A transitoriedade das coisas
Deus dispôs tudo de modo que nada fosse sem fim aqui nesta vida. Qual seria o propósito dEle nisto?
Cada dia de nossas vidas temos de renovar uma série de procedimentos: dormir, banhar-se, alimentar-se, etc. A própria manutenção da vida depende do bater interminável do coração e do respirar do pulmão. Todo o organismo repete sem cessar suas operações para a vida se manter.
Tudo é transitório, nada aqui é definitivo. Toda criança se tornará adulta e depois idosa. Toda flor que se abre logo estará murcha. Qual a razão de nada ser duradouro?
Dessa realidade inevitável que o cotidiano nos mostra, podemos extrair uma lição: Deus quer nos revelar que essa vida é apenas uma passagem, um tempo de preparo, aperfeiçoamento, em busca de uma vida permanente, eterna.
Em cada flor que murcha e em cada pessoa que falece, sinto Deus nos dizer: “Não se prendam a esta vida transitória. Preparem-se para aquela que é eterna, quando tudo será duradouro, a nada precisará ser renovado dia-a-dia.
E isto mostra-nos também que a vida está em nós mas não é nossa. Quando vemos uma bela rosa murchar, é como se ela estivesse nos dizendo que a beleza está nela, mas não lhe pertence.
Com a precariedade da vida e de tudo o que nos cerca, Deus nos ensina, diária e constantemente, que tudo passa e que não adianta querermos construir o céu aqui na terra.
Ainda assim, mesmo com essa lição permanente que Deus nos dá, muitos de nós são levados a viver como aquele homem rico da parábola narrada por Jesus. Ele abarrotou seus celeiros e disse à sua alma: “Descansa, come, bebe, regala-te” (Lc 12:19b); ao que Deus lhe disse: “Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma” (Lc 12:20a).
A efemeridade das coisas foi a maneira mais prática e constante que Deus encontrou para nos dizer a cada momento que aquilo que não passa, que não se esvai, que não morre, é aquilo de bom que fazemos para nós mesmos e, principalmente, para os outros. Os talentos multiplicados no dia-a-dia, a perfeição da alma buscada na longa caminhada de uma vida de meditação, de oração, de piedade, essas coisas que não passam, que o vento do tempo não leva e que, finalmente, nos abrirão as portas da vida eterna, quando “Deus será tudo em todos” (cf 1Co 15:28b).
A transitoriedade de tudo o que está sob os nossos olhos deve nos convencer de que só viveremos bem esta vida, se a vivermos para os outros e para Deus.
Só o amor de Cristo, o oposto do egoísmo, pode nos levar a compreender a verdadeira dimensão da vida e a necessidade da efemeridade terrena.
Se a vida na terra fosse incorruptível, muitos de nós jamais pensaríamos em Deus e no céu. Acontece que Ele tem para nós algo mais excelente, aquela vida que levou São Paulo a exclamar:
“Mas, como está escrito: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.”” (1Coríntios 2:9).
A corruptibilidade das coisas da vida deve nos convencer de que Deus quer para nós uma vida muito melhor do que esta - uma vida junto dEle. E, para tal, Ele não quer que nos acostumemos com esta, mas que busquemos a outra, onde não haverá mais sol porque o próprio Deus será a luz, e não haverá mais choro nem lágrimas.
Aqueles que não creem na eternidade jamais se conformarão com a precariedade desta vida terrena, pois sempre sonharão com a construção do céu nesta terra.
Para os que creem, a efemeridade tem sentido: a vida não será tirada, mas transformada; o “corpo corruptível se revestirá da incorruptibilidade” (cf 1Co 15:54) em Jesus Cristo.
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