Desafios para Pais e Educadores Cristãos: A Manipulação da Linguagem e a Crise de Valores
**Introdução: O Uso da Razão e a Formação de uma Sociedade Comprometida com a Verdade**
A sociedade contemporânea enfrenta uma crise cultural e filosófica profunda, onde a manipulação da linguagem e a promoção do relativismo desencadearam uma ruptura com os princípios de verdade, bem comum e justiça. Herdeira de uma filosofia que colocou o subjetivismo acima da realidade objetiva, a civilização atual se vê diante de dilemas éticos e morais sem precedentes, marcados pelo individualismo, hedonismo e pela desintegração dos valores fundamentais que sustentam o tecido social. Essa crise tem raízes históricas na modernidade filosófica, particularmente na influência de René Descartes e sua ênfase na subjetividade como fonte primária de conhecimento, o que abriu as portas para um uso desonesto e manipulativo da linguagem.
A visão tomista da razão, que valoriza a busca pela verdade objetiva através do realismo e da ordem natural, oferece um caminho para a formação de uma sociedade mais comprometida com a verdade e o bem comum. Para São Tomás de Aquino, o processo racional não é uma construção individualista, mas uma faculdade da alma humana que, ao ser guiada pela realidade objetiva e pelos princípios morais, pode levar o indivíduo e a sociedade à plenitude do bem. Este artigo propõe um retorno à filosofia tomista e aos fundamentos que construíram a civilização medieval cristã, onde a união entre fé e razão, o cultivo das virtudes e a valorização da comunidade foram os pilares que geraram uma cultura comprometida com o bem comum e a justiça.
Do ponto de vista tomista, a razão desempenha um papel fundamental na busca da verdade e no conhecimento da realidade. Para São Tomás de Aquino, o uso da razão não apenas auxilia o ser humano a compreender o mundo ao seu redor, mas também a conhecer a Deus e os princípios morais que governam a vida humana. A razão humana, para Tomás, é uma das principais capacidades que distinguem o ser humano dos outros seres vivos.
Aqui está o processo que ocorre na alma humana segundo a filosofia tomista, focando especialmente no uso da razão:
### 1. **A Alma como Forma do Corpo**
Na visão tomista, o ser humano é composto de corpo e alma, sendo a alma a forma substancial do corpo. Ou seja, a alma dá ao corpo suas capacidades, como o movimento, a percepção e, no caso dos seres humanos, a razão. A alma humana é espiritual e imortal, e ela está no centro da capacidade racional do homem.
### 2. **A Capacidade Intelectiva**
A alma humana tem dois principais poderes ou faculdades:
- **O Intelecto** (razão): que se ocupa do conhecimento, tanto das verdades naturais quanto das sobrenaturais.
- **A Vontade**: que se dirige ao bem, uma vez que o intelecto identifica o que é verdadeiro ou bom, a vontade escolhe ou inclina-se para ele.
### 3. **O Processo de Conhecimento: Dos Sentidos ao Intelecto**
São Tomás de Aquino defende que o conhecimento humano começa nos **sentidos**, um ponto central de sua filosofia aristotélica. O processo do uso da razão segue basicamente três etapas:
- **Percepção Sensível (Fase Sensível)**: O ser humano recebe impressões do mundo através dos cinco sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar). O intelecto não começa com ideias inatas (como defendido por Descartes), mas com os dados sensoriais. Essas impressões sensíveis são processadas pela **imaginação** e pelo **cogitativo**, que organizam as informações.
- **Intelecto Agente**: Após a coleta das impressões sensíveis, entra em ação o **intelecto agente**. Este poder intelectual abstrai as formas universais dos dados sensoriais. Ou seja, o intelecto separa o que é acidental e contingente (por exemplo, o tamanho, cor, e outras características externas) e retém a essência ou natureza daquilo que foi percebido. Por exemplo, ao ver uma árvore específica, o intelecto abstrai o conceito universal de "árvore", que é comum a todas as árvores.
