A Luz da Aurora e o Reino de Deus: Expulsando as Trevas do Coração
Contemplando o Sinal da Graça
Evangelho: Lucas 11,15-26
“Se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então chegou para vós o Reino de Deus”.
Perante a minha vida onde todos os dias acontecem coisas extraordinárias, posso simplesmente colocar-me na posição de quem diz que tudo acontece por acaso ou pelas minhas capacidades ou, ainda, pelas circunstâncias que o proporcionaram.
Posso também pedir provas para poder aceitar outra visão sobre os acontecimentos da minha vida. Mas Jesus pede-me que seja capaz de me colocar do seu lado para ver como ele vê, que tudo é dom da graça de Deus. O amor de Deus faz acontecer a vida e tudo o que gera vida em mim e à minha volta.
O Reino de Deus é o próprio Jesus. Quando Ele chega, expulsa as trevas, expulsa todo mal, mas se não acolhemos esse Reino, as trevas permanecem em nós; permanecem em nós o reino da incredulidade, do egoísmo, da mentira, de Belzebu.
Quando olhamos para a aurora boreal, como descrita nos poemas de Margaret Atwood, Robert W. Service e outros, podemos ver mais do que um fenômeno natural; vemos um reflexo da majestade e do poder de Deus. Assim como no Evangelho de Lucas (11,15-26), onde Jesus nos fala sobre a chegada do Reino de Deus e sua capacidade de expulsar as trevas, a aurora boreal nos convida a contemplar a luz que rompe a escuridão, a graça que invade e transforma a noite fria e vazia em algo belo e cheio de vida.
“Quando te vejo Depois de ir para a cama Eu saio da cama novamente E te observo sobre a água escura, Faixa branca, Uma fênix do norte.” “Aurora Boreal” - Margaret Atwood
Margaret Atwood, uma renomada poeta e autora canadense, incluiu a aurora boreal como tema de um de seus poemas. Ela descreve o fenômeno com uma mistura de reverência e introspecção.
Ela descreve a aurora como uma "fênix do norte", uma imagem de renascimento, tal como o Reino de Deus nos oferece uma nova chance, uma vida renovada. Deus, em sua infinita graça, age em nosso mundo, não de forma silenciosa ou oculta, mas com sinais que brilham intensamente, como a aurora que ilumina o céu noturno. Este “renascimento” da luz na escuridão nos faz lembrar que Jesus é aquele que traz a verdadeira luz ao mundo, expulsando as trevas do pecado e da incredulidade.
“O céu é como uma opala, Com fogo e espada flamejante, E o largo riacho como um sonho brilhante Jaz congelado e desagradável; E a lua zomba de minhas caminhadas Com um sorriso furtivo e prateado, E as Luzes do Norte voam em direção ao céu Para sinalizar que o céu está limpo.” Robert W. Service
O poeta britânico-canadense Service descreve a vastidão do céu coberto pelas luzes do norte, criando uma cena congelada e mística, que desperta fascínio e reflexão.
Robert W. Service, em seu poema, pinta um quadro da vastidão do céu tomado pelas luzes do norte, algo grandioso e ao mesmo tempo misterioso. Essa imagem se assemelha ao "dedo de Deus" mencionado no Evangelho. Quando Jesus expulsa os demônios e declara a chegada do Reino, ele está revelando o poder imenso e incompreensível de Deus, tal como o espetáculo celeste nos faz sentir pequenos diante de algo muito maior do que nós. No entanto, essa grandiosidade divina não nos afasta, mas nos convida a ver com novos olhos — a perceber que tudo o que é bom, belo e extraordinário em nossa vida é um dom da graça de Deus.
“Fogos fantasmas sobem os céus da noite Brilhando, mudando de cor, pálidos e brilhantes. Eles assombram o Norte congelado sozinhos, Mas cujo brilho é mostrado. Eles parecem acenar, brilhar, chamar, Até que a luz da manhã caia suavemente.” Eleanor Wylie
Eleanor Wylie, ao falar dos "fogos fantasmas" que dançam no céu, lembra-nos de que Deus age de formas muitas vezes inesperadas e silenciosas. Assim como a aurora pode passar despercebida para os distraídos, o Reino de Deus também pode passar despercebido se não estivermos atentos. Precisamos, como Marta e Maria, aprender a parar, escutar e contemplar. Se não nos abrimos para acolher essa luz, permanecemos nas trevas da incredulidade, do egoísmo, ou das distrações diárias.
Assim como a aurora boreal é um fenômeno único e raro que ilumina a escuridão, o Reino de Deus é uma realidade que, embora já presente entre nós, precisa ser acolhida para que possa iluminar plenamente nossa vida. Se ficamos presos à incredulidade, buscando provas ou explicações naturais para tudo o que acontece, perdemos a oportunidade de ver a mão de Deus em nossa história.
