O vento sopra onde quer...assim com todos os nascidos do Espírito
O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todos os nascidos do Espírito”. (João 3:8 NVI)
Estruturas eclesiásticas e seus sistemas doutrinários objetivistas não suportam a ação desestruturadora do Espírito, que a partir de dentro de homens e mulheres provoca alguma relativização de estruturas engessantes. A experiência como instância teológica, reclamada pelos pobres, que se encontram na periferia dos sistemas teológicos, provoca, inevitavelmente, rompimentos com cânones teológicos descomprometidos com a realidade experimentada.
O protestantismo missionário adotou uma postura excludente em relação à cultura brasileira. As manifestações da matriz religiosa nacional foram consideradas pagãs e rejeitadas sem a devida análise. Nesse processo, os elementos da cultura americana foram colocados ao lado do Evangelho e assimilados como verdade divinas. Nota-se, então, o forte acento nesse protestantismo, do individualismo, da rigidez doutrinária e do fundamentalismo bíblico.
Essa rigidez teológica provocou reação insensata e equivocada, pois deslocou o movimento cristão para a ética neoliberal, para o imperialismo do mercado.
Fora do mercado não há salvação
Qual o lugar que o capital, o consumo, ocupa na vida das pessoas, especificamente daquelas que vivem nas grandes metrópoles? Que significa para alguém que vive num grande centro urbano não ter dinheiro? Que é que nos define como pessoa social ativa neste ambiente? O sistema econômico possui discurso, falas, símbolos, templos, adeptos e uma configuração que muito se assemelha da matriz religiosa? Quem nasceu primeiro: a ética de mercado vigente - consumo - ou o movimento neopentecostal? É preciso recordar: a relação entre religião, comércio e Estado é bastante antiga.
O mundo urbano é pluriespacial, regido pelos desejos e escolhas das pessoas. Os espaços imaginários tradicionais - igreja, praça, família - perdem sua força e impõe-se uma nova lógica regida por status, posse econômica, aparência, vitrine, mercado. O fenômeno urbano é marcado pela primazia do econômico como instância organizadora da vida social e pelo frenesi do consumo, colocado como meta última, para não dizer absoluta, que, em muitas dimensões, comanda a vida e influencia diretamente os rumos da religião. O mercado associado à ética de consumo - ideário neoliberal - é elemento basilar na sustentação e expansão do capitalismo contemporâneo. Ou seja: fora do mercado não há salvação.
Ao fazer todo este percurso, fica notório que a ética de mercado vigente na sociedade chega à religião. Apesar de alguns teóricos sociais e teológos criticarem o modelo econômico que autentica a miséria, o mundo convive com ele como se não houvesse saída: de uma forma geral, não causam indignação a miséria, a banalização da vida, a violência, porém, vamos levando e adaptando-nos dia a dia.
O sentimento de indignação vem-nos quando constatamos que a Igreja aceitou partilhar dessa ética e beneficiar-se desse sistema. Quando buscarmos pensar se o Espírito pode soprar aí, é preciso atentar: que é que o símbolo do dinheiro representa para o fiel, considerado morto para a sociedade por não poder consumir?
O público consumidor é criado, descoberto e organizado segundo as regras mercadológicas que determinam tanto as formas de elaboração e de distribuição dos bens religiosos como a própria estrutura assumida pela instituição que supre suas necessidades. Nessa selva de pedra vale tudo, principalmente o marketing sem regras e sem limites para alcançar as almas insatisfeitas nas igrejas tradicionais, os aviltados por um mercado que, sem dúvida, não oferece lugar para todos. E os desorientados num mundo fragmentado, que não responde às perguntas cruciais sobre o sentido da vida, o problema da dor, do sofrimento e da morte.
Dentre todos os problemas dessa teologia (prospreridade) basta perceber que ela abarca um discurso ambíguo: aos pobres, ela estimula o sonho do sucesso, da riqueza e do abandono da pobreza. Aos ricos, justifica a acumulação de bens incentivando o egoísmo, o individualismo e o consumismo.
É preciso um novo paradigma: todo debate deve acontecer no campo da ética interdisciplinar como grandeza que questiona as formas de relacionamentos humanos, e deve culminar na ética colhida através da vida de Jesus, marcada pelo serviço e pela relativização de todas as leis em detrimento do ser humano e do amor.
O sopro do Espírito impulsiona para uma postura profética e contundente contra todas as formas de manipulações, instrumentalizações e escravizações, tanto na sociedade quanto nas igrejas cristãs.
