A Igreja como “farol que ilumina as noites do mundo”
Início do Pontificado do Papa Leão XIV
18/05/2025
### Principais temas e mensagens da Homilia do Papa Leão XIV na Missa de Início de Seu Pontificado (18 de maio de 2025)
#### **Síntese da Homilia**
Na missa inaugural celebrada na Praça de São Pedro, o Papa Leão XIV, identificado como Robert Francis Prevost, dirigiu-se aos fiéis com uma mensagem centrada no amor, na unidade e na missão da Igreja em um mundo marcado por divisões e desafios. Os pontos principais de sua homilia, conforme relatados, incluem:
**Chamado ao Amor e à Comunhão com Cristo**:
- Leão XIV destacou que a Igreja deve ser um reflexo do amor de Deus, construída sobre a base do mandamento de Jesus: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). Ele afirmou: “É a hora do amor! Olhem para Cristo e aproximem-se Dele!”
- O Evangelho proclamado, João 21,15-19, onde Jesus pergunta a Pedro “Tu me amas?” e o comissiona para apascentar suas ovelhas, serviu como fundamento de fundo teológico para sua exortação de que o amor a Cristo é a base do ministério petrino.
**Humildade e Serviço**:
- O Papa expressou sua própria inadequação diante da missão, dizendo: “Fui escolhido sem qualquer mérito e, com temor e tremor, venho até vocês como um irmão que deseja fazer-se servo da fé e da alegria.”
**Unidade e Reconciliação**:
- Leão XIV pediu uma Igreja que seja “sinal de unidade” e que combata “as feridas provocadas pelo ódio e pela violência”. Ele exortou os fiéis a construir “uma Igreja fundada no amor de Deus”, promovendo a paz e a reconciliação em um mundo dividido.
- Ele condenou o sistema econômico que “explora os recursos da terra e marginaliza os pobres”, chamando os cristãos a serem testemunhas de uma “paz desarmada”.
**Reverência aos Antecessores e Continuidade**:
- O Papa fez menção especial ao Papa Francisco, dizendo que sentiu “forte presença espiritual” dele durante a celebração, sinalizando continuidade com seus predecessores.
- Ele também rezou diante do túmulo do Apóstolo Pedro, reforçando a ligação com a tradição petrina.
**Missão Evangelizadora**:
- Citando sua primeira homilia (9 de maio de 2025), Leão XIV reiterou que os cristãos são “o povo escolhido por Deus” para anunciar “as grandezas daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pd 2,9). Ele criticou o “ateísmo prático” de muitos batizados e chamou a Igreja a ser uma luz em meio ao declínio da fé.
A homilia foi marcada por um tom pastoral, com apelos à simplicidade, à fraternidade e à centralidade de Cristo, enquanto abordava questões contemporâneas como a justiça social, a crise ambiental e a necessidade de uma fé viva.
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### Comentário à Luz da Tradição da Igreja
A homilia do Papa Leão XIV reflete profundamente a tradição da Igreja, dialogando com elementos da Escritura, da Patrística, da Escolástica e do magistério recente, ao mesmo tempo em que responde aos desafios do mundo contemporâneo. Abaixo, analiso os principais temas da homilia à luz dessa tradição:
#### **Centralidade do Amor e da Comunhão com Cristo**
A ênfase de Leão XIV no amor como fundamento da Igreja ecoa a tradição bíblica e patrística. O uso de João 21,15-19 remete diretamente à missão de Pedro, estabelecida por Cristo, de pastorear com amor sacrificial. Santo Agostinho, em seus comentários sobre o Evangelho de João, interpreta essa passagem como uma restauração de Pedro após sua tríplice negação, onde o amor a Cristo é a condição para o serviço pastoral (*In Ioannis Evangelium*, 123,5). A exortação de Leão XIV para que os fiéis “olhem para Cristo” ressoa com a visão agostiniana de que o coração humano encontra repouso apenas em Deus (*Confissões*, I,1).
Na tradição escolástica, Tomás de Aquino reforça que o amor (caritas) é a virtude teologal que ordena todas as outras, unindo o homem a Deus e aos irmãos (*Summa Theologiae*, II-II, q. 23, a. 1). A chamada de Leão XIV a uma Igreja fundada no amor de Deus alinha-se com essa visão, apresentando a liturgia e a vida cristã como expressões desse amor.
No magistério recente, a encíclica *Deus Caritas Est* (2005) de Bento XVI sublinha que o amor de Deus é a essência da missão da Igreja, uma ideia que Leão XIV retoma ao convocar os fiéis a serem testemunhas do amor divino em um mundo marcado pelo ódio e pela violência.
#### **Humildade e Serviço**
A autoproclamação de Leão XIV como um “servo da fé e da alegria” reflete a tradição do *Servus Servorum Dei* (Servo dos Servos de Deus), título papal que remonta a São Gregório Magno (século VI). Gregório, em suas *Regras Pastorais*, enfatiza que o pastor deve governar com humildade, reconhecendo sua fragilidade diante de Deus. A declaração de Leão XIV de que foi escolhido “sem qualquer mérito” ecoa essa espiritualidade gregoriana, que via no ministério petrino uma missão de serviço, não de poder.
