«Não podemos nos calar»
Introdução
"Não podemos nos calar diante do que vimos e ouvimos" (Atos 4,20), exclamaram Pedro e João perante as autoridades que tentavam silenciá-los, uma declaração que ressoa com força na missão da Igreja Católica contemporânea.
Essa citação, destacada na encíclica Redemptoris Missio (1990) de São João Paulo II, encapsula o impulso evangelizador que tem marcado os esforços da Igreja desde o Concílio Vaticano II (1962-1965). Em um mundo marcado pela secularização, pelo relativismo e pela fragmentação espiritual, a Igreja não se retraiu, mas respondeu com vigor renovado, buscando a santificação dos fiéis, o retorno dos "desigrejados" e a conversão de muitos, incluindo protestantes. Este artigo, intitulado "Não podemos nos calar", explora como essa missão se desdobra por meio de iniciativas do clero e dos leigos — como a elaboração do Catecismo da Igreja Católica (1992), a redescoberta da ortodoxia patrística, e movimentos de evangelização como a Comunidade Canção Nova no Brasil — enquanto enfrenta reações hostis, especialmente da mídia progressista, diante de fenômenos como as lives de oração do Rosário às 4 horas da manhã.
À luz da Redemptoris Missio, examinaremos essas dinâmicas, propondo caminhos para ordenar a sociedade em direção ao bem comum, sem ceder à perseguição religiosa ou ao silêncio imposto.
Não podemos calar-nos » (At 4, 20)
Cristo proclamou-se Filho de Deus, intimamente unido ao Pai e, como tal, foi reconhecido pelos discípulos, confirmando as suas palavras com milagres e sobretudo com a ressurreição. A Igreja oferece aos homens o Evangelho, documento profético, capaz de corresponder às exigências e aspirações do coração humano: é e será sempre a « Boa Nova ». A Igreja não pode deixar de proclamar que Jesus veio revelar a face de Deus, e merecer, pela cruz e ressurreição, a salvação para todos os homens.
À pergunta porquê a missão?, respondemos, com a fé e a experiência da Igreja, que abrir-se ao amor de Cristo é a verdadeira libertação. N'Ele, e só n'Ele, somos libertos de toda a alienação e extravio, da escravidão ao poder do pecado e da morte. Cristo é verdadeiramente « a nossa paz » (Ef 2,14), e « o amor de Cristo nos impele » (2 Cor 5, 14), dando sentido e alegria à nossa vida. A missão é um problema de fé, é a medida exacta da nossa fé em Cristo e no Seu amor por nós.
A tentação hoje é reduzir o cristianismo a uma sabedoria meramente humana, como se fosse a ciência do bom viver. Num mundo fortemente secularizado, surgiu uma « gradual secularização da salvação », onde se procura lutar, sem dúvida, pelo homem, mas por um homem dividido a meio, reduzido unicamente à dimensão horizontal. Ora nós sabemos que Jesus veio trazer a salvação integral, que abrange o homem todo e todos os homens, abrindo-lhes os horizontes admiráveis da filiação divina.
A salvação consiste em crer e acolher o mistério do Pai e do Seu amor, que se manifesta e oferece em Jesus, por meio do Espírito. Assim se cumpre o Reino de Deus, preparado já no Antigo Testamento, realizado por Cristo e em Cristo, anunciado a todos os povos pela Igreja, que actua e reza para que ele se realize de modo perfeito e definitivo.
O ministério de Jesus é descrito no contexto das viagens na Sua terra. O horizonte da missão antes da Páscoa concentra-se em Israel; no entanto, Jesus oferece um novo elemento de importância capital. A realidade escatológica não fica adiada para um remoto fim do mundo, mas está próxima e começa já a cumprir-se. O Reino de Deus aproxima-se (cf. Mc 1, 15), roga-se que venha (Mt 6, 10), a fé já o descobre operante nos sinais, isto é, nos milagres (cf. Mt 11, 4-5), nos exorcismos (cf. Mt 12, 25-28), na escolha dos Doze (cf. Mc 3, 13-19), no anúncio de Boa Nova aos pobres (cf. Lc 4, 18). Nos encontros de Jesus com os pagãos, fica claro que o acesso ao Reino se faz pela fé e conversão (cf. Mc 1, 15), e não por mera proveniência étnica.
