Só o Espírito Santo transforma vontade em atos que edificam


 

Estas palavras, entre muitas outras, foram ditas para nos dar a conhecer a vontade daquele que confere o Dom e a natureza e a perfeição do mesmo Dom. Por conseguinte, já que a nossa fraqueza não nos permite compreender nem o Pai nem o Filho, o Dom que é o Espírito Santo estabelece um certo contato entre nós e Deus, para iluminar a nossa fé nas dificuldades relativas à encarnação de Deus. 


Assim, o Espírito Santo é recebido para nos tornar capazes de compreender. Como o corpo natural do homem permaneceria inativo se lhe faltassem os estímulos necessá­rios para as suas funções – os olhos, se não há luz ou não é dia, nada podem fazer; os ouvidos, caso não haja vozes ou sons, não cumprem seu ofício; o olfato, se não sente nenhum odor, para nada serve; não porque percam a sua capacidade natural por falta de estímulo para agir – assim é a alma humana: se não recebe pela fé o Dom que é o Espírito, tem certamente uma natureza capaz de conhecer a Deus, mas falta-lhe a luz para chegar a esse conhecimento. 


Este Dom de Cristo está inteiramente à disposição de todos e encontra-se em toda parte; mas é dado na medida do desejo e dos méritos de cada um. Ele está conosco até o fim do mundo; ele é o consolador no tempo da nossa espera; ele, pela atividade dos seus dons, é o penhor da nossa esperança futura; ele é a luz do nosso espírito; ele é o esplendor das nossas almas.


Isso é uma constante da espiritualidade. Em linguagem teológica, podemos dizer que parte da vida espiritual sempre será ex opere operato, terá a sua eficácia própria produzida pelo próprio Deus e parte sempre será ex opera operantis, em que o grau da eficácia da graça no sujeito também depende do seu preparo e disposição interior para recebê-la.


Em um exemplo simples, pode-se dizer que, se entrássemos na mesma fila de comunhão com Santa Teresa de Calcutá, receberíamos o mesmo Cristo que ela, no entanto, o efeito desse sacramento em mim, em você e nela seriam em graus completamente diferentes.


Existem sentidos ocultos na Palavra de Deus acessíveis somente para aqueles que têm uma vida espiritual elevada pela contemplação. Esses são aqueles que escutam o mesmo que os outros escutaram, mas compreendem muito além do que foi dito.


Assim, se os que não perseveram na Graça Santificante irão ler e não entender nada, os que são iniciantes compreenderão somente o nível superficial das palavras, sem penetrar nos seus sentidos mais elevados.



Estudando o Espírito Santo no período da Patrística com Santo Hilário de Poitiers (Séc.IV) - Do Tratado Sobre a Trindade 

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