Desafios Cotidianos e Fé: Como Enfrentar a Cultura Secular com Valores Cristãos

 



**Caminhando na Terra Como Cidadãos do Céu**


“Os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios que os filhos da luz.” Evangelho: Lucas 16,1-8


Paulo nos lembra (Filipenses 3,17-4,1), com lágrimas, de uma realidade que enfrentamos em nosso caminhar cristão: muitos se desviam da cruz, deixando-se levar pelas coisas do mundo e vivendo apenas para o que lhes traz prazer imediato. Ele nos chama a sermos seus imitadores, focando nossa vida em Cristo e na esperança de nosso verdadeiro lar, o céu. Ser cidadão do céu exige de nós uma vida que vá além do que é imediato, passageiro e egoísta, e é Cristo quem pode transformar nosso corpo para sermos participantes de Sua glória.


Nosso caminho é cheio de tentações para viver de forma superficial, buscando somente o conforto, o prazer, ou o sucesso material. Esses desejos podem tornar-se nosso "deus", desviando nosso coração da cruz e das promessas eternas. Mas Paulo insiste que nosso propósito vai além: somos convidados a viver para o Reino de Deus, aguardando nosso Salvador e Senhor, que nos transformará e nos levará ao lar eterno. Assim, somos chamados a abraçar as exigências de nossa fé e a encontrar na cruz a fonte de nossa renovação e de nosso destino.


Jesus também nos ensina com a parábola do administrador, (Lucas 16,1-8) que foi elogiado não pela desonestidade, mas pela astúcia. Ele sabia usar as oportunidades a seu favor, buscando garantir um futuro. Assim como o administrador foi esperto em assegurar uma “casa” aqui na terra, nós, como discípulos, devemos administrar nossa vida e nossos bens com inteligência e retidão, sempre de olhos no Reino. 


Nossa vida e nossos dons são oportunidades para espalhar as bênçãos do Reino de Deus e garantir que todos experimentem a alegria de estar na "casa do Pai." Se empregamos tanto esforço para assegurar bens materiais, não deveríamos ser ainda mais dedicados para conquistar o que é eterno?


Que possamos administrar nossas vidas e escolhas com discernimento, e buscar sempre o supremo bem de estar eternamente na casa do Pai (Sl 122). Que nossa vida seja um reflexo do Reino, onde nossas escolhas e nosso caminhar nos aproximem de Cristo e levem outros a se encontrarem com Ele.



Desafios Cotidianos e Fé: Como Enfrentar a Cultura Secular com Valores Cristãos



Notem os animais de estimação ! Saciados buscam apenas o conforto, até nova necessidade. Vocês tem ou tiverem animais de estimação? 


Eles vivem o momento presente, reagindo aos estímulos imediatos ao seu redor sem a necessidade de planejar ou de buscar significado mais profundo. Seus instintos de sobrevivência e afeição são direcionados para garantir sua segurança e conforto. 


Naturalmente, essa simplicidade proporciona uma convivência autêntica e afetuosa conosco. Essa relação de entrega e alegria traz inúmeros benefícios para os humanos, como redução do estresse, sensação de bem-estar, e uma conexão profunda que desperta o carinho e a responsabilidade.


E o ser humano como vive?


Enquanto nossos amigos animais são guiados por instintos naturais, a natureza humana, por sua vez, exige um desenvolvimento mais complexo. Para alcançar uma vida plena, precisamos buscar um crescimento integral que inclui o cuidado físico, por meio da saúde; o desenvolvimento cognitivo e emocional, para lidar com as adversidades e emoções; e, principalmente, o desenvolvimento espiritual, onde encontramos propósito e direção.


Esse crescimento exige que nos tornemos intencionais em nossas escolhas, discernindo entre o que é passageiro e o que é duradouro.


A vida é uma sucessão de atividades; umas visam a subsistência e outras o bem-estar. Nossa jornada não é linear nem plana; há vários caminhos e tipos de “trilhas”. Facilmente nos distraímos, nos perdemos no caminho e “andamos em círculos”. 


Sem uma bússola, um objetivo muito claro, que leve a um destino de excelência e felicidade, desistimos e ficamos no modo “animais irracionais”: foge da dor e busque o prazer.