S. João diz-nos que « Deus é amor » (1 Jo 4, 8.16). Todo o homem, por isso, é convidado a « converter-se » e a « crer » no amor misericordioso de Deus por ele: o Reino crescerá na medida em que cada homem aprender a dirigir-se a Deus, na intimidade da oração, como a um Pai (cf. Lc 11, 2; Mt 23, 9), e se esforçar por cumprir a Sua vontade (cf. Mt 7, 21).
### **A Encíclica *Gaudium et Spes* e o Ateísmo**
A *Gaudium et Spes* (Constituição Pastoral sobre a Igreja no Mundo Moderno), promulgada em 7 de dezembro de 1965 pelo Papa Paulo VI, é um documento chave do Concílio Vaticano II que busca dialogar com o mundo contemporâneo, incluindo os desafios da secularização e do ateísmo. No que tange ao ateísmo, o texto (especialmente nos números 19-21) oferece uma análise pastoral e teológica, evitando condenações simplistas e propondo um exame das causas e formas dessa negação de Deus.
- **Diagnóstico do Ateísmo**: A *Gaudium et Spes* reconhece o ateísmo como um dos "fenômenos mais graves do nosso tempo" (n. 19), destacando sua diversidade — desde o ateísmo sistemático até formas mais práticas ou indiferentes. O documento não o trata como uma ameaça a ser apenas combatida, mas como um desafio que exige compreensão e resposta pastoral.
- **Causas Identificadas**: O texto aponta várias razões para o ateísmo: a rejeição de uma imagem distorcida de Deus (e.g., um Deus tirânico ou distante), o progresso científico que parece "explicar" o mundo sem necessidade de Deus, o desejo de autonomia humana exacerbada, e os escândalos dos cristãos que, por suas falhas, afastam outros da fé (n. 19).
- **Resposta da Igreja**: Em vez de mera refutação, a Igreja propõe um diálogo com os ateus, reconhecendo valores humanos em suas posturas (e.g., busca pela justiça), mas insistindo na centralidade de Deus como fundamento da dignidade humana e do bem comum (n. 21). A solução envolve purificar a fé de erros e testemunhar a verdade cristã com autenticidade.
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### **UM FENÔMENO DE MUITAS CARAS**
Miguel A. Fuentes, em *Educação, Cultura e Maturidade*, oferece uma análise teológica e pedagógica do ateísmo, categorizando-o em formas distintas com base em suas raízes filosóficas e culturais.
1. **Ateísmo Marxista**
- **Definição**: Baseado no materialismo histórico de Karl Marx, esse ateísmo vê a religião como "o ópio do povo", uma construção social usada para alienar as massas e justificar a opressão econômica. Para Marx, Deus é uma ilusão criada pela classe dominante, e a revolução proletária eliminará a necessidade de crenças religiosas.
- **Relação com *Gaudium et Spes***: O documento reconhece essa forma ao mencionar sistemas que negam Deus em nome da "libertação humana" (n. 20), criticando-os por reduzirem o homem a uma dimensão material e desumanizá-lo ao rejeitar a transcendência.
2. **Ateísmo Racionalista e Cientificista**
- **Definição**: Fundado no iluminismo (e.g., Voltaire, Diderot) e no positivismo (e.g., Comte), esse ateísmo afirma que a razão e a ciência são suficientes para explicar a realidade, tornando a hipótese de Deus desnecessária ou irracional. O cientificismo extremo (e.g., Richard Dawkins) argumenta que o progresso técnico refuta a religião.
- **Relação com *Gaudium et Spes***: O texto aborda essa vertente ao notar que o "progresso das ciências" leva alguns a crer que "tudo pode ser explicado sem Deus" (n. 19), mas alerta que essa autonomia mal entendida separa o homem de seu fundamento último.
3. **Ateísmo Existencialista**
- **Definição**: Associado a pensadores como Jean-Paul Sartre e Albert Camus, esse ateísmo parte da ausência de um sentido intrínseco no universo. Para Sartre, "se Deus não existe, tudo é permitido", e o homem deve criar seu próprio significado em um mundo absurdo, rejeitando qualquer autoridade divina.
