O caminho do discípulo é o caminho do mestre: de renovação e esperança
'“E esta é a nova aliança que farei com o povo de Israel depois daqueles dias”, diz o Senhor . “Porei minhas leis em sua mente e as escreverei em seu coração. Serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.' Jeremias 31:33
Jeremias anuncia a chegada de um tempo em que o Senhor fará de novo uma aliança com o seu povo, com uma nova lei que será escrita no coração dos homens.
O capítulo 31 do livro do profeta Jeremias é uma fonte de esperança e renovação para o povo de Deus. Nele, Jeremias vislumbra um futuro de redenção e transformação, onde um novo êxodo, uma nova aliança e uma nova lei serão estabelecidos.
Este novo êxodo não se limita a uma simples jornada física, mas representa uma libertação espiritual do exílio do pecado e da separação de Deus. É um retorno ao monte Sião, à presença íntima e restauradora do Senhor.
A nova aliança prometida por Jeremias não é uma ruptura com a antiga, mas sim uma renovação completa. Deus reafirma seu compromisso com seu povo, escrevendo sua lei não em tábuas de pedra, mas no coração de cada indivíduo. É uma aliança baseada na intimidade, no perdão e na reconciliação.
E essa nova lei não será uma imposição externa, mas sim uma transformação interna. Deus promete arrancar o coração de pedra do homem e substituí-lo por um coração de carne, capaz de amar e obedecer de forma genuína.
Todas essas promessas de renovação e restauração se realizam em Jesus Cristo. Ele é a personificação da nova aliança, o sacrifício perfeito que nos reconcilia com Deus e nos dá acesso à vida eterna.
“Criai em mim um coração que seja puro. Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! Na imensidão de vosso amor, purificai-me! Lavai-me todo inteiro do pecado / e apagai completamente a minha culpa!” Salmo 50 (51),33
O pecado obscurece a lei gravada no coração do homem, por isso, todo aquele que reconhece o seu pecado sente a necessidade de se deixar lavar, purificar, adquirir um coração novo. Só Deus pode, mediante o perdão, renovar em nós a pureza do coração.
O Salmo 50 (51) ecoa o anseio do coração humano por perdão e misericórdia. É um salmo de arrependimento e súplica, onde reconhecemos nossas falhas e imploramos pela graça transformadora de Deus.
“Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que era capaz de salvá-lo da morte. E foi atendido, por causa de sua entrega a Deus. Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu. Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem.” Hebreus 5,7-9
Verdadeiro homem e verdadeiro Deus, Jesus experimenta em si mesmo o drama do sofrimento humano e responde como só Deus pode responder, na obediência e fidelidade ao projeto salvífico do Pai.
Na carta aos Hebreus, Jesus é apresentado como o Sumo Sacerdote perfeito, aquele que cumpre plenamente a nova aliança e nos conduz à salvação. Ele experimenta a dor e a angústia da humanidade, mas escolhe obedecer ao Pai, mesmo até a morte na cruz.
“Entre os que tinham ido à festa para adorar a Deus, havia alguns gregos. Eles se aproximaram de Filipe, que era de Betsaida da Galiléia, e disseram: «Senhor, queremos ver Jesus. Filipe falou a esse respeito com André, e os dois foram juntos falar com Jesus. Jesus respondeu: “Chegou a hora de o Filho do Homem ser glorificado. Eu lhes digo a verdade: se o grão de trigo não for plantado na terra e não morrer, ficará só. Sua morte, porém, produzirá muito fruto. João 12,20-24
A cruz de Jesus é o lugar onde se cumpre a hora para a qual o Pai enviou o Filho e na qual, o Filho, em obediência ao Pai, se torna servo da humanidade. Nele, Deus estabelece uma nova aliança, no seu sangue. Da sua morte brota uma nova vida e na sua cruz atrai a todos para ele.
A liturgia deste V domingo da quaresma pede que lancemos o nosso olhar sobre Jesus. Somos convidados a entrar com Jesus em Jerusalém e a desejar conhecê-lo mais intimamente como aqueles gregos de que fala o evangelho, certos de que para chegar a Jesus há um caminho a fazer que passa pelos irmãos que já são discípulos e pela comunidade cristã onde Jesus se faz presente em cada momento de comunhão com Deus.
O desejo de ver Jesus não pode ser apenas uma curiosidade, porque a dimensão da sua vida é tão forte e tão profunda, significa uma entrega tão radical que não permite abordagens superficiais nem encontros ligeiros e inconsequentes. Está em causa a morte do grão de trigo e uma vida nova, com tal pujança, que se podem ver os seus frutos.
