A Igreja diante do Capitalismo e do Comunismo
O Capitalismo
O espírito de lucro, verdadeiro motor do capitalismo, enfatizou a acumulação da riqueza, sem respeito algum pela moral e pelos direitos fundamentais do homem. Reduzindo o Estado a mero espectador passivo do processo, impediu que esse exercesse sua função de árbitro supremo entre os diversos setores sociais.
Apenas diante da evidência do drama provocado por si mesmo o liberalismo foi cedendo o passo a uma concepção mais justa de ordem econômica. Como sintetizou ironicamente Chesterton, “o mal do capitalismo liberal não foi ter criado capitalistas , mas ter criado muito poucos capitalistas.”
O remédio para o abuso do capital consiste precisamente em facilitar o acesso de todos os diferentes grupos sociais às diferentes formas de propriedade (ver encíclica Mater et Magistra, de João XXIII).
O juízo da Igreja sempre foi muito severo contra a usura e o liberalismo econômico, por submeter o homem à economia em vez de colocar o dinamismo produtivo a serviço da pessoa.
A soluça cristã apoia-se na difusão da propriedade, na humanização do trabalho e na instauração de uma autêntica organização profissional da economia nacional, com a participação de todos os setores, sob o ordenamento jurídico do Estado.
O Comunismo
A posição da Igreja diante do comunismo é de todos conhecida: há uma total oposição entre a doutrina e a práxis desse sistema e o sentido cristão da vida.
Pôde-se definir o comunismo como uma doutrina prática da ação revolucionária. Tal doutrina se resume em três ideias essenciais: dialética, alienação e trabalho.
Dialética: constitui a cosmovisão marxista; afirma que a realidade toda é somente matéria. A sociedade estaria destinada, por meio de um permanente conflito de forças (classes sociais), a um estágio final (sociedade sem classes), verdadeiro paraíso terrestre.
Alienação: Marx entende toda a relação de dependência entre os homens; nunca distingue entre dependência justa e injusta. Há cinco tipos: econômica, centrada na propriedade; social, expressa pela ideia de classe; política, manifestada pelo Estado; ideológica, dada pela filosofia; e religiosa, centrada no conceito de Deus.
Trabalho: esse, alienado vê-se despojado sistematicamente de sua produção, que passa para as mãos do empresário ou capitalista (mais-valia). Para Marx, o único trabalho é o do operário industrial. Nenhuma outra atividade merece o nome de “trabalho”.
Tal doutrina é totalmente ateia. O comunismo destrói o conceito de pessoa, sua liberdade e dignidade, ao eliminar o princípio espiritual da conduta moral e tudo quanto se oponha ao instinto cego. O indivíduo desaparece diante da coletividade, é apenas uma engrenagem do sistema, sem poder invocar direito natural algum. A família e os grupos intermediários tem seus direitos ignorados; toda forma de autoridade não tem outra fonte além da sociedade. O direito de propriedade privada é negado.
Ignora-se a dignidade do amor; negam-se a indissolubilidade do matrimônio, bem como o direito dos pais à educação dos filhos. Sob pretexto de emancipação da mulher, esta é subtraída do lar e lançada na produção coletiva, ignorada a sua dignidade e vocação próprias.
A única missão da sociedade é assegurar a produção de bens mediante o trabalho coletivo; sua única finalidade, o gozo dos bens materiais. A moral comunista foi sintetizada por Lênin, quando disse: “É moral tudo o que contribui para a destruição do capitalismo.” Em outras palavras, trata-se de absoluto maquiavelismo, sem normas éticas objetivas, onde todos os meios são lícitos. É “uma humanidade sem Deus e sem lei.” (Pio XI, encíclica Divini Redemptoris).
Para Marx, como há um conflito de classes, o Partido deve aguçar e ampliar. Se não há conflito, a estratégia e a propaganda partidários, criam-no, para logo desenvolvê-lo. O comunismo nutre-se de injustiças e produz necessariamente injustiças.
A razão é simples: qualquer medida justa , qualquer melhoria da situação tende a diminuir a intensidade do conflito social. Diminuída a tensão social, há menos luta e o processo revolucionário torna-se mais lento. Se a justiça se instaurasse em quase todos os campos, a práxis comunista careceria do “alimento” indispensável de promover a transformação revolucionária. Assim, se o comunismo buscasse realmente a paz e a prosperidade social, ele se aniquilaria a si mesmo.
Por essa razão, Pio XI declarou que o comunismo é “intrinsicamente perverso” (Divini Redemptoris, n. 68), pois que é incapaz de promover o bem. Ele só faz dividir, divide tudo. Esse processo de divisão destrói o corpo social, favorecendo toda espécie de antagonismos e atritos, desarticulando os grupos dirigentes sadios e anestesiando o corpo social.
A doutrina da Igreja supõe uma atitude integradora, harmanizadora de todos os setores em seus legítimos interesses; parte do respeito à pessoa e aos seus direitos essenciais, da vitalidade das famílias, da coordenação dos grupos intermédios e associações profissionais. E tudo isso, sob a supervisão do Estado, como procurador do bem comum, e da Igreja, sempre atenta ao bem das almas.
Fonte literária:
A Ordem Natural; Carlos Alberto Sacheri
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