Reflexão cristã sobre o 11 de Setembro
"Não se pode manter a paz pela força, mas sim pela concórdia" (Albert Einstein).
No dia 11 de setembro de 2001 estava, como muitos cidadãos do mundo, trabalhando no escritório da EDP-Bandeirante Energia, empresa distribuidora de energia elétrica em São Paulo, Brasil. A primeira notícia sobre o fato nos EUA trouxe consternação por ser mais um ato terrorista, impondo pela violência, suas contrariedades ao mundo ocidental e capitalista. No decorrer do dia, acompanhando mais atentamente os noticiários, crescia dentro de mim um sentimento de compaixão pelas milhares de vidas que foram ceifadas, arrancadas de suas histórias em construção, devido à ousadia e criatividade de ambos os sistemas (Neoliberal e o Fundamentalista) que regem a humanidade nesses dias.
Passados dez anos, constato que continuam a ser vitimadas pessoas (Amy Winehouse) e nações (Somália) devido ao modelo vivido pela sociedade contemporânea; assim, reflito a seguir essa realidade a partir de uma visão cristã.
A força dominante no mundo atual é o mercado. Os países que são capazes de participar no mundo do mercado são aqueles que são aptos a produzir e consumir; caso contrário, estão fora da dinâmica econômica. Os Estados têm sido incapazes de mudar as leis de mercado ou influenciar o sistema global. A ideologia neoliberal, disseminada por intermédio da globalização da informação, faz com que os povos acreditem que o mercado ou o consumo é a solução da humanidade. Isso leva as pessoas a não priorizarem os laços de solidariedade, fazendo-as mais individualistas e fortalecendo, assim, preconceitos contra os pobres. A globalização econômica, por ser baseada em monopólios sustentados por grupos (e nações) dominantes, é, portanto, uma forma de um sistema assimétrico.
A tendência na sociedade é não se proverem recursos financeiros nem mesmo tempo social para se dedicar na reflexão e ação sobre a situação na qual a massa crescente de pessoas pobres vive. Desde a derrocada do sistema socialista soviético, o neoliberalismo, o novo estágio que o capitalismo experimentou no final do século XX, tem sido apresentado como o único caminho para se organizar a sociedade. As conhecidas e controvertidas teses de Francis Fukuyama defendem que o triunfo do capitalismo como sistema político e econômico significou que o mundo teria alcançado o “fim da história”.
Esse novo estágio do sistema capitalista acentua a desvalorização da força de trabalho em função da automação e da especialização técnica e em detrimento das políticas sociais públicas. Forma-se, portanto, um enorme contingente de massas humanas, excluído do sistema econômico e destinado a situações desumanas de sobrevivência ou passível de ser eliminado pela morte. Contraditoriamente, em meio ao processo de globalização da economia e da informação, emergem, com maior intensidade, os conflitos étnicos, raciais e regionais no mundo inteiro.
O consumismo nos ilude com a idéia de que somos o que temos. Na década de 50 consumíamos cinco vezes menos do que hoje e não éramos menos felizes por isso. Na década de 70, mais de 70% das famílias dependiam apenas de uma renda para se manter. Hoje, mais de 70% das famílias dependem de duas rendas para manter o padrão.
Entramos nessa espiral do consumismo e acabamos comprando o que não precisamos, com o dinheiro que não temos, para impressionar pessoas que não conhecemos. Precisamos trabalhar mais; precisamos poupar mais; precisamos investir mais. Precisamos compartilhar mais. Esse é o caminho da sabedoria!
Entramos nessa espiral do consumismo e acabamos comprando o que não precisamos, com o dinheiro que não temos, para impressionar pessoas que não conhecemos. Precisamos trabalhar mais; precisamos poupar mais; precisamos investir mais. Precisamos compartilhar mais. Esse é o caminho da sabedoria!
O mais urgente em nosso tempo são a descrença, o medo e o pecado do homem, que aparecem mais dramaticamente na vida pública como nunca. O fenômeno do nacionalismo é religioso por natureza; da mesma forma é o culto da civilização que parece permear as sociedades democráticas.