Somos seres históricos; há um passado riquíssimo de pessoas que construíram, conquistaram e transformaram a civilização. Com legados fantásticos! Jesus Cristo é o principal. Precisamos conhecer, nos identificamos com eles e assumir uma identidade que permita continuar no Caminho que, como diz o Salmo 1,3: “Ele é como a árvore plantada à margem do rio, que dá seu fruto no tempo certo. Suas folhas nunca murcham, e ele prospera em tudo que faz.”


Precisamos querer ser discípulo de Cristo, o homem perfeito, imitá-lo, segui-Lo (comunhão com a Igreja) e servi-Lo através de nossas vocações e dons - a começar na família.



**A Fé e a Cultura Secular: Encontrando Sentido e Propósito no Cotidiano**


Em um mundo onde os valores cristãos enfrentam constantes desafios, especialmente com a expansão de celebrações culturais como o Halloween, as famílias cristãs se deparam com uma questão crucial: como preservar a identidade cristã e incutir nos filhos um discernimento que os fortaleça na fé, sem desrespeitar aqueles que escolhem diferentes caminhos? 


Assim como nossos animais de estimação vivem buscando conforto e reagindo a necessidades momentâneas, nós, seres humanos, podemos facilmente nos perder quando nossa vida é guiada apenas pelo que é imediato. No entanto, nossa natureza exige mais que a simples resposta a estímulos e conforto. Nossa essência busca significado e direção, um caminho que vai além do que é passageiro, conduzindo-nos a uma vida plena e ancorada em valores eternos.


A cultura secular muitas vezes nos oferece atalhos e alternativas que apelam para as necessidades imediatas e prazeres momentâneos. Esses atalhos, porém, nos deixam vulneráveis a perder o senso de propósito e nos afastar dos valores que nos fortalecem. Em nossa jornada como cristãos, precisamos de uma bússola que nos conduza além do que é temporário, ajudando-nos a discernir o que realmente é duradouro e essencial. Sem esse foco, corremos o risco de nos desviar e, como “animais irracionais”, viver apenas pelo que nos traz prazer imediato, afastando-nos do propósito maior de nossa vida.


Para as famílias cristãs, a orientação torna-se, portanto, um compromisso contínuo de educar com sabedoria. A Igreja deve apoiar os pais a cultivar nos filhos uma identidade fundamentada em Cristo, ajudando-os a resistir aos apelos do secularismo sem menosprezar ou julgar aqueles que trilham outros caminhos. Essa abordagem respeitosa e fiel ao Evangelho pode ser a base para um diálogo amoroso e respeitoso, onde os valores cristãos são vividos de maneira autêntica e corajosa.


No processo de inculturação, o caminho não é rejeitar ou condenar as influências externas, mas transformá-las, reorientando-as para Cristo. Como uma árvore plantada junto ao rio, que produz frutos na estação própria (Sl 1,3), nossa fé deve ser nutrida e crescer firmemente, tornando-se um testemunho vibrante de vida e propósito.


A cultura secular pode oferecer uma ilusão de realização rápida, mas, como ensina o poeta Rainer Maria Rilke: “A única jornada é aquela dentro de nós mesmos.” Esta jornada é o convite para o crescimento integral — físico, emocional, intelectual e espiritual — que nos leva ao encontro de nossa verdadeira identidade em Deus. Esse desenvolvimento profundo, que também promove uma comunhão autêntica com Deus e o próximo, permite que estejamos no mundo sem ser do mundo, iluminando nossos lares com uma fé que não se intimida, mas brilha para todos ao redor.


Em última análise, nosso propósito é seguir o exemplo de Cristo. Como afirmou Santo Agostinho: “Tu nos fizeste para Ti, e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti.” Na inquietude e nos desafios da vida, encontramos oportunidades de crescimento e uma lembrança de que nosso verdadeiro lar está em Deus. Com Cristo como nossa bússola, somos fortalecidos a enfrentar as influências passageiras com um coração que repousa em propósitos eternos e em um amor que tudo transforma.



Um exemplo de cultura popular


A tradição do "Pão por Deus" é uma celebração popular portuguesa que acontece em 1 de novembro, o Dia de Todos os Santos. Essa prática, com raízes antigas, envolve crianças que vão de porta em porta pedindo “o pão por Deus” e recebendo doces, pão, bolos, frutas e até pequenas moedas. A expressão “pão por Deus” remonta a uma oração de agradecimento e é uma forma de pedir bênçãos e ajuda no início do inverno, uma estação que antigamente simbolizava desafios para muitas famílias.