Fonte:
Livro Amor e Discernimento
Estruturas eclesiásticas e seus sistemas doutrinários objetivistas não suportam a ação desestruturadora do Espírito, que a partir de dentro de homens e mulheres provoca alguma relativização de estruturas engessantes. A experiência como instância teológica, reclamada pelos pobres, que se encontram na periferia dos sistemas teológicos, provoca, inevitavelmente, rompimentos com cânones teológicos descomprometidos com a realidade experimentada.
O protestantismo missionário adotou uma postura excludente em relação à cultura brasileira. As manifestações da matriz religiosa nacional foram consideradas pagãs e rejeitadas sem a devida análise. Nesse processo, os elementos da cultura americana foram colocados ao lado do Evangelho e assimilados como verdade divinas. Nota-se, então, o forte acento nesse protestantismo, do individualismo, da rigidez doutrinária e do fundamentalismo bíblico.
Essa rigidez teológica provocou reação insensata e equivocada, pois deslocou o movimento cristão para a ética neoliberal, para o imperialismo do mercado.
Fora do mercado não há salvação
Qual o lugar que o capital, o consumo, ocupa na vida das pessoas, especificamente daquelas que vivem nas grandes metrópoles? Que significa para alguém que vive num grande centro urbano não ter dinheiro? Que é que nos define como pessoa social ativa neste ambiente? O sistema econômico possui discurso, falas, símbolos, templos, adeptos e uma configuração que muito se assemelha da matriz religiosa? Quem nasceu primeiro: a ética de mercado vigente - consumo - ou o movimento neopentecostal? É preciso recordar: a relação entre religião, comércio e Estado é bastante antiga.
O mundo urbano é pluriespacial, regido pelos desejos e escolhas das pessoas. Os espaços imaginários tradicionais - igreja, praça, família - perdem sua força e impõe-se uma nova lógica regida por status, posse econômica, aparência, vitrine, mercado. O fenômeno urbano é marcado pela primazia do econômico como instância organizadora da vida social e pelo frenesi do consumo, colocado como meta última, para não dizer absoluta, que, em muitas dimensões, comanda a vida e influencia diretamente os rumos da religião. O mercado associado à ética de consumo - ideário neoliberal - é elemento basilar na sustentação e expansão do capitalismo contemporâneo. Ou seja: fora do mercado não há salvação.
Ao fazer todo este percurso, fica notório que a ética de mercado vigente na sociedade chega à religião. Apesar de alguns teóricos sociais e teológos criticarem o modelo econômico que autentica a miséria, o mundo convive com ele como se não houvesse saída: de uma forma geral, não causam indignação a miséria, a banalização da vida, a violência, porém, vamos levando e adaptando-nos dia a dia.
O sentimento de indignação vem-nos quando constatamos que a Igreja aceitou partilhar dessa ética e beneficiar-se desse sistema. Quando buscarmos pensar se o Espírito pode soprar aí, é preciso atentar: que é que o símbolo do dinheiro representa para o fiel, considerado morto para a sociedade por não poder consumir?
O público consumidor é criado, descoberto e organizado segundo as regras mercadológicas que determinam tanto as formas de elaboração e de distribuição dos bens religiosos como a própria estrutura assumida pela instituição que supre suas necessidades. Nessa selva de pedra vale tudo, principalmente o marketing sem regras e sem limites para alcançar as almas insatisfeitas nas igrejas tradicionais, os aviltados por um mercado que, sem dúvida, não oferece lugar para todos. E os desorientados num mundo fragmentado, que não responde às perguntas cruciais sobre o sentido da vida, o problema da dor, do sofrimento e da morte.
Dentre todos os problemas dessa teologia (prospreridade) basta perceber que ela abarca um discurso ambíguo: aos pobres, ela estimula o sonho do sucesso, da riqueza e do abandono da pobreza. Aos ricos, justifica a acumulação de bens incentivando o egoísmo, o individualismo e o consumismo.
É preciso um novo paradigma: todo debate deve acontecer no campo da ética interdisciplinar como grandeza que questiona as formas de relacionamentos humanos, e deve culminar na ética colhida através da vida de Jesus, marcada pelo serviço e pela relativização de todas as leis em detrimento do ser humano e do amor.
O sopro do Espírito impulsiona para uma postura profética e contundente contra todas as formas de manipulações, instrumentalizações e escravizações, tanto na sociedade quanto nas igrejas cristãs.
Fonte:
Livro Amor e Discernimento
Comentários
Postar um comentário