A espera pela Vida Eterna se dá experimentando-a
“Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra”. Evangelho: Mateus 28,16-20
Deus não é abstração; é proximidade: revelou-se antigamente ao seu povo como Deus vivo e libertador (Dt 4,32-34.39-40); torna-se próximo do homem quando este é batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e procura cumprir o que Cristo mandou (Evangelho Mateus 28,16-20); e Paulo sublinha a experiência da filiação adotiva que nos faz exclamar “Abbá, Pai” (Rm 8:14-17).
- Fragilidade dos conceitos
– Deus não se apresenta em conceitos abstratos, não é para ser pensado como aquele Ser que “está lá no alto”, como uma realidade em si mesma, independentemente da sua ação com os homens… Deus acompanha a vida dos homens e das mulheres de todos os tempos, está “do lado de cá”, no lugar onde se desenrola a vida da humanidade, e é assim que se pode compreender…
– Deus não está limitado pelos nossos conceitos nem se reduz à nossa capacidade de interpretação… “ Se compreendêssemos tudo de Deus Ele deixaria de ser Deus”… Mas sabemos, fundamentalmente, que Ele é amor total, graça, que dá a vida porque é Pai, Salvador no Filho e Amor que toca o coração como Espírito Santo…
- O modelo do amor
– Os textos da Liturgia apresentam-nos Deus como modelo de amor: Deus exprime-se com palavras como dar, acolher, transmitir vida e amor…
– O Deus que a Bíblia nos revela não é um ser isolado, uma entidade para ser estudado pela filosofia, mas uma família que inclui em si a paternidade, a filiação e a essência da família que é o amor, chamado, no seio da Trindade, Espírito Santo…
– Deus é comunidade de amor, comunidade perfeita, porque sendo pessoas distintas têm tudo em comum; é um amor que está dentro, vida que se partilha, que se dá e se acolhe…
– Compreendemos quem é Deus quando atualizamos a vida, o amor, a doação, o acolhimento e, sobretudo a experiência do amor gratuito e universal…
– Este Deus que Jesus nos deu a conhecer é o Deus Pai, em cujas mãos está a nossa vida, que se preocupa com cada um de nós, que vem ao nosso encontro de muitas maneiras, por muitos caminhos e, principalmente, por seu Filho Jesus.
– Este Jesus é nosso irmão e companheiro, a Palavra que estava desde o princípio junto de Deus e que se manifesta na sua vida…
– O Espírito Santo é este mesmo Deus derramado sobre cada um para nos dar força, habitar em nós e orientar as nossas vidas…
- Consequências da fé trinitária
– Podemos professar a fé no Deus Trinitário quando contribuímos para a construção de uma comunidade universal, baseada no amor e na fraternidade, tal como se manifestou na história da salvação e que os textos de hoje nos recordam:
Deus escolheu gratuitamente um povo e, por meio dele, a todos os povos (Deuteronómio);
Fez-nos filhos no Seu Filho (Romanos);
Garante-nos uma presença até ao fim dos tempos (Evangelho).
– Deus é assim: uno e trino; único e comunitário…
– Porque o nosso Deus é comunhão e não é um Deus solitário, então percebemos que só um amor partilhado é compatível com a nossa fé na Trindade…
– Celebramos um mistério que, mais do que mistério, é compromisso… Como dizia João Paulo II: “Em nome do Pai, haja paz; no nome do Filho, reine a justiça; no nome do Espírito Santo, impere a tolerância”…
O evangelho de hoje mostra-nos Jesus de Nazaré, o Divino que se fez Homem, retorna para o Pai e une o humano ao divino. Nele, todo o gênero humano é elevado e chamado a se unir ao Pai em busca da construção da Jerusalém Celeste.
Enviando os discípulos, Jesus nos leva a buscar o Reino de Deus, não de forma passiva, como numa fila de espera para entrar no Jerusalém Celeste, mas Ele quer de nós ações, quer que busquemos instaurar o Reino de Deus no reino dos homens, que promovamos ações em prol da fraternidade, da solidariedade, da justiça e da paz.
Esperar pela segunda vinda salvadora de Cristo de braços cruzados seria um erro. A espera pela Vida Eterna se dá em querer experienciá-la, aqui e agora, mesmo com nossas limitações humanas, através do nosso testemunho de vida.
Comentários
Postar um comentário