Busque os verdadeiros bens da vida

 




Evangelho: Lucas 12,13-21

“a vida de um homem não consiste na abundância de bens”.


O Evangelho de hoje toca um ponto essencial na vida cristã: a relação com os bens materiais. 


Todos nós temos o direito a sonhar com um futuro melhor, a garantir a segurança para nós e para nossa família. Estar seguros e tranquilos é o sonho da maioria das pessoas. Mas, precisamente por isso, podemos perguntar a propósito das leituras (Ec 1,2; 2,21-23; Sl 90; Cl 3,1-5.9-11); que tratam esse tema: 


Qual é a nossa principal ambição? O que é que nós fazemos e esperamos em cada dia? O que é que guardamos só para nós e o que é que somos capazes de dedicar aos outros? Quais são as nossas principais preocupações quanto ao futuro?


As ilusões


– Cohelet, o pregador que ouvimos em Ec 1,2; 2,21-23, olhando para o cotidiano da vida das pessoas, e a partir da sua própria experiência, chega à conclusão que, depois de se ter empenhado em tantas coisas que considerava importantes, tudo é apenas um sopro, fumaça, vazio, efémero, ilusão…


– Sendo um homem de fé, este personagem reflete sobre a precariedade da vida humana, sobre as suas fragilidades e sobre tantos desenganos… A sua fonte de informação é a história, a tradição dos antepassados e a memória, que ele cultiva, e cujos ensinamentos confirma com a sua própria experiência… Acima de tudo, é alguém que pensa e reflete sobre o sentido do trabalho e dos esforços por construir a vida, tantas vezes em suportes frágeis que facilmente desmoronam…


– É nesta perspectiva que questiona o aparente bem-estar de uma vida assente nos bens materiais, o consumismo da vida, a felicidade com pouca duração, o objetivo de desfrutar imediatamente das coisas…


– Pode ser um pouco pessimista nas conclusões que vai tirando mas, não deixa de nos interrogar e de fazer com que concordemos com ele em muitas coisas…


Resposta cristã


– A resposta cristã a muitas destas questões é dada em Colossenses 3,1-5.9-11, de S. Paulo: “Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto…”. O critério, na relação com as coisas deste mundo, é a ressurreição de Cristo: não é que os cristãos deixem de partilhar as alegrias e as tristezas deste mundo, deixem de desfrutar dos bens e de sentir os problemas diários… Só que, devem viver neste mundo com um sentido novo: não ser egoístas, não andar à procura do gozo imediato, do aproveitamento a qualquer preço daquilo que é colocado à nossa disposição… Quem ressuscitou com Cristo tem objetivos diferentes…


– Ressuscitar com Cristo não é fugir deste mundo, dos seus problemas e das possibilidades que nos apresenta para melhorar as condições de vida… O homem novo, que alcança um conhecimento novo em Cristo e se vai renovando à imagem de Deus, é o que fundamenta a sua vida na ressurreição: nos grandes valores do amor, da fraternidade, da justiça e da liberdade…


Contra a avareza, a partilha


– O Evangelho é também uma página didática sobre a questão do uso dos bens materiais: perante um problema de heranças colocado a Jesus, pedindo-Lhe para ser árbitro num conflito entre irmãos, Ele aproveita para ensinar os seus discípulos sobre o sentido da riqueza e do apego aos bens dizendo que a cobiça e a avareza estão na raiz de muitos males… O ensino de Jesus faz todo o sentido numa sociedade consumista como a nossa, em que o dinheiro aparece como o principal bem para alcançar a felicidade…


– A grande ilusão que o Evangelho desmascara é esta: pode pensar-se que quem acumula bens para si garante o sucesso, a felicidade, e prolonga os dias da sua vida… E não é verdade; é um engano em que se pode cair com facilidade, sobretudo os que pensam que não se pode preparar o futuro sem acumular em benefício próprio… A estes, Jesus chama insensatos, quer dizer, loucos, estúpidos, gente que não está no seu perfeito juízo.


– A vida também não depende dos méritos pessoais … Estes não conferem direitos a ninguém… É um erro semelhante ao dos que vivem a acumular só para si. A atitude daquele rico avarento transforma o dinheiro em ídolo: é o seu deus que, contrariamente ao que pensava, falha na primeira prova: não dá nenhumas garantias de prolongar a vida e de evitar as preocupações…


– Qual é então a atitude cristã proposta por Jesus? Em vez de acumular para si, partilhar… Não dando a quem necessita o que nos sobra mas, dando o que nós próprios necessitamos (como o gesto da viúva pobre narrado em Lc 21,1-4)… É a lógica da partilha que deve prevalecer, a lógica do Evangelho, que pode e deve alterar todas as relações econômicas, ao nível dos estados e das relações internacionais… Mas, no nosso dia-a-dia, compete-nos a nós alterar muitos comportamentos…

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