- **Relação com *Gaudium et Spes***: O documento identifica essa forma ao falar de uma "autonomia humana" que se torna "independência absoluta" (n. 20), levando ao desespero ou à negação de valores transcendentes, mas propõe que o sentido pleno da existência só se encontra em Deus.
4. **Ateísmo Axiológico ou Moral**
- **Definição**: Esse ateísmo surge da rejeição de normas morais impostas por uma autoridade divina, buscando uma ética autônoma baseada em valores humanos seculares (e.g., Nietzsche, com sua "morte de Deus"). Fuentes destaca que muitos negam Deus para evitar a responsabilidade moral ou justificar escolhas pessoais.
- **Relação com *Gaudium et Spes***: O texto menciona aqueles que negam Deus por desejarem uma "liberdade sem limites" (n. 19), associando isso a uma revolta contra a lei moral divina, mas insiste que a verdadeira liberdade está na obediência à verdade.
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### **Razões Pelas Quais os Ateus Chegam à Negação de Deus (Segundo Fuentes)**
Fuentes, em *Educação, Cultura e Maturidade*, identifica várias razões para a negação de Deus, que ecoam e ampliam as observações da *Gaudium et Spes*. Ele as organiza em causas intelectuais, morais e culturais, conectando-as às expressões do ateísmo:
1. **Causas Intelectuais**:
- **Racionalismo e Cientificismo**: A crença de que a ciência explica tudo leva a rejeitar Deus como uma "hipótese desnecessária" (e.g., Laplace: "Não preciso dessa hipótese"). Fuentes argumenta que isso reflete uma visão reducionista da realidade, ignorando dimensões metafísicas.
- **Filosofia Materialista**: O marxismo e o positivismo negam qualquer realidade além da matéria, vendo a religião como superstição. Fuentes critica essa limitação como uma falha em reconhecer a ordem do universo como sinal de um design divino.
2. **Causas Morais**:
- **Revolta Contra a Moral**: O ateísmo axiológico surge de uma recusa a aceitar normas divinas que restringem a liberdade individual. Fuentes cita Nietzsche como exemplo, onde a "morte de Deus" é uma libertação para criar valores próprios, mas alerta que isso leva ao niilismo (corrente filosófica que questiona o sentido da vida, da moralidade, da verdade e da existência. O termo vem do latim nihil, que significa "nada)".
- **Escândalo dos Cristãos**: Como na *Gaudium et Spes* (n. 19), Fuentes nota que as incoerências dos fiéis (hipocrisia, injustiças) afastam muitos de Deus, pois associam a religião a falhas humanas, não à verdade divina.
3. **Causas Culturais e Existenciais**:
- **Secularização**: A modernidade, com sua ênfase na autonomia e no progresso, marginaliza a religião, como Fuentes observa na cultura ocidental pós-iluminista. Isso alimenta o ateísmo existencialista, onde o homem busca sentido em um mundo "sem Deus".
- **Desespero e Absurdo**: Para Fuentes, o ateísmo existencialista reflete uma crise espiritual: sem Deus, a vida parece vazia, mas muitos preferem essa "honestidade" ao que veem como ilusão religiosa.
4. **Razões Psicológicas e Práticas**:
- **Indiferença**: Fuentes destaca o ateísmo prático (não teorizado, mas vivido), comum em sociedades secularizadas, onde Deus é ignorado por conveniência ou falta de interesse, algo que a *Gaudium et Spes* também lamenta (n. 19).
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A *Gaudium et Spes* aborda o ateísmo com uma postura pastoral, identificando suas causas (racionalismo, moralismo, falhas cristãs) e propondo um diálogo baseado na verdade e no testemunho. Miguel A. Fuentes, em *Educação, Cultura e Maturidade*, detalha suas expressões — marxista (materialismo social), racionalista/cientificista (razão autossuficiente), existencialista (absurdo da existência) e axiológico/moral (rejeição da moral divina) —, alinhando-se ao diagnóstico do Concílio, mas com uma análise mais sistemática. As razões para a negação de Deus, segundo Fuentes, incluem erros intelectuais (reducionismo), revoltas morais (busca por autonomia), crises culturais (secularização) e falhas dos crentes, refletindo tanto um desafio filosófico quanto espiritual. A Igreja, em ambos os casos, vê o ateísmo como uma perda trágica da relação com Deus, mas busca respondê-lo com clareza doutrinal e vida autêntica.
