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Mostrando postagens de março, 2022

As falsas alegrias

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  Se repararmos bem, tudo o que fazemos tem em vista satisfazer a sede de felicidade que se aninha em todo ser humano. E a tragédia do homem consiste precisamente em procurar satisfazê-lá em fontes falsas ou insuficientes. “Privado deste alimento interior que eras Tu, meu Deus, sentia-me vazio, cheio de tédio, e a alma chagada lançava-se fora de ti, àvida de acalmar-se miseravelmente, em contato com as criaturas, a sede que a devorava.” Santo Agostinho  O homem tem sede de Deus e ignora-o. Busca a imagem perdida da fonte original. A fonte cria a sede. E a sede leva-nos à fonte. Deus criou-nos com essa sede de felicidade, e é ela que empurra-nos para Ele. Por isso que as decepções e até as frustrações podem ser extraordinariamente úteis: ajudam-nos, como a um animal sedento, a apurar o nosso instinto religioso, que parece nos dizer: Não! Não é o charco de satisfação dos sentidos, da vaidade e da glória vã que há de satisfazer-me! Não; elas não conseguem preencher esse desejo im...

Deus acolhe quem está afastado e integra quem está em casa

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  O povo de Israel celebra a sua primeira Páscoa na terra prometida em Gilgal (Josué 5,9-12) nas imediações da cidade de Jericó. Foi um momento festivo em que todos foram convidados a esquecer a vergonha da escravidão no Egipto e a alimentar-se dos primeiros produtos da terra. Fizeram uma experiência nova: o maná, alimento do deserto, deixou de cair porque já não tinham necessidade dele na terra que começaram a cultivar. A partir deste dia começou uma nova vida. À medida que nós também caminhamos para a Páscoa, vamos desmontando uma série de esquemas que construímos e pelos quais orientávamos muitos dos nossos comportamentos. O paradigma do êxodo do povo de Israel, que foi tirado do Egito, que passou da escravidão para a liberdade na sua terra, continua a estar presente na nossa caminhada e a ser uma referência em todas as Quaresmas. Tem que haver mudanças na vida: abandonar concepções e estilos de vida do passado e começar de novo. A palavra de Deus, apresentando-nos hoje a parábo...

Procuremos conhecer o Senhor: a sua vinda é certa como a aurora

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  “É preciso saber segui-lo para reconhecer o Senhor.”  Oseias 6,1-6 Esta página extraordinária de Oseias é um convite e uma tomada de consciência sobre quem é Deus e o que o homem pode esperar dele. Não se pode confundir Deus com o homem nem reduzi-lo à medida das nossas ideias e ações. Deus é um Deus de misericórdia, está próximo do homem e pode ser conhecido. Com Deus o homem não pode ter uma relação ritualista, exterior, superficial. Ele não quer sacrifícios nem holocaustos, quer o coração, o amor, quer o homem. O homem é como nevoeiro da manhã, como orvalho da madrugada, nas suas relações com Deus. Deus não é assim, ele é como a aguaceiro de outono e chuva de primavera que empapa a terra e a fecunda e convida o homem a ser assim. Três dias é quanto basta para transformar a realidade do homem na realidade de Deus. O mistério Pascal de Jesus, que celebraremos liturgicamente em breve, é representado por Oseias nesta profecia dos três dias. “Ao fim de dois dias, Ele nos fará ...

Como encontrar paz e serenidade no meio das turbulências da vida?

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  Houve o monte da tentação (Domingo passado) mas há também o monte como lugar de oração e de transformação. O monte é o lugar de onde o horizonte é muito mais vasto e onde podemos contemplar o céu e contar as estrelas (Abraão, cf Gn 15). É o lugar ideal para sair do nível do nosso cotidiano e fazer a experiência do transcendente. A nossa vida, como a de Abraão ou a dos apóstolos, é marcada pela monotonia e pelo cansaço, pelo sofrimento, pelas doenças, pela guerra e pelas injustiças,… Por tantas situações para as quais não vemos uma saída imediata… Queríamos ver mudanças, nem que fosse só a luz ao fundo do túnel para experimentarmos esse pouco de luz, de claridade que nos leve a acreditar numa vida mais radiante. Mas, quando nos parece que estamos para sair de uma dificuldade, deparamos logo com outra, talvez ainda mais desafiadora do que aquela que pensamos que ficara para trás… Experimentar Deus – Estas podem ser as situações em que Jesus nos convida a subir ao monte, não para as...

A vida vem de “toda a palavra que sai da boca de Deus”

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  Evangelho: Lucas 4,1-13 “Jesus, no deserto, era guiado pelo Espírito e foi tentado.” Entramos na Quaresma sob o espectro da guerra. Como é que isto pode ter acontecido? É a pergunta que fazemos sem, contudo, encontrar respostas… Damos de caras com o mal e com as suas consequências.  A quarta-feira de cinzas levou-nos a reconhecer que somos pó e que é necessário converter-se e acreditar no Evangelho. Porque, de fato, a nossa condição humana é limitada e finita. Tantas vezes queremos e fazemos o que não devíamos, e não fazemos o que devíamos.  As tentações de Jesus narradas no Evangelho são as nossas tentações, a presença do mistério do mal em nós e a representação da sua força sedutora… O mal atrai, seduz, mobiliza e traz consigo a falta de coerência, a corrupção e as forças destruidoras; procura-se a riqueza, o domínio, o orgulho, o prestígio, a segurança própria sem pensar nas consequências para os outros… A guerra revela tudo isto e muito mais… 1. Se és o Filho de Deu...