Originalmente, o costume era marcado pela solidariedade e pelo ato de dar, em que se compartilhava pão e outros alimentos com os mais pobres. Em 1755, após o grande terremoto de Lisboa, a tradição ganhou um novo significado. A população afetada pela tragédia saía pedindo alimentos e suprimentos para se reerguer, mantendo viva essa prática de solidariedade e união.


Hoje, o "Pão por Deus" ainda se mantém em várias regiões de Portugal, especialmente em pequenas vilas e cidades. As crianças saem com sacos decorados, cantando versos típicos e esperando receber guloseimas em um clima de alegria e gratidão. É uma tradição que celebra a generosidade, o sentido de comunidade e mantém viva a memória de uma prática de ajuda mútua, enquanto lembra o Dia de Todos os Santos e honra as almas dos que já partiram.



*A prática da Igreja Católica de transformar celebrações e ritos pagãos em ritos e festividades cristãs* 


Esta abordagem faz parte de um processo de inculturação, em que a Igreja busca adaptar e traduzir o Evangelho às diversas culturas, permitindo que os valores cristãos se integrem a costumes e símbolos já existentes. Essa estratégia, usada desde os primeiros séculos, possibilita que o cristianismo seja compreendido de maneira mais próxima e acessível para diferentes povos, sem perder a essência da fé.


Do ponto de vista teológico, o valor dessa prática está na capacidade de revelar a ação de Deus dentro da própria cultura. Ao integrar elementos culturais, a Igreja afirma que o Evangelho é universal, podendo se manifestar em qualquer contexto cultural sem perder seu núcleo espiritual. A teologia vê essa adaptação como uma forma de "redenção" das práticas pagãs: o que antes servia a outros propósitos é agora elevado para expressar e celebrar a fé em Cristo. Isso permite uma espécie de "batismo cultural", em que elementos locais são transformados e direcionados para o louvor e a glória de Deus.


Historicamente, a Igreja aproveitou as datas, símbolos e práticas que os povos já conheciam e recontextualizou esses elementos, atribuindo-lhes significados cristãos. Um exemplo claro é a celebração do Natal, estabelecida em 25 de dezembro, data em que alguns povos celebravam o solstício de inverno ou festividades ligadas ao "Sol Invicto". Ao transformar esta data em uma celebração do nascimento de Cristo, a Igreja conseguiu redirecionar uma festa popular para um propósito cristão, aproveitando o simbolismo de Cristo como a "Luz do Mundo".


Esse processo de adaptação pastoral também reflete a ideia de que a fé não deve ser uma imposição, mas um convite que respeita e dialoga com o que é familiar para as pessoas. Em vez de rejeitar completamente os costumes locais, a Igreja optou por incluí-los, demonstrando que a graça de Deus pode ressignificar qualquer aspecto da vida humana. Essa abordagem não só facilita a aceitação do cristianismo, mas também enriquece a prática de fé, oferecendo novas formas de vivenciar e celebrar os mistérios cristãos.


Em síntese, o valor teológico de transformar práticas pagãs em celebrações cristãs reside na universalidade e na capacidade do cristianismo de dialogar com a diversidade cultural, reafirmando que Cristo pode ser encontrado e celebrado em qualquer parte do mundo, dentro de qualquer contexto cultural, em uma expressão de respeito e inclusão que enriquece a vida de fé e promove um encontro profundo com Deus.



**Inculturação: Transformar e Enriquecer com celebração e ensino adequado**


A sociedade contemporânea tem visto um ressurgimento de práticas e celebrações que se originaram de tradições pagãs, como o Halloween, que está cada vez mais popular em vários países, inclusive entre as famílias cristãs. Esse fenômeno traz certos riscos e desafios, especialmente na formação da identidade cristã e na transmissão dos valores da fé às crianças e aos jovens.


*### Riscos e Efeitos do Retorno de Práticas Pagãs*


A celebração do Halloween, por exemplo, pode ser vista como uma ocasião que, embora seja amplamente promovida como uma diversão inofensiva, possui elementos que têm o potencial de confundir valores cristãos. A fascinação por temas de terror, morte e superstição, quando consumida sem uma base crítica, pode trivializar ou distorcer a visão cristã sobre a vida, a morte e a espiritualidade. Em uma cultura em que o sobrenatural e o místico são apresentados de forma superficial ou distorcida, existe o risco de criar uma relação insensível ou até mesmo atraída pelo oculto.


