreita convida menos e a rua passa a oferecer compensações aos encantos que o ‘home’ vai perdendo (...) é a vida externa que abafa a antiga vida de família. Para muita gente o apartamento é apenas o domicílio legal e o dormitório.

Os cortiços, vilas e apartamentos são categorias de classificação que traduzem estas representações em movimento. As primeiras, enquanto ‘moradias coletivas’, designam uma noção de família popular ameaçada pelo congestionamento e pela promiscuidade. As casas de vila correspondem à emergência da família burguesa higienizada e urbanizada, contrapondo ao modelo ‘casa grande e senzala’. Já os apartamentos representam não apenas o surgimento da moderna família nuclear, com seus membros crescentemente individualizados, mas igualmente a possibilidade da moradia dissociada da relação familiar, voltada para o indivíduo.

Além da moradia voltada preferencialmente para o indivíduo, as construções urbanas da pósmodernidade “não se estendem horizontalmente para a aproximação e o diálogo” com outras pessoas. A falta de aproximação e de diálogo nesse mundo de prédios e condomínios resulta no anonimato, que é uma característica típica da vida urbana e traz consigo vantagens e desvantagens. Ao contrário de lugares pequenos em que todas as pessoas se conhecem, trocam favores entre si e também controlam a vida alheia, as cidades permitem um amplo espaço de liberdade pessoal e o controle social é muito reduzido. Por outro lado, o anonimato também traz aspectos negativos como o isolamento, a solidão.

Na cidade pós-moderna, quando os indivíduos saem de casa, andam rapidamente de um lado para outro praticando o "abaixamento de faróis" (E. Goffman), pois, na rapidez que move suas vidas, ninguém quer comprometimento com o "Outro", por isso desvia-lhe o olhar. Nestas andanças, as inúmeras tribos desfilam um empório de estilos e códigos sem nenhuma relação, abençoados pela liberdade e flexibilidade pós-modernas.

Outra característica da vida urbana dos tempos atuais, é a constante “mudança de valores, normas e conhecimentos [que] têm trazido insegurança para as pessoas singulares”. A pós-modernidade é por excelência o lugar “do efêmero, do fugaz, portanto, da incerteza”.

No campo religioso houve um abandono das “práticas religiosas tradicionais” e uma crescente “busca individual por uma construção de sentido e por experiências  espirituais impressionantes”. As ofertas de igrejas, movimentos e grupos religiosos têm crescido e as pessoas têm transitado de uma religião para outra.

Não existe apenas um, mas muitas opções de estilo de vida, e cabe ao indivíduo optar diante desse “universo aberto” de possibilidades. Num primeiro momento pode ser muito atrativa, pois ela oferece a liberdade de escolha, mas a constante exposição às mudanças também pode fragmentar a biografia de uma pessoa e colocá-la numa situação de crise.

Como conseqüência, a pessoa é assaltada por um quadro de insegurança quanto aos valores, de incertezas em relação ao futuro, de desilusão em relação aos projetos de vida, de desconfiança em relação às utopias. Mais ainda, a pessoa é confrontada com a percepção de que sua biografia na verdade é uma coletânea de fragmentos de possibilidades de vir a ser que foram atrofiadas pelo imperativo da busca por oportunidades de vida.

Assim diz o Senhor:
Eles tratam da ferida do meu povo como se não fosse grave. ‘Paz, paz’, dizem, quando não há paz alguma. "Ponham-se nas encruzilhadas e olhem; perguntem pelos caminhos antigos, perguntem pelo bom caminho. Sigam-no e acharão descanso". Mas vocês disseram: ‘Não seguiremos”. Jeremias 6:14, 16

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