AS PALAVRAS NA CRUZ



Como algumas árvores fragrantes que banham de perfume o próprio machado que as corta, o imenso Coração na Árvore do Amor derramou de Seu interior mais uma oração do que um grito — uma prece simples, doce e humilde de graça e perdão: 

Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem. (São Lucas 23,34)

Foi apenas a ignorância do enorme pecado que os pôs no âmbito de ouvir aquele som que vinha da cruz. Não é a ciência que salva: é a ignorância!

Ele intercedeu e ofereceu-Se pelo culpado. O sangue de Abel clamou pela ira de Deus para vingar o assassinato de Caim; o novo sangue de Abel derramado por irmãos invejosos da raça de Caim foi alçado para suspender a ira e implorar por perdão.

“Mulher, eis aí teu filho” (São João 19,26). 

Ele não o chamou de João; fazer isso significaria endereçar-se a ele como o filho de Zebedeu e de mais ninguém. Entretanto, anônimo, João representava toda a humanidade. Ao discípulo muito amado, disse: “Eis aí tua mãe” (São João 19,27).

Há dois grandes períodos na relação de Jesus e Maria; o primeiro vai do berço a Caná e o segundo, de Caná até a Cruz. No primeiro, ela era a mãe de Jesus; no segundo, passou a ser a mãe de todos a quem Jesus redimiu — em outras palavras, passou a ser a mãe dos homens.

Ela pôde dar Jesus à luz, jubilosa, em um estábulo, mas somente pôde dar à luz os cristãos no Calvário, em dores de parto grandes o bastante para torná-la a rainha dos mártires.

Tenho sede. (São João 19,28)

Completar a expiação do pecado requereria do Redentor que agora sentisse a sede até dos perdidos antes que o estivessem. Entretanto, para os salvos, também, havia sede — uma ânsia por almas. Alguns homens têm paixão por dinheiro; outros, por fama. A paixão Dele era por almas! “Dê-Me de beber” queria dizer “Dê-me teu coração”. A tragédia do amor divino pela humanidade é que em Sua sede os homens Lhe deram vinagre e fel.

Na bela economia divina da Redenção, as mesmas três coisas que cooperaram na expulsão do homem do Paraíso foram partilhadas na Redenção. Para o desobediente Adão, havia um novo Adão obediente; para a orgulhosa Eva, havia a nova Eva humilde, a Virgem Maria; para a árvore do Jardim, havia agora o madeiro da Cruz. 

Retomando o plano divino e tendo provado o vinagre que cumpriu a profecia, pronunciou nesse momento o que, no original, possui uma só palavra: 

Tudo está consumado. (São João 19,30)

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