Essa visão também se conecta ao Concílio Vaticano II, que na constituição *Lumen Gentium* (n. 27) descreve os bispos, e por extensão o Papa, como servidores da Igreja, chamados a imitar o Bom Pastor. A rejeição de Leão XIV a “jogos de poder” na Igreja reforça essa tradição, alinhando-se com as críticas de Papa Francisco às tentações do clericalismo e do mundanismo (*Evangelii Gaudium*, 93-97).
#### **Unidade e Reconciliação**
O apelo de Leão XIV por uma Igreja como “sinal de unidade” está enraizado na eclesiologia patrística e conciliar. Santo Cipriano de Cartago, no século III, afirmou que “não pode ter Deus por pai quem não tem a Igreja por mãe” (*De Unitate Ecclesiae*, 6), sublinhando a unidade como marca essencial da Igreja. Leão XIV, ao condenar as “feridas do ódio e da violência”, retoma essa visão, aplicando-a aos conflitos modernos, como a exploração econômica e a marginalização dos pobres.
Na Escolástica, Boaventura via a Igreja como um reflexo da Trindade, cuja unidade na diversidade é o modelo para a comunhão eclesial (*Breviloquium*, VI, 8). A insistência de Leão XIV em uma unidade que “não anula as diferenças” ressoa com essa perspectiva, promovendo uma catolicidade que abraça a diversidade cultural sem perder a comunhão.
O Concílio Vaticano II, na *Gaudium et Spes* (n. 24), chama a Igreja a promover a solidariedade humana, uma ideia que Leão XIV amplia ao abordar a crise ambiental e a justiça social, temas também caros ao magistério de Francisco (*Laudato Si’*, 2015).
#### **Reverência aos Antecessores e Continuidade**
A menção de Leão XIV ao Papa Francisco e sua oração no túmulo de Pedro reforçam a continuidade com a Tradição apostólica. Na Patrística, Irineu de Lião destacou a sucessão apostólica como garantia da verdade da fé (*Adversus Haereses*, III, 3, 1), e Leão XIV, ao honrar seus predecessores, reafirma essa cadeia de continuidade. Sua referência a Francisco, em particular, sugere uma intenção de dar continuidade às ênfases pastorais do pontificado anterior, como a misericórdia e a atenção aos pobres.
Essa reverência também ecoa a prática litúrgica da Igreja primitiva, onde a memória dos mártires e apóstolos era central, como visto nas catacumbas romanas e nos primeiros calendários litúrgicos. A oração de Leão XIV no túmulo de Pedro simboliza essa ligação viva com a fundação apostólica da Igreja.
#### **Missão Evangelizadora**
A visão de Leão XIV da Igreja como “farol que ilumina as noites do mundo” remete à metáfora bíblica da “luz das nações” (Is 42,6) e à missão evangelizadora articulada por Paulo VI na *Evangelii Nuntiandi* (1975, n. 14), que chama a Igreja a ser testemunha do Evangelho em todos os tempos. A crítica de Leão XIV ao “ateísmo prático” dos batizados ecoa a preocupação de João Paulo II com a secularização na Europa (*Ecclesia in Europa*, 2003, n. 8), enquanto sua ênfase na alegria da fé alinha-se com a *Evangelii Gaudium* de Francisco.
Na Patrística, Orígenes via a Igreja como uma comunidade missionária, chamada a transformar o mundo pela pregação e pelo testemunho (*Contra Celsum*, III, 9). Leão XIV, ao convocar os fiéis a “anunciar as grandezas de Deus”, retoma essa visão, adaptando-a ao contexto de um mundo marcado pelo relativismo e pela crise de fé.
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### **Reflita**
A homilia de Leão XIV é um exemplo de como a Tradição da Igreja pode ser vivificada para responder aos desafios contemporâneos. Sua ênfase no amor, na humildade e na unidade reflete a continuidade com a Escritura, os Pais da Igreja, os teólogos escolásticos e o magistério conciliar, enquanto sua atenção às questões sociais e ambientais mostra uma sensibilidade pastoral típica do pós-Vaticano II. Comparada às homilias inaugurais de seus predecessores, como a de João Paulo II (“Não tenhais medo!”) ou a de Bento XVI (sobre a amizade com Cristo), a de Leão XIV destaca-se pela simplicidade e pelo tom fraterno, talvez refletindo sua formação agostiniana e sua experiência missionária.
No entanto, a homilia também enfrenta o desafio de traduzir esses ideais em ações concretas. A condenação do sistema econômico explorador, por exemplo, ecoa *Laudato Si’*.
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### **Conclusão**
A homilia do Papa Leão XIV na missa de início de seu pontificado em 18 de maio de 2025 é um chamado vibrante ao amor, à humildade e à missão, profundamente enraizado na tradição da Igreja. Ela dialoga com a visão patrística da Igreja como comunhão, a racionalidade escolástica do amor como fim último, e o impulso missionário do Vaticano II, enquanto aborda questões modernas como a justiça social e a crise ambiental.
À luz da Tradição, Leão XIV se apresenta como um pastor que busca unir a Igreja em torno de Cristo, oferecendo uma visão de esperança e serviço em um mundo ferido. Sua mensagem, ao mesmo tempo espiritual e profética, estabelece o tom para um pontificado que promete ser fiel às raízes da fé e aberto aos sinais dos tempos.
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