O poder e a graça

"Eu te agradeço porque escondeste estas coisas dos que se consideram sábios e instruídos e as revelaste aos que são como crianças." Mateus 11:25

A tentação de transformar o cristianismo num moralismo e de concentrar tudo na ação moral do homem é grande em todos os tempos.

Porque o homem vê sobretudo a si mesmo. Deus permanece invisível, intocável, portanto o homem apóia-se principalmente na própria ação.


Mas se Deus não age, se Deus não é um verdadeiro sujeito agente na história que entra também na minha vida pessoal, então o que quer dizer a redenção? Que valor tem a nossa relação com Cristo e assim com o Deus trinitário?

Parece-me que a tentação de reduzir o cristianismo a um moralismo seja muito grande também em nosso tempo. Porque nós vivemos numa atmosfera de deísmo. A nossa ideia das leis naturais já não nos permite mais pensar facilmente em uma ação de Deus no nosso mundo. Parece que não exista espaço para que possa agir o próprio Deus na história humana e na minha vida.

O que permanece? A nossa ação. E devemos nós transformar o mundo, devemos nós criar a redenção, devemos nós criar o mundo melhor, um mundo novo. E se se pensa assim, eis que o cristianismo está morto, a linguagem religiosa tornou-se puramente simbólica e vazia. E vemos claramente nas liturgias cúlticas que há esta tentação de abandonar a esperança de uma intervenção de Deus - parece muito ingênuo esperar por isso - que transforma tudo em apelos ao nosso agir.

Então nos falta exatamente o verdadeiro diálogo, falta-nos a força do amor eterno que é a verdadeira força que pode responder aos desafios da nossa vida. Agostnho conheceu esta tendência e respondeu fortemente e, sendo o doutor da graça, nos convida a segui-lo e a confiar com a nossa ação à comunhão com a ação de Deus, a crer que o amor é um poder - mesmo no mundo de hoje - e que o amor tem a capacidade de trasformar o mundo e provoca o nosso amor e nesta comunhão das duas vontades, pode-se ir a diante.

Portanto, Agostinho ensina que a santidade e a retidão cristã não constituem numa qualquer grandeza sobre-humana ou em qualquer talento superior. Se assim fosse, o cristianismo se tornaria a religião para alguns heróis ou para o grupo de eleitos, para monges que têm tempo e força para praticá-lo. Essa era a visão da filosofia da antiguidade onde os filósofos tem a capacidade de elevar-se à divindade, enquanto que as pessoas comuns tem que se satisfazer e viver em um nível inferior.

Agostinho diz não, diz que a fé cristã é exatamente a religião dos simples, o Senhor se comunica aos simples. Se realiza na obediência que não se entrega ao próprio poder ou à própria grandeza, mas se fundamenta na grandeza do Deus de Jesus Cristo e pode ser encontrada no servir e em perder-se, em deixar-se guiar pela verdade em deixar-se mover pelo amor.  


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