Como transformar nossa vida numa benção?

 


Evangelho: Lucas 1,26-38

“Eis aqui a serva do Senhor”


Tudo começa ali onde são pronunciadas, a pergunta: “Onde estás?” e a resposta: “Tive medo” (Gênesis 3,9-15.20). Um Deus que não encontra o homem no lugar que lhe preparou e um homem que tem medo de Deus que o criou. 


Sonhou-o abençoado antes mesmo de o ter criado, dirá Paulo na carta aos Efésios (1,3-6.11-12). Criou-o para ser “santo e irrepreensível no amor”, para viver na sua presença. No entanto, a “mulher que tu me deste”, ela e a serpente, deram-me a comer o fruto proibido e eu comi. Foi ela, ela a mulher, ela a serpente. Tem início aqui uma nova relação do homem com o outro homem e do homem com Deus e com a natureza.


Destruída a harmonia desejada e preparada por Deus ao “escolher” e “predestinar” o homem para ser seu “filho adotivo” e herdeiro no filho Jesus Cristo, torna-se urgente um novo homem e uma nova mulher.


Uma nova mulher: “o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José. O nome da Virgem era Maria”. E um novo homem: “Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo”.


Começa uma nova história, agora no silêncio de Nazaré, porque Deus se enamorou de Maria e não desiste de a fazer mãe, pela força do Espírito Santo. E acontece que de Maria sai a resposta para a pergunta de Deus ao homem: “Onde estás”, “Eis-me aqui” disse ela. E no “faça-se” de Maria, Deus repete o faça-se inicial que fez acontecer o sonho de Deus. Agora o homem “será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo”.


A história da humanidade, bem como a história de cada homem, é uma tentativa de resposta à pergunta: “Onde estás?”. A pergunta guarda simultaneamente o drama e a salvação. Só a resposta dá a possibilidade de transformar a existência numa bênção ou numa maldição. “Tive medo”, escondi-me”, “estou nu”, “enganou-me” ou “eis-me aqui”, “faça-se”. Com medo, escondidos, nus, enganados, perdidos de nós mesmos, dos outros e de Deus só apetece fugir, morrer.


Criados para viver na presença de Deus, a vida não faz sentido se temos medo, se precisamos de nos esconder, se não é possível a relação, o encontro, a presença. Criados para ser filhos e herdeiros como viveremos longe da casa do Pai? Chamados à santidade, como conseguiremos manter-nos sem contemplar o rosto de Deus? Estamos de mãos vazias.


Maria não se esconde, ela expõe-se diante da vida, diante do mundo e diante de Deus. A casa de Nazaré é um grito no silêncio. Um grito de Deus a ecoar desde toda a eternidade: “Faça-se” e um grito de Maria que é o início de uma nova humanidade que nasce do: “faça-se em mim”.


A bênção recusada em Adão é renovada em Maria, porque aquele que vai nascer “será chamado Filho de Deus”. Nela, a nova Eva, serão abençoadas todas as gerações, “com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo”. E no seu filho que vai nascer, serão todos predestinados para serem “um hino de louvor da sua glória”.


Também nós, na pobreza da nossa casa de Nazaré, somos chamados a acolher a voz do céu para nos tornarmos morada do Altíssimo. Pobres e simples, como a casa de Maria, podemos chegar a ser filhos adotivos, consagrados pelo chamamento à santidade e tornados irrepreensíveis diante de Deus e dos homens, como um hino de louvor e de glória para o nossos Deus.

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