A Igreja ainda não fez, na sua natureza apostólica, a transição de uma era individualista para uma era social, o que movimentos históricos exigem. Quando ela não toma seriamente a sua responsabilidade social, ela muito freqüentemente pensa sobre a sociedade como uma forma da existência humana física e não espiritual e ela tende, portanto, a confinar o seu cuidado com a sociedade ao interesse na prosperidade e na paz de homens em suas comunidades.
É uma parte da tarefa apostólica continuar a função profética de pregar o arrependimento. As boas novas sobre a glória do bem divino não são corretamente proclamadas nem corretamente ouvidas se não são combinadas com as más notícias sobre a grande justiça que prevalecerá no mundo de Deus. É impossível para a Igreja na Alemanha declarar à nação alemã que não é vontade de Deus que essas pessoas pecadoras pereçam sem ao mesmo tempo declarar à nação que suas transgressões devem ser reconhecidas e condenadas. Assim também a Igreja Apostólica na América não pode anunciar a misericórdia de Deus sem apontar como essa nação transgride os limites estabelecidos aos homens quando defrauda os negros e recusa-se a se condenar, pela forma indiscriminada com que fez a guerra no seu uso de bombardeio aniquilador, ou lida com nações derrotadas no espírito da retribuição ao invés do de redenção.
Não é suficiente que a Igreja realize sua função apostólica ao falar aos governos. Sua mensagem é para as nações e sociedades, não para as autoridades. Uma Igreja verdadeiramente apostólica pode na verdade dirigir-se a presidentes, legisladores, reis e ditadores como os profetas e Paulo fizeram no passado; mas como eles, ela será menos inclinada a liderar com os poderosos do que com as grandes massas, com a comunidade, da forma como existe, dos humildes. Como a Igreja deve levar adiante sua tarefa apostólica em nosso tempo é um dos problemas mais difíceis a serem enfrentados. Seus hábitos e costumes, suas formas de falar e seus métodos de proclamação vêm de um tempo quando indivíduos, mais do que sociedades, estavam no centro da atenção.
Responsabilidade para com o Deus Vivo requer, neste caso como em todos os outros, uma consciência do momento presente e suas necessidades, uma vontade de reconstruir os hábitos de cada um a fim de que as necessidades do próximo possam ser alcançadas, uma prontidão para deixar a tradição a fim de que a grande tradição do serviço possa ser seguida.
A sociedade humana, em todas as suas divisões, e em todos os seus aspectos, não crê. Suas instituições estão baseadas na descrença, na falta de confiança no Senhor do céu e da terra. Mas a Igreja concebeu sua fé em Deus e move-se no espírito desta confiança como a esperançosa e obediente parte da sociedade. Com ética, ela é a primeira a arrepender-se dos pecados da sociedade e ela se arrepende em nome de todos. Quando se torna aparente que a escravidão é transgressão do mandamento divino, então a Igreja se arrepende dela, abandona-a, abole-a de si mesma. Ela faz isto não como a comunidade santa separada do mundo mas como uma pioneira e representante. Ela se arrepende do pecado de toda a sociedade e lidera o ato social de arrependimento. Quando as instituições que pertencem à sociedade são sujeitas a questionamento porque sofrimento inocente ressalta o seu antagonismo à vontade de Deus, então a Igreja assume mudar seu próprio uso dessas instituições e lidera a sociedade na sua reforma. Da mesma forma, a Igreja se torna pioneira e representativa da sociedade na prática da igualdade perante Deus, na reforma de instituições de poder, na aceitação da responsabilidade mútua de indivíduos uns pelos outros.
Fontes de pesquisa e reflexão:
· A responsabilidade da Igreja pela sociedade (H. Richard Niebuhr);
· O que um cristão precisa saber sobre a Teologia da Prosperidade (Claudio de Oliveira Ribeiro.
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