A Palavra de Deus na missão da Igreja
Do Jesus que prega ao Cristo que é pregado
“Não é a nós mesmos que pregamos, mas a Jesus Cristo, o Senhor!” (2Cor 4,5). Em uma carta precedente, aos mesmos fiéis de Corinto, havia escrito: “Nós, porém, proclamamos Cristo crucificado” (1Cor 1,23). Quando o apóstolo quer abranger com uma única palavra todo o conteúdo da pregação cristã, esta palavra é sempre a pessoa de Jesus Cristo!
Da Palavra de Deus recebida pela Igreja através dos profetas uma vez por todas na história e sempre de novo na liturgia e graças ao Espírito passamos à Palavra de Deus transmitida pela Igreja.
“Por muito tempo Deus falou várias vezes e de diversas maneiras a nossos antepassados por meio dos profetas. E agora, nestes últimos dias, ele nos falou por meio do Filho, o qual ele designou como herdeiro de todas as coisas e por meio de quem criou o universo. O Filho irradia a glória de Deus, expressa de forma exata o que Deus é e, com sua palavra poderosa, sustenta todas as coisas. Depois de nos purificar de nossos pecados, sentou-se no lugar de honra à direita do Deus majestoso no céu,” Hebreus 1:1-3
Este texto constitui uma síntese grandiosa de toda a história da salvação.
Esta vem a ser constituída pela sucessão de dois tempos: o tempo em que Deus falava por meio dos profetas e o tempo em que Deus fala por meio do Filho; o tempo em que falava “por pessoa interposta” e o tempo em que fala “pessoalmente”.
Com efeito, o Filho é “irradiação da sua glória e imagem da sua substância”, ou seja, como se dirá mais tarde, da mesma substância do Pai. Existe, a um só tempo, continuidade e salto de qualidade. É o mesmo Deus que fala, a mesma revelação; a novidade está em que agora o Revelador se faz revelação, revelação e revelador coincidem.
A fórmula de introdução dos oráculos é sua melhor demonstração: não mais “disse o Senhor”, mas sim “Eu vos digo”.
À luz da visão traçada pelo texto da Carta aos Hebreus, buscamos efetuar um discernimento das opiniões que hoje circulam sobre Jesus, fora e dentro da Igreja.
Seja a “velha pesquisa” histórica de inspiração racionalista e liberal que dominou desde fins do século XVIII e no decurso de todo o século XIX, seja da assim denominada “nova pesquisa histórica”, que teve início em meados do século passado, em reação à tese de Bultmann, que havia proclamado o Jesus histórico inatingível e, além de tudo, irrelevante para a fé cristã.
Interessante é a resposta que Santo Irineu dava no século II àqueles que se perguntavam o que teria trazido Cristo de novo com sua vinda ao mundo. “Trouxe [escrevia ele] todas as novidades, trazendo a si mesmo (omnem novitatem attulit semetipsum afferens).
Neusner, um conhecidíssimo estudioso hebreu (escreveu um livro intitulado Um Rabino Conversa com Jesus), salientou a impossibilidade de fazer de Jesus um judeu “normal” do seu tempo, ou alguém que nele se sobressaía apenas em questões de importância secundária. Teve também outro grandíssimo mérito: mostrar a inutilidade de qualquer tentativa de separar o Jesus da história do Cristo da fé.
Assim como basta um fragmento de cabelo, uma gota de suor ou de sangue para reconstruir o DNA completo de uma pessoa, também basta uma frase do Evangelho, tomada quase ao acaso, para demonstrar a consciência que Jesus tinha de agir com a mesma autoridade de Deus.
Neusner sabe em que implica o fato de dizer “Se queres ser perfeito, vem e segue-me”: significa substituir o antigo paradigma de santidade, que consiste na imitação de Deus (“Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo”), pelo novo paradigma, que consiste na imitação de Cristo.
Sabe que somente Deus pode suspender a aplicação do quarto mandamento, como faz Jesus quando pede a uma pessoa que renuncie a sepultar seu pai.
Ao comentar tais expressões de Jesus, Neusner exclama: “Quem fala aqui é o Cristo da fé”. Em seu livro Jesus de Nazaré, Bento XVI responde longamente, e, ao menos para aquele que crê, de maneira convincente e esclarecedora, à dificuldade do rabino Neusner.
Sua resposta me faz pensar naquela que o próprio Jesus deu aos discípulos enviados por João Batista para lhe perguntar: “És tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?” (Mt 11,3).
Em outras palavras, Jesus não somente reivindicou para si uma autoridade divina, mas também deu sinais e garantias disso: os milagres, seu próprio ensinamento (que não se esgota no sermão da montanha), o cumprimento das profecias, principalmente daquela pronunciada por Moisés acerca de um profeta semelhante e superior a ele; além disso, a sua morte, a sua ressurreição e a comunidade nascida dele que realiza a universalidade da salvação anunciada pelos profetas.
Lendo “O mistério da Palavra de Deus”; Raniero Cantalamessa.
Há um Podcast publicado que fala sobre como transformar o mal em bem pelo princípio da UNIDADE: “Em Busca da Maturidade Cristã - com o título “O lugar para ser purificado, curado e renovado” - link:
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