Um teste de qualidade que mede o valor da nossa vida
“Da mesma forma, agora vocês estão tristes, mas eu os verei novamente; então se alegrarão e ninguém lhes poderá tirar essa alegria.” João 16:22
Quando o mundo saiu das mãos de Deus, tudo transbordava de bondade; de uma bondade que teve seu ponto culminante na criação do homem. Mas com o pecado chegou o mal no mundo e, qual erva daninha, arraigou-se na natureza humana e injetou nela pessimismo e tristeza.
Todos nós desejamos possuir a alegria. Todos nós gostaríamos de torná-la parte integrante do nosso ser, de senti-la sempre lá bem dentro de nós, no fundo da nossa alma … e poder cantar de alegria, chorar de alegria, amar de alegria!
Mas como conseguir algo tão grande? De onde provém a alegria? Como é possível que comece tão efusivamente e se vá embora tão depressa? Como fazer para nunca perdê-la?
É difícil responder a estas perguntas porque a alegria tem uma natureza muito peculiar. Quando se quer alguma coisa comum, sabe-se como consegui-lo. A alegria, não. Se perguntarmos a alguém como ganhar dinheiro, nos responderá: <<Trabalhe>>; se o interrogarmos sobre como aprender matemática, nos dirá: <<Estude>>; sobre como encontrar emprego, aconselhará: <<Procure-o>>.
Mas se alguém nos questiona sobre como ser uma pessoa alegre, ficamos perplexos, não sabemos como responder. Ninguém aceita pacificamente que digamos: <<Esforce-se, cante, ria, tenha bom humor>>.
Por que? Porque a alegria é algo diferente, tem uma natureza singular. Já Aristóteles e São Tomás descobriram o seu caráter peculiar: a alegria, mais do que uma simples virtude, é o fruto, o resultado de uma vivência.
Se a dor é o sinal - o censor - de um estado patológico, a alegria é o indicador de um estado de plenitude vital.
A alegria é como um radar que se põe em movimento quando percebemos - por íntima convicção - que nos estamos dirigindo para o centro gravitacional da nossa existência, que é a felicidade. Não é necessário que estejamos na posse real dessa felicidade. Basta que tenhamos a expectativa real de estar no caminho que a ela nos conduz, como belamente o expressa o Salmo: “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor (Sl 122:1) … Basta ter consciência de estarmos enveredando pelo roteiro que nos leva à felicidade.
Há poucas semanas, contemplávamos o anúncio dos anjos aos pastores: “Não tenham medo! Trago boas notícias, que darão grande alegria a todo o povo.” (Lucas 2:10).
A alegria verdadeira, aquela que perdura apesar das contradições e da dor, tal como a vemos no Evangelho, é a dos que se encontram com Deus nas mais diversas circunstâncias e souberam segui-lo:
É a alegria exultante do velho Simão por ter o Menino Jesus nos seus braços; ou a imensa felicidade dos Magos ao verem de novo a estrela que os conduzia ao Messias em Belém; e a de todos aqueles que num dia inesperado descobriram Cristo; e a Pedro no Tabor: Senhor, é bom estarmos aqui; ou o júbilo dos dois discípulos que caminhavam desalentados para Emaús recuperaram ao reconhecerem Jesus. E o alvoroço dos Apóstolos cada vez que Cristo ressuscitado lhes aparece …
A alegria é a consequência imediata de certa plenitude de vida. E está plenitude de vida consiste, antes de mais nada, na sabedoria e no amor.
Deus, em sua infinita misericórdia, fez-nos em Jesus Cristo, partícipes de sua natureza, que é precisamente plenitude de Vida, Sabedoria infinita, Amor incomensurável.
Não podemos alcançar maior alegria do que aquela que mergulha as suas raizes no fato de sermos filhos de Deus pela graça, e que é uma alegria capaz de subsistir na doença e no fracasso: Eu vos darei uma alegria - havia prometido o Senhor na última Ceia - que ninguém poderá vos tirar.
Quanto mais perto estivermos de Deus, tanto maior será a nossa participação no Seu Amor e na Sua Vida; quanto mais crescermos na consciência da nossa filiação divina, tanto maior e mais tangível será a nossa alegria.
É por isso que ter ou não ter alegria representa como que um diagnóstico definitivo da personalidade humana. É como um <<teste de qualidade>> que mede o valor da nossa vida.
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