- **Intelecto Possível**: O **intelecto possível** é a parte da alma que recebe as formas abstratas e as armazena. Ele é o “recipiente” do conhecimento, onde as verdades e as essências universais (como o conceito de "árvore") são guardadas e refletidas.
### 4. **O Juízo e a Raciocinação**
Depois que o intelecto abstrai e guarda os conceitos universais, ele passa a **julgar** esses conceitos e a **raciocinar** sobre eles. O juízo é a operação intelectual que afirma ou nega algo sobre a realidade, como por exemplo: "Esta árvore é alta" ou "O bem deve ser feito". O raciocínio, por sua vez, é o processo de ligar juízos e formar conclusões, como em um silogismo: "Todo homem é mortal. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal."
Essa etapa de raciocínio é onde a razão mostra seu poder, uma vez que permite ao homem alcançar verdades abstratas, resolver problemas e formular juízos morais.
### 5. **A Conformidade entre a Razão e a Realidade**
Um dos aspectos centrais da epistemologia tomista é a ideia de que o intelecto humano **corresponde à realidade externa**. O conhecimento é uma **correspondência** entre a mente e o objeto conhecido. A verdade, para São Tomás, é a adequação do intelecto à realidade: "Veritas est adæquatio intellectus et rei". Ou seja, o que conhecemos intelectualmente deve corresponder ao que realmente existe fora da nossa mente.
### 6. **A Vontade e a Escolha Moral**
A razão, uma vez que conhece a verdade e o bem, guia a **vontade** para escolher o que é correto. A vontade, no entanto, permanece livre. Ela pode escolher o bem ou o mal, dependendo de sua conformidade ou afastamento das verdades intelectuais. Se a vontade se inclina ao bem corretamente discernido pela razão, o ser humano age com **virtude**. Se a vontade escolhe o que é irracional ou mau, ocorre o pecado ou vício.
### 7. **O Papel da Razão na Vida Espiritual**
Além de ser o meio para conhecer o mundo e as verdades naturais, a razão também desempenha um papel importante no conhecimento de Deus e nas questões morais. Para Tomás de Aquino, a razão pode nos levar ao conhecimento da existência de Deus, embora o conhecimento pleno de Deus só seja possível pela **revelação divina** e pela **fé**. A razão e a fé, portanto, são complementares, e não contraditórias.
O Uso da Razão como Caminho para a Verdade e o Bem
O uso da razão, na perspectiva tomista, é fundamental para a vida humana porque leva o homem a conhecer a verdade sobre o mundo, sobre si mesmo e sobre Deus. A alma humana, através do intelecto, parte dos dados sensoriais, abstrai as essências universais e raciocina sobre elas, sempre buscando a verdade. Ao agir conforme a verdade e o bem conhecidos, o homem se torna virtuoso. Assim, o processo racional é um caminho para a realização plena da vida humana e para a união com Deus.
Para formar pessoas mais comprometidas com a verdade, o bem comum e a justiça, é necessário resgatar o uso autêntico da razão, como proposto por São Tomás de Aquino. Ao cultivar uma visão realista da existência, onde a verdade está ancorada no ser e não em construções subjetivas, e ao praticar as virtudes que orientam a vida humana para o bem, podemos reconstruir os fundamentos morais e intelectuais de uma sociedade mais justa e coesa.
Neste artigo, propomos caminhos práticos e filosóficos baseados nos princípios tomistas e na tradição clássica, que oferecem respostas para os desafios culturais e filosóficos de nosso tempo. Por meio da redescoberta da filosofia clássica, da prática das virtudes, da valorização da família e da comunidade, e de uma educação sólida, a sociedade contemporânea pode reencontrar seu compromisso com a verdade e o bem comum, revertendo assim o caos cultural que a aflige.
Como a sociedade atual pode formar pessoas mais comprometidas com a verdade, o bem comum e a justiça?