Esforços da Igreja Pós-Vaticano II
A Redemptoris Missio reafirma a urgência da missão evangelizadora em um contexto de globalização e pluralismo (n. 2-3), ecoando o espírito do Vaticano II de dialogar com o mundo sem comprometer a verdade cristã. Desde então, a Igreja lançou iniciativas significativas:
Novo Catecismo: Publicado em 1992 sob a direção de João Paulo II, o Catecismo da Igreja Católica sistematizou a doutrina para os fiéis, oferecendo uma resposta clara ao relativismo e uma ferramenta para a formação espiritual.
Ortodoxia Patrística: Sob Bento XVI (2005-2013), houve uma ênfase no retorno às fontes da fé — os Pais da Igreja —, resgatando a teologia tradicional como antídoto à secularização e à superficialidade moderna.
Movimentos Leigos: No Brasil, a Comunidade Canção Nova (fundada em 1978) exemplifica o protagonismo leigo, usando mídia (rádio, TV, internet) para evangelizar e formar discípulos, ao lado de movimentos como a Renovação Carismática e os Cursilhos de Cristandade. Essas iniciativas atraíram "desigrejados" e até protestantes, seduzidos pela vivência comunitária e pela ortodoxia acessível.
Esses esforços resultaram em frutos visíveis: conversões, revitalização paroquial e uma nova geração de católicos comprometidos com a santificação pessoal e a missão universal.
Reação da Mídia e o Fenômeno das Lives do Rosário
Recentemente, as lives de oração do Rosário às 4 horas da manhã, organizadas pelo @freigilson_somdomonte - sacerdote carmelita, ganharam popularidade no Brasil e em outros países ocidentais, atraindo centenas de milhares em busca de intercessão e renovação espiritual. Contudo, esse fenômeno despertou reações virulentas da mídia progressista e de movimentos à esquerda. Jornais e plataformas digitais têm rotulado essas práticas como "extremismo religioso", "fanatismo" ou até "ameaça à laicidade", com difamações pessoais contra líderes e fiéis. Essa hostilidade não é apenas crítica reflexiva — legítima em uma democracia —, mas frequentemente cruza para a perseguição religiosa, com tentativas de ridicularizar ou silenciar os participantes.
A Redemptoris Missio oferece uma lente para entender essas reações. João Paulo II alerta que a missão da Igreja enfrenta "oposições e dificuldades" em sociedades secularizadas (n. 11), onde a fé é vista como obstáculo à "autonomia humana" ou ao progresso materialista. A encíclica identifica o ateísmo prático e o relativismo como forças que rejeitam a transcendência (n. 36), algo que Miguel A. Fuentes, em Educação, Cultura e Maturidade, também associa ao marxismo cultural e ao cientificismo moderno. Para a esquerda progressista, o Rosário às 4 da manhã simboliza uma resistência ao secularismo e ao multiculturalismo relativista, desafiando a narrativa de uma sociedade sem raízes espirituais. Essa reação reflete o que a Gaudium et Spes (n. 19) chama de "revolta contra Deus" motivada por uma visão distorcida da liberdade.
Caminhos para Ordenar a Sociedade
Numa sociedade livre e democrática, a crítica é esperada, mas a difamação e a perseguição violam o princípio do respeito mútuo. A Redemptoris Missio propõe que a Igreja continue sua missão com "ousadia e coragem" (n. 30), testemunhando a verdade em amor, como ordena Atos 4,20. Caminhos concretos incluem:
Diálogo Autêntico: Engajar a sociedade, incluindo críticos, com clareza doutrinal e caridade, mostrando que a fé cristã promove o bem comum, não o sectarismo.
Educação e Cultura: Investir na formação de leigos e clérigos, como sugere Fuentes, para contrapor o relativismo com uma visão integrada da dignidade humana.
Testemunho Vivo: Intensificar iniciativas como as lives do Rosário, não como provocação, mas como sinal de esperança, atraindo pelo exemplo de vida santificada.