Além disso, o foco no materialismo e no consumo é um efeito colateral presente na celebração do Halloween, que estimula as famílias ao consumo de fantasias, doces e produtos associados. Esse materialismo, quando não orientado, pode afastar as crianças e os jovens dos valores do Evangelho, promovendo a cultura da posse e do imediatismo.


*### Cuidados e Orientação para as Famílias Cristãs*


As famílias cristãs são chamadas a serem criteriosas na adoção de celebrações e tradições culturais, especialmente aquelas que podem obscurecer os valores da fé. Ao abordar a celebração do Halloween, por exemplo, é importante que os pais expliquem os significados originais e as distorções que essa celebração sofreu ao longo do tempo. A formação na fé pode e deve ocorrer por meio de conversas que ajudem os filhos a discernirem os elementos que estão em sintonia com os ensinamentos cristãos e aqueles que não são compatíveis com a fé que professam.


As famílias podem optar por dar à data um caráter cristão mais profundo, como lembrando a festividade do Dia de Todos os Santos, que ocorre em 1º de novembro. Enfatizar a vida dos santos e o chamado universal à santidade pode ser uma alternativa significativa, incentivando os filhos a conhecerem e se inspirarem em exemplos de virtude e bondade. 


*### Papel da Igreja na Orientação das Famílias*


A Igreja desempenha um papel fundamental na orientação das famílias a respeito dessas práticas, e sua abordagem deve estar enraizada no princípio da inculturação, ou seja, no diálogo crítico e respeitoso com a cultura popular. A Igreja pode auxiliar as famílias a discernirem práticas culturais que possam ser harmonizadas com os valores cristãos, enquanto orienta sobre a rejeição daqueles elementos que se opõem aos ensinamentos de Cristo.


Organizar celebrações alternativas em torno do Dia de Todos os Santos, com festas e atividades que apresentem os santos como verdadeiros modelos de vida, é uma forma de tornar essa data significativa e espiritualmente edificante. Eventos paroquiais, como “noites de luz” ou “festas dos santos”, podem ser realizados para dar um contraponto positivo ao Halloween, apresentando atividades de diversão saudável e de formação espiritual para as crianças e os jovens.


*### Inculturação: Transformar e Enriquecer*


Em vez de apenas condenar as práticas pagãs que voltam a emergir, a Igreja pode encorajar a inculturação, transformando e ressignificando tradições populares para que reflitam valores cristãos. Por exemplo, o desejo de celebrar a colheita ou o fim de uma estação, algo presente em muitos festivais de outono, pode ser uma ocasião para dar graças a Deus pela abundância, pela vida e pelas bênçãos recebidas. A Igreja também pode ensinar os fiéis a verem além das camadas superficiais das práticas culturais e a encontrarem nelas oportunidades para cultivar virtudes cristãs, como gratidão, caridade e fraternidade.


Em suma, a Igreja, ao orientar com sabedoria e amor, pode ajudar os fiéis a viverem no mundo sem se afastarem da essência do Evangelho. Ao valorizar o discernimento e o diálogo com a cultura, a Igreja conduz os cristãos a verem as tradições culturais sob a luz de Cristo, promovendo um testemunho vivo da fé na sociedade contemporânea.


A vida, muitas vezes, apresenta-se como uma série de atividades e decisões: algumas visando à subsistência, outras ao bem-estar e à realização pessoal. Mas, ao contrário de um caminho simples e direto, ela é cheia de desvios, atalhos e desafios que facilmente nos distraem, nos fazem perder o rumo e, às vezes, nos fazem sentir que estamos andando em círculos. Sem um propósito claro e uma "bússola" que aponte para a verdade, podemos nos render ao "modo animal": fugindo da dor e buscando apenas o prazer imediato, perdendo de vista a verdadeira paz.


Nosso percurso, contudo, deve se inspirar no legado das gerações que nos precederam e, acima de tudo, na vida e ensinamentos de Jesus Cristo, o modelo perfeito. Precisamos de um ponto fixo que transcenda o imediato, que se alinhe ao "rio da vida" descrito no Salmo 1, onde aquele que medita na lei do Senhor prospera como árvore plantada junto às águas, dando fruto no tempo certo e permanecendo firme.


Seguir a Cristo não significa uma vida isenta de dificuldades, mas uma vida onde cada obstáculo se torna uma oportunidade de fortalecimento e transformação. Como disse Santo Agostinho: “Tu nos fizeste para Ti, e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti.” Essa inquietude pode ser vista como uma fome de sentido que nos impulsiona para além do superficial, buscando uma realização duradoura no propósito divino.

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