A sociedade contemporânea enfrenta uma crise cultural e filosófica profunda, enraizada na manipulação da linguagem e na dissimulação de princípios gnósticos que influenciaram o pensamento moderno, sobretudo a partir de René Descartes. Sua filosofia, marcada pelo subjetivismo e pela dúvida metódica, promoveu uma ruptura com a tradição clássica, onde a verdade era buscada no ser e na realidade objetiva, e não no indivíduo.
A partir daí, a linguagem passou a ser usada não apenas como meio de comunicação e busca da verdade, mas também como ferramenta de manipulação, distorcendo a realidade e criando narrativas que promovem o relativismo, o individualismo e o hedonismo. Este cenário, herdeiro de uma filosofia que desconsidera a razão clássica e a virtude, gerou um ambiente onde o bem comum foi abandonado em favor de interesses pessoais e ideológicos, resultando na desintegração de valores fundamentais como a vida, a família e a comunidade.
A crise atual, portanto, tem suas raízes na desonestidade intelectual e no uso da linguagem para enganar e manipular, distanciando a sociedade da busca pela verdade e pelo bem comum, pilares da civilização medieval cristã.
Conclui-se que, Descartes e seu impacto na filosofia moderna, com foco na manipulação da linguagem e a dissimulação gnóstica, dá origem aos desafios culturais e filosóficos que enfrentamos na sociedade contemporânea. Descartes, ao introduzir o subjetivismo e o princípio de que a verdade deve ser buscada no indivíduo, ajudou a desencadear uma série de problemas éticos e sociais que hoje dominam o pensamento moderno: o relativismo, a desconexão com a verdade objetiva e a perda da noção de virtude.
Diante deste caos cultural que valoriza o individualismo, o hedonismo e a manipulação, é possível olhar para os fundamentos filosóficos que formaram a sociedade medieval, uma sociedade baseada na fé e na razão, e encontrar nela práticas e caminhos que podem reverter este cenário contemporâneo.
Aqui estão algumas práticas e caminhos filosóficos que a sociedade atual pode adotar para buscar uma cura cultural:
### 1. **Redescobrir a Filosofia Clássica e Tomista**
- **Retorno à Filosofia Aristotélico-Tomista**: Uma das chaves para reverter o caos cultural é redescobrir a filosofia de Aristóteles e São Tomás de Aquino, que defende o realismo metafísico e a ideia de que o ser tem uma ordem e uma finalidade. Ao contrário do subjetivismo cartesiano, o realismo tomista ensina que a verdade não está no indivíduo, mas no ser, na realidade objetiva que deve ser conhecida e vivida com retidão. Recuperar essa visão ordenada da natureza e da realidade, onde o ser humano é parte de uma criação ordenada por Deus, ajuda a formar uma cultura que busca o bem comum.
- **Ato de Ser e a Analogia do Ser**: A filosofia tomista, especialmente no que tange ao "ato de ser" (actus essendi), nos ensina que o ser é analógico e que a existência das coisas tem um fundamento em Deus. Essa visão nos chama a respeitar a ordem natural e moral do universo, rejeitando o relativismo moderno. A analogia do ser ajuda a sociedade a buscar a verdade nas coisas e não nas construções ilusórias ou convenientes.
### 2. **Resgatar as Virtudes Clássicas e Cristãs**
- **Educação Moral e Virtuosa**: A sociedade medieval era fundada na prática das virtudes cardeais (prudência, justiça, fortaleza e temperança) e das virtudes teologais (fé, esperança e caridade). Essas virtudes moldaram indivíduos que agiam com responsabilidade e compromisso com o bem comum. A cultura atual, que valoriza o "foge da dor e busque o prazer", precisa urgentemente de uma revalorização da educação moral baseada nessas virtudes. Isso formaria pessoas mais comprometidas com a verdade, o bem comum e a justiça.