A Igreja não pode se calar, pois sua missão — conforme a Redemptoris Missio — é anunciar Cristo em meio às tormentas, ordenando a sociedade não pelo confronto, mas pela transformação interior que irradia para o exterior. Este artigo explora como esses esforços, apesar das resistências, apontam para uma renovação espiritual capaz de curar as feridas de um Ocidente em crise.
### **Conclusão"**
Ao longo deste artigo, intitulado "Não podemos nos calar", extraído de Atos 4,20 e fundamentado na *Redemptoris Missio*, exploramos como a Igreja Católica, desde o Concílio Vaticano II, tem respondido aos desafios do mundo moderno com uma missão evangelizadora renovada, marcada por iniciativas como o *Catecismo da Igreja Católica*, o resgate da ortodoxia patrística e movimentos leigos como a Comunidade Canção Nova. Diante da secularização e do ateísmo — analisados na *Gaudium et Spes* como fenômenos graves —, essas ações buscam santificar os fiéis, trazer de volta os "desigrejados" e converter muitos, enquanto enfrentam resistências, como as reações hostis da mídia progressista às lives do Rosário às 4 da manhã. Para encerrar, recorremos à homilia do Pe. Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, no Segundo Domingo da Quaresma (Ano B), intitulada "A Objeção da Dor", que oferece uma reflexão profunda sobre o sofrimento e a fé, iluminando os caminhos para ordenar a sociedade sem silenciar a voz da Igreja.
Em sua homilia, Cantalamessa aborda a Transfiguração de Jesus (Mc 9,2-10), destacando como esse evento responde à "objeção da dor" — a dúvida que o sofrimento humano suscita sobre a existência ou a bondade de Deus. Ele argumenta que o mistério da cruz, revelado em plenitude na glória do Tabor, não elimina a dor, mas a transforma em um caminho de redenção. "A dor não é uma objeção à fé, mas uma participação no mistério de Cristo", afirma Cantalamessa, ecoando a *Redemptoris Missio* (n. 5), que vê na cruz o fundamento da missão evangelizadora. Essa perspectiva é crucial para compreender por que a Igreja não pode se calar: mesmo em meio às perseguições e difamações — como as enfrentadas pelos que rezam o Rosário nas madrugadas —, o testemunho cristão encontra força no sofrimento assumido com amor, tornando-se um grito de esperança que ressoa além das críticas.
A hostilidade progressista às iniciativas de evangelização, como analisamos, reflete as expressões do ateísmo descritas por Miguel A. Fuentes — marxista, racionalista, existencialista e moral — e previstas na *Gaudium et Spes* (n. 19-20), onde a rejeição de Deus surge de uma autonomia mal entendida ou de uma revolta contra a moral divina. Cantalamessa, porém, nos lembra que a resposta cristã não é o confronto, mas a transfiguração da dor em serviço. As lives do Rosário, por exemplo, não são apenas resistência ao secularismo, mas um ato de intercessão que une os fiéis em um propósito comum, refletindo o chamado da *Redemptoris Missio* a uma missão "corajosa e ousada" (n. 30). Numa sociedade democrática, a Igreja propõe ordenação não pela imposição, mas pelo exemplo: o sofrimento dos perseguidos, como o dos primeiros apóstolos, torna-se semente de conversão, como vimos nas conversões de protestantes e no retorno de muitos à fé.
Assim, "não podemos nos calar" porque o silêncio diante da dor — seja a dor do mundo secularizado, seja a dos cristãos difamados — seria trair o mandato de Cristo. Cantalamessa nos convida a ver na cruz e na glória da Transfiguração a força para continuar, enquanto a *Redemptoris Missio* nos exorta a anunciar a verdade em amor (n. 39). Os caminhos para ordenar a sociedade passam por este testemunho vivo: educar com a doutrina clara do catecismo, evangelizar com a ousadia dos movimentos leigos, e responder às críticas com a caridade que transforma a dor em redenção. Em um Ocidente fragmentado, a Igreja permanece como sinal de contradição, mas também de esperança, provando que, como Pedro e João, sua voz não pode ser silenciada, pois carrega a Boa Nova que o mundo, mesmo relutante, precisa ouvir.
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