A cada dia, assim como contemplamos os céus e nos maravilhamos com os fenômenos da natureza, somos convidados a reconhecer que o Reino de Deus está presente. A aurora boreal, com sua dança de luzes, é uma metáfora para o Reino: uma manifestação grandiosa e bela da presença de Deus, que nos chama a deixar as trevas e a viver na luz de sua graça.
A vinda do Reino não é apenas uma promessa distante, mas uma realidade presente e atuante, assim como a aurora boreal que transforma a escuridão da noite em um espetáculo de luz. O Reino de Deus, na pessoa de Jesus, brilha nas trevas, mas exige que o coração humano esteja aberto para reconhecê-lo. Aqueles que atribuem as obras de Jesus ao príncipe dos demônios revelam o quão fechados estão à graça, incapazes de ver a ação divina diante deles.
A metáfora da aurora boreal nos ajuda a compreender essa dinâmica espiritual. Assim como a aurora transforma a escuridão gelada em uma dança de luzes vivas, Jesus chega para dissipar as trevas do pecado, da incredulidade e do egoísmo que habitam o coração humano. No entanto, essa luz só pode ser vista por aqueles que abrem os olhos da fé. Muitos, como os fariseus, optam por permanecer nas sombras, negando a origem divina das obras de Cristo e se fechando à luz transformadora.
Os poetas que cantam a beleza da aurora boreal nos mostram que, mesmo em meio à vastidão fria e desolada, há um espetáculo de vida e beleza acontecendo. Robert W. Service descreve o céu como “fogos dançantes”, e Margaret Atwood nos fala da "fênix do norte" que renasce das cinzas. Isso nos lembra que o Reino de Deus irrompe em nossa realidade de formas inesperadas e transformadoras. Ele chega para expulsar as trevas e renovar nossa vida, mas, assim como precisamos levantar os olhos para contemplar a aurora, também precisamos estar atentos para acolher a presença de Deus em nossa vida.
O problema dos fariseus e de muitos que viram os milagres de Jesus, mas ainda assim negaram sua origem divina, é o fechamento à luz. Em vez de reconhecerem o dedo de Deus, preferiram explicações que os mantinham confortáveis em sua escuridão. Jesus, no entanto, desafia essa incredulidade ao afirmar que o Reino de Deus já chegou e que Ele, como a luz da aurora, expulsa as trevas quando é acolhido.
Aqui, a fé torna-se central. São Paulo nos lembra em Efésios 2 que a fé é um dom de Deus, e em 1 Coríntios 12 que ninguém pode proclamar que Jesus é o Senhor sem o Espírito Santo. A fé, portanto, não é uma conquista humana, mas uma graça a ser pedida. Sem esse dom, corremos o risco de, como os fariseus, não conseguirmos reconhecer a presença de Deus nos eventos de nossa vida. Podemos, em nossa incredulidade e orgulho, perder o espetáculo da graça que acontece ao nosso redor, assim como alguém que, em meio a uma noite clara no Ártico, ignora as luzes da aurora boreal por estar distraído com seus próprios pensamentos.
A aurora boreal é uma metáfora para o Reino de Deus que Jesus anuncia. Ambos são fenômenos de luz que invadem o escuro e transformam a nossa visão do mundo. Mas assim como precisamos olhar para o céu e estar dispostos a deixar a beleza da aurora nos impactar, também precisamos abrir nosso coração à graça que Jesus nos oferece. Quando acolhemos o Reino, as trevas em nós são dissipadas; o reino da incredulidade, da mentira e do egoísmo dá lugar à luz da fé, da verdade e do amor.
Se permanecemos fechados, se, como Marta no evangelho anterior, nos deixamos agitar por muitas preocupações sem parar para escutar a voz de Cristo, então continuaremos nas trevas. Mas se, como Maria, escolhemos a “melhor parte”, que é acolher a presença de Jesus, o Reino se faz em nós e através de nós. Não há treva que possa resistir à luz do Reino, assim como não há escuridão que permaneça diante da aurora boreal.
Que, ao observarmos os sinais da criação, possamos rezar com o salmista: “Conduzi-me no caminho para a vida, ó Senhor!” e abrir nosso coração à presença viva de Jesus, que transforma nossa escuridão em luz, assim como o espetáculo das luzes do norte transforma o céu noturno.
Rezar a Palavra:
Senhor, concede-me o dom da fé para reconhecer o teu Reino em minha vida. Ajuda-me a abrir os olhos para a tua luz e a acolher a graça que transforma. Que eu não me perca nas trevas da incredulidade e do egoísmo, mas permita que tua luz expulse todo mal em mim, assim como a aurora expulsa a escuridão da noite. Que eu seja, como a aurora, um reflexo da tua luz neste mundo.
Não te peço sinais, Senhor, apenas quero poder contemplar aceitar que o teu reino está mesmo entre nós e se manifesta das mais diversas maneiras. Amém.
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