- **Prudência e Responsabilidade no Uso da Linguagem**: Contra a manipulação e as trapaças linguísticas denunciadas no pensamento cartesiano, a virtude da prudência deve ser cultivada. A linguagem deve ser usada com honestidade e integridade para descrever a realidade e não distorcê-la para interesses subjetivos ou manipuladores. Ensinar essa prudência desde cedo ajuda a combater a desonestidade intelectual que permeia muitos discursos públicos e acadêmicos atuais.
### 3. **Reconstrução da Comunidade e da Família**
- **Valorização da Família como Escola de Virtudes**: A sociedade medieval via a família como a célula básica onde as virtudes eram cultivadas e a moralidade era transmitida. O colapso da família moderna, causado pelo hedonismo e pelo relativismo moral, resultou em uma geração descomprometida com o bem comum. Para reverter isso, é necessário promover políticas e práticas que fortaleçam as famílias como espaços de formação moral, de respeito à vida e à verdade.
- **Restabelecimento das Comunidades Locais**: A cultura medieval era caracterizada por comunidades locais que trabalhavam juntas pelo bem comum, o que se perdeu na sociedade moderna individualista e atomizada. A revitalização das comunidades e de uma vida social mais comprometida com o bem comum é essencial para restaurar o tecido social que foi destruído pelo egoísmo e pelo entretenimento desenfreado.
### 4. **Educação Filosófica e Teológica Sólida**
- **Formação Intelectual Baseada na Verdade**: Ao contrário da educação moderna, que muitas vezes adota o relativismo e o pragmatismo como fundamentos, é necessário promover uma educação que recupere a busca pela verdade objetiva. Isso inclui a introdução de currículos que ensinem filosofia clássica, teologia cristã e uma visão moral sólida que respeite a dignidade da pessoa humana e o bem comum.
- **Reforma das Centros de formação e educação**: Inspirando-se nas universidades medievais, que foram centros de saber e virtude, seria importante reformar as instituições de ensino superior modernas para que voltem a ser locais de busca pela verdade e pelo conhecimento, em vez de centros de doutrinação ideológica ou manipulação política.
### 5. **Revalorização da Tradição e da História**
- **Estudo da História como Fonte de Sabedoria**: A modernidade frequentemente descarta o passado, promovendo a ideia de progresso contínuo e absoluto. No entanto, a sociedade medieval valorizava a tradição e a história como fontes de sabedoria. Reverter o caos cultural atual exige que recuperemos essa visão de respeito ao passado, aprendendo com os acertos e erros de nossos antecessores. Como o Eclesiastes ensina, há mais sabedoria na casa do morto do que na do recém-nascido; olhar para a história com responsabilidade nos ajuda a tomar decisões mais sábias no presente.
### 6. **Fortalecimento da Igreja e da Fé Cristã**
- **Retorno à Fé e Razão**: A Igreja Católica, durante a Idade Média, conseguiu manter uma unidade entre fé e razão. Este equilíbrio é fundamental para que a sociedade moderna retome um caminho ordenado e sábio. Sem uma fé fundamentada na razão, a cultura tende a cair no irracionalismo, no sentimentalismo e na tirania do relativismo. Promover uma fé enraizada na verdade objetiva e numa visão clara do ser humano é essencial para reverter o caos atual.
- **Defesa da Moral Cristã nas Políticas Públicas**: A sociedade medieval era informada pela moral cristã, que permeava as instituições e leis. Para restaurar o compromisso com o bem comum, seria necessário influenciar as políticas públicas com base nesses princípios morais, combatendo as leis que promovem a destruição da vida, da família e do casamento.
### Conclusão:
A sociedade contemporânea precisa urgentemente de uma reforma cultural profunda, e essa reforma deve passar pela recuperação dos fundamentos que construíram a civilização medieval: a filosofia clássica, as virtudes cristãs, a vida comunitária e a educação baseada na verdade. Somente ao retomar esses caminhos filosóficos e práticos é que poderemos reverter o caos cultural atual e formar uma sociedade mais justa, responsável e comprometida com o bem comum.
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