O caminho de felicidade de Jesus
Evangelho: Lucas 6,17.20-26
“Então, olhando para os seus discípulos, Jesus lhes disse: — Bem-aventurados são vocês, os pobres, porque o Reino de Deus é de vocês.”
As pessoas deixaram de fazer perguntas sobre si próprias, sobre o futuro, e parece que perderam as expectativas, a confiança e a esperança…
Estando voltadas para si mesmas, dão a impressão que vão vivendo minimamente satisfeitas com aquilo que têm e não lhes adianta pôr grandes questões ou fazer grandes planos… O resultado é a passividade e a indiferença, a perda de sentido, o conformar-se com a situação que, não sendo a ideal, vai dando para viver satisfazendo os interesses primários…
Para muitos, dá a impressão que faltam horizontes e, se a perspectiva da vida é limitada, então qualquer coisa serve para ir vivendo… Se, pelo contrário, os horizontes se alargam, então verifica-se que o caminho da felicidade e da realização da pessoa é longo e nunca está fechado. Mas, para sustentar esta visão da vida a longo prazo é necessário relativizar o presente e manter-se aberto ao futuro.
As palavras de Jesus situam-nos nesta perspectiva quando Ele declara que Deus prefere os que agora estão numa situação de carência e de sofrimento no mundo, que têm consciência da sua situação, e quando responsabiliza os que, tendo recursos para se considerar satisfeitos, não fazem nada para mudar a situação…
- Confiar no poder humano ou em Deus
– A questão colocada hoje é clara: em quem é que nós colocamos a nossa confiança? O profeta Jeremias (17,5-8) e o Salmo 1 são claros na resposta: é feliz o que põe a sua esperança no Senhor…
– O profeta vai ainda mais longe e reconhece que pôr a confiança nos homens e nos seus poderes, afastando-se do Senhor, é caminho de fracasso e desilusão… Quem confia no Senhor é que cria raízes e encontra um apoio seguro…
– Colocar a esperança no Senhor significa reconhecer que Deus tem uma predileção especial pelos mais pobres e necessitados… Ele prefere os que sentem que têm ainda muito que caminhar e não chegaram ao ponto de desistir de lutar e esperar…
- As máximas de Jesus
– De acordo com o Evangelho de S. Lucas no “Sermão da Planície” (com semelhanças e diferenças quando confrontado com o “Sermão da Montanha” de S. Mateus) Jesus detém-se num sítio plano, ao mesmo nível e “cara a cara” com os discípulos e com gente vinda de diversos lugares… Embora olhe directamente para os discípulos, fala para todos e diz que os pobres são felizes, bem como os que têm fome, os que choram e os que são insultados e rejeitados…
– Por outro lado, os que pensam que já têm tudo, os ricos, os que estão saciados, os que levam a vida a rir sem pensar nos outros, e os que jogam para a reputação, esses têm a vida comprometida…
– Jesus não faz um enunciado de normas nem elabora uma doutrina social… Ele também não diz que a pobreza, a fome, o choro ou os insultos sejam situações felizes; nem condena definitivamente os ricos, os que estão satisfeitos, riem e são bem vistos pelos outros… Simplesmente proclama máximas de sabedoria que caracterizam o Reino de Deus cuja dinâmica principal é o amor e onde não há lugar para as injustiças, o egoísmo e a falta de solidariedade…
3. Ter consciência dos limites
– Na situação de conforto em que muitos vivem, sem se preocupar com os outros nem com o dia de amanhã, ainda vai havendo lugar para algumas queixas porque “há coisas que se querem ter no imediato” e elas não aparecem logo. Portanto, ainda há algum espaço para poder esperar…
– A proposta de Jesus dirige-se aos que têm consciência das suas necessidades e aceitam os seus limites, e é um apelo a aproveitar as oportunidades que surgem; é este o caminho de felicidade que Ele proclama: não ficar parado nem indiferente…
– Se já temos tudo, se nunca nos falta nada, se em nenhuma circunstância experimentamos motivos para chorar, se nos deixamos arrastar por todas as seduções que nos são feitas, dificilmente descobriremos a dinâmica do Reino de Deus…
– É necessário ter consciência dos limites e das nossas fraquezas, sentir que estamos necessitados, que há muitas coisas erradas nos nossos comportamentos… Se este exercício não for feito, não percebemos nada do que hoje é proclamado por Jesus…
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