O desejo de ver Jesus implica necessariamente a vontade de perder a vida “quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem despreza a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna”. Trata-se de uma disciplina de seguimento que passa pela dimensão do serviço, que começa com “como eu fiz fazei vós também”, passa por “o discípulo não é maior que o mestre” e ainda “toma a tua cruz todos os dias e segue-me” para chegar ao “maior amor” que é “dar a vida pelos amigos”.
O caminho do discípulo é o caminho do mestre. Só fazendo o caminho com Jesus se confirmam as palavras “onde Eu estiver, ali estará também o meu servo”. Que lugar é este? É todo o caminho que leva da Galileia a Jerusalém, de Jerusalém à cruz e da cruz ao céu. É o caminho em que se concretiza a hora de Jesus, onde o nome de Deus é glorificado e Jesus glorificado nele. Esta hora é aquela para a qual Jesus veio e da qual não pretende fugir para que seja glorificado o nome de Deus. O discípulo compreende que esta glória não é o prestígio de que os homens tanto gostam, mas a presença viva e atuante de Deus naqueles que servem. Em primeiro lugar em Jesus, o servo “vim para servir e dar a vida”, numa confiança total de que o Pai fará brotar da morte a vida e numa certeza absoluta de que na cruz está a vitória porque “atrairei todos a mim”.
Na cruz está a glorificação do nome de Deus e a resposta às “preces e súplicas, com grandes clamores e lágrimas” de Jesus. Ele foi atendido, não como esperam os homens mas como só Deus pode responder. Por isso ao ouvirem a voz que veio do céu as pessoas ficaram confusas, “foi um anjo”? “foi um trovão”? Mas Jesus não se deixa confundir, “não foi por minha causa que esta voz se fez ouvir; foi por vossa causa”, porque para ele o grande sinal é a cruz e a resposta de Deus é a ressurreição. A resposta de Deus não está em livrar da morte mas em dar a vida apesar da morte. Por isso podemos dizer de Jesus “tornou-Se para todos os que Lhe obedecem causa de salvação eterna”, pois nele se cumpre a profecia de Jeremias “todos eles Me conhecerão, desde o maior ao mais pequeno. Porque vou perdoar os seus pecados e não mais recordarei as suas faltas”.
Na passagem do Evangelho de João, vemos Jesus confrontando sua própria morte iminente. Ele reconhece a agonia de sua alma, mas permanece firme em sua confiança no Pai. Sua oração é ouvida, e Deus responde, garantindo a vitória sobre a morte e inaugurando o juízo do mundo.
Sim, Ele pensava em cada um de nós. Quando alguns gregos foram vê-lo, Jesus olhou para eles e viu o seu rosto, e, sabendo que era por isso que você estaria passando — suas angústias e suas dores —, disse-lhes: “Chegou a hora de o Filho de homem ser glorificado” (v. 23). É preciso ter fé para ver a glória; do contrário, só se enxerga o véu espesso da carne, totalmente dilacerada. Se tiver fé, também você verá a glória do Filho de homem, porque irá perceber que, se Ele não caísse na terra para morrer como grão de trigo, você estaria sozinho. Mas você não está sozinho, porque Ele deu a vida para salvar a sua.
Portanto, olhe para a sua dor e creia que já não é você quem sente dor; é Cristo quem sofre em você. Olhe para o seu coração, tomado de angústia, tristeza e pânico, e creia que já não é você quem sofre; é Cristo quem sofre em você. Então você ouvirá a voz do Senhor, voz do Altíssimo que, como um trovão, ressoa: “Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo” (v. 28). Assim, a luz e o amor de Cristo brilharão e você poderá entrar no Tempo da Paixão, com uma fé sólida, penetrando o véu do escândalo da carne, para ver a glória do amor escondido no Crucificado.
Que possamos nos unir a Jesus neste caminho de renovação e esperança. Que possamos abrir nossos corações para a ação transformadora do Espírito Santo e permitir que Deus escreva sua lei em nossas vidas.
Que possamos viver na certeza de que, em Cristo, encontramos perdão, reconciliação e vida eterna. E que possamos seguir seu exemplo de obediência e confiança, mesmo diante das provações e tribulações deste mundo.
Que Deus nos abençoe e nos fortaleça para vivermos em sua graça e em sua verdade, hoje e sempre.
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