A verdadeira adoração nada destrói; ao contrário, tudo aperfeiçoa

 


Natanael (Evangelho: João 1,47-51; "Vêem e vê!") era, evidentemente, um estudioso das Escrituras do Antigo Testamento, pois a declaração de Filipe sobre Moisés e a lei era significativa para ele. Baseando-se nas profecias, Natanael também não tinha motivos para esperar que o Messias viesse de uma aldeia tão pobre — Pode vir alguma coisa boa de Nazaré? (46) O ceticismo de Natanael foi logo vencido pela insistência de Filipe; Vem e vê (46). Tal ação sempre fornece o cenário para o encontro do homem com Deus


De maneira que Natanael se aproximou, e Jesus pôde ler seu coração. "Eis aqui", disse Jesus, "um verdadeiro israelita, em quem não há engano". Era uma honra que qualquer israelita devoto agradeceria. O salmista disse: “Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não atribui iniqüidade” (Salmo 32:2). “Nunca fez injustiça” disse o profeta sobre o servo do Senhor, “nem houve engano na sua boca.” (Isaías 53:9). 


Natanael se sentiu surpreso de que alguém pudesse pronunciar um veredito como esse quando recém o conhecia, e perguntou como Jesus podia conhecê-lo. 


Jesus lhe disse que já o tinha visto debaixo da figueira. Que significado tem isto? No pensamento judaico uma figueira sempre representava a paz. Sua ideia de paz era quando um homem podia permanecer debaixo de sua própria figueira e sua própria vinha sem que o incomodassem (comp. 1 Reis 4:25; Miquéias 4:4). 


Mais ainda, a figueira era frondosa e dava muita sombra e era costume sentar-se a meditar sob o amparo de seus ramos. Sem dúvida, isso era o que tinha estado fazendo Natanael. 


E sem dúvida nenhuma, enquanto estava debaixo da figueira pensava e orava pelo dia em que chegaria o escolhido de Deus. Não cabe dúvida que tinha meditado a respeito das promessas de Deus. E agora sentia que Jesus tinha lido até o mais profundo de seu coração. 


O que surpreendeu a Natanael não foi tanto que Jesus o tivesse visto debaixo da figueira, e sim o fato de que Jesus tivesse lido os pensamentos que estavam no mais recôndito de seu coração. 


De maneira que Natanael disse a si mesmo: "Aqui está o homem que entende meus sonhos! Aqui está o homem que sabe de minhas preces! Aqui está o homem que viu meus desejos mais secretos e íntimos, desejos que jamais me animei a expressar em palavras! Aqui está o homem que pode traduzir o suspiro inarticulado de minha alma! Este deve ser o Filho do Deus, o prometido ungido de Deus e nenhum outro". 


Natanael se rendeu para sempre ao homem que lia e compreendia e satisfazia os desejos de seu coração. 


Pode ser que Jesus tenha sorrido. Citou a velha história de Jacó em Betel onde viu a escada de ouro que conduzia ao céu (Gên. 28:12-13). 


Era como se Jesus dissesse: "Natanael posso fazer muito mais que ler seu coração. Posso ser para você e para todos os homens, o caminho, a escada que conduz ao céu". Mediante Jesus e só por Jesus, podem as almas dos homens subir a escada que leva a céu. 


“E acrescentou: — Em verdade, em verdade lhes digo que vocês verão o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem.” João‬ ‭1:51.


Contempla a escada de Jacó (Gên. 28:12-13), a qual é uma verdadeira imagem da espiritualidade cristã. 


Os dois lados da escada representam, um a oração que suplica o amor de Deus, e o outro a recepção dos sacramentos que o conferem. Os degraus são os diversos graus do amor de Cristo, pelos quais se sobe de virtude em virtude, ora abaixando-se até a servir o próximo e suportar-lhe as fraquezas, ora guindando o espírito, pela contemplação, até à união caritológica com Deus. 


Considera como esses anjos resplandecentes, revestidos de um corpo humano, sobem e descem pela escada, lembrando-nos os verdadeiros adoradores, que possuem um espírito evangélico. Parecem jovens e com isso estão indicando o vigor e a atividade espiritual da devoção. 


Suas asas representam o voo e o enlevo da alma para Deus, por meio da oração; e, como eles têm também pés, parece que nos estão inculcando o nosso dever, aqui na Terra, de viver com os outros homens em santa harmonia e sociedade. 


A beleza e o júbilo que transparecem em seus semblantes nos ensinam com que tranquilidade devemos encarar os incidentes da vida; sua cabeça, suas mãos e pés descobertos dão-nos a refletir que nenhum outro motivo devemos ter em nossas intenções e ações além do de agradar a Deus. 


O resto do corpo trazem-no coberto de uma gaze finíssima, dando-nos a entender que, na necessidade de nos servirmos do mundo e das coisas mundanas, devemos tomar somente o que é de todo imprescindível.


“Jesus viu Natanael se aproximar e disse a respeito dele: — Eis um verdadeiro israelita, em quem não existe fingimento algum!” João‬ ‭1:47‬


A abelha, diz Aristóteles, tira o mel das flores, sem as murchar, e as deixa intactas e frescas como as achou; a devoção verdadeira ainda faz mais, porque não só em nada impede o cumprimento dos deveres dos diversos estados e ocupações da vida, mas também os torna mais meritosos e lhes confere o mais lindo ornamento. 


Diz-se que, lançando-se uma pedra preciosa no mel, esta se torna mais brilhante e viçosa, sem perder a sua cor natural; assim, na família em que reina a devoção (fé no Cristo que o faz piedoso, convicto, reverente, admirador, afetuoso, dedicado …) tudo melhora e se torna mais agradável; diminuem os cuidados pelo sustento da família, o amor conjugal é mais sincero, mais fiel o serviço do Príncipe, e mais suaves e eficazes os negócios e ocupações.


Enfim, onde quer que estivermos, podemos e devemos aspirar continuamente à perfeição.




Fonte literária:

Livro: Filoteia - Introdução a vida devota; São Francisco de Sales

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