Alegria que se renova e comunica
Zacarias, vendo o dia do Senhor, convida a
vitoriar o Rei que chega «humilde, montado num jumento»: «Exulta de alegria,
filha de Sião! Solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei
vem a ti. Ele é justo e vitorioso» (9, 9).
Mas o convite mais tocante talvez
seja o do profeta Sofonias, que nos mostra o próprio Deus como um centro
irradiante de festa e de alegria, que quer comunicar ao seu povo este júbilo
salvífico. Enche-me de vida reler este texto: «O Senhor, teu Deus, está no meio
de ti como poderoso salvador! Ele exulta de alegria por tua causa, pelo seu
amor te renovará. Ele dança e grita de alegria por tua causa» (3, 17).
É a alegria que se vive no meio das pequenas coisas da vida
quotidiana, como resposta ao amoroso convite de Deus nosso Pai: «Meu filho, se
tens com quê, trata-te bem (...). Não te prives da felicidade presente» (Sir 14, 11.14). Quanta ternura paterna se
vislumbra por detrás destas palavras!
Há cristãos que parecem ter escolhido viver uma
Quaresma sem Páscoa. Reconheço, porém, que a alegria não se vive da mesma
maneira em todas as etapas e circunstâncias da vida, por vezes muito duras.
Adapta-se e transforma-se, mas sempre permanece pelo menos como um feixe de luz
que nasce da certeza pessoal de, não obstante o contrário, sermos infinitamente
amados.
Compreendo as pessoas que se vergam à tristeza por causa das graves
dificuldades que têm de suportar, mas aos poucos é preciso permitir que a
alegria da fé comece a despertar, como uma secreta mas firme confiança, mesmo
no meio das piores angústias: «A paz foi desterrada da minha alma, já nem sei o
que é a felicidade (…). Isto, porém, guardo no meu coração; por isso, mantenho
a esperança. É que a misericórdia do Senhor não acaba, não se esgota a sua
compaixão. Cada manhã ela se renova; é grande a tua fidelidade. (...) Bom é
esperar em silêncio a salvação do Senhor» (Lm 3, 17.21-23.26).
Jorge Mario Bergoglio, (Papa
Francisco)
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