Páscoa - Tempo de assumirmos a nossa tarefa de partilhar esperança

 


Ascensão do Senhor


Ao longo desta pandemia temos observado como muita gente considera que a sua vida ficou suspensa, porque foi impedida de realizar as coisas que tinha programado. 


Face às dificuldades surgidas, alguns parece que desertaram e até se demitiram de fazer um esforço por encarar a realidade. Ora, esta realidade, mesmo que nos tenha surpreendido, faz parte da nossa vida como uma crise económica, uma doença, um acidente ou um conflito familiar. 


Habitamos a realidade e ela interpela-nos constantemente para que assumamos a nossa tarefa de partilhar, com toda a humanidade, “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias”.


A Ascensão de Jesus faz-nos reviver a situação experimentada pelos discípulos de Jesus depois da sua morte e ressurreição. Uma vez ressuscitado, Jesus volta para o Pai e senta-se à sua direita nos Céus (Ef 1:17-23; e Evangelho Mc 16:15-20) e os discípulos ficam na terra, num primeiro momento, a olhar para o Céu mas, sabendo que o mandato de Jesus é de ir por todo o mundo a proclamar a Boa Nova a todas as criaturas (Evangelho). 


A partida de Jesus leva a perceber que o seu lugar é na terra, que eles próprios têm de se transformar e contribuir para a transformação deste mundo indo ao encontro de todos.


  1. Jesus subiu ao Céu

– Em Atos dos Apóstolos os apóstolos evocam os quarenta anos do povo de Deus no seu êxodo do Egito até à terra prometida: assim também Jesus cumpre o seu êxodo pascal indo para o Pai depois de quarenta dias de aparições e de ensinamentos aos discípulos…


– Quarenta dias ou quarenta anos é um tempo-chave de purificação e de amadurecimento da vida de um povo ou de uma pessoa. O acontecimento da Páscoa tinha sido demasiado denso para os discípulos e as dúvidas ainda subsistiam… Por isso precisaram de tempo (quarenta dias) para aclarar as coisas…


– Sendo uma dimensão do mistério pascal de Cristo, a Ascensão traduz a exaltação e a glorificação da natureza humana de Jesus em contraponto com a humilhação e o suplício da morte que sofreu…


– O esquema espacial (“subiu ao Céu”) sugere que antes tenha descido à terra dos homens, à região dos mortos: a aceitação da vontade do Pai que o levou à morte fá-lo subir agora ao âmbito de Deus “sentando-se à sua direita”… Antes, o Filho disse sim ao Pai disponibilizando-se para fazer a Sua vontade; agora, é o sim do Pai que o exalta confirmando a obediência do Filho…


  1. Mas voltará

Jesus falou várias vezes da partida, da ausência, e também da presença e do envio do Espírito… Podem recordar-se algumas passagens do Ev de João a este respeito:


“Ninguém subiu ao Céu a não ser aquele que desceu do Céu” (Jo 3,13) – no diálogo com Nicodemos sobre as coisas do Céu.

No discurso de despedida aos discípulos, ao mesmo tempo que garante a sua presença pelo Espírito, Jesus diz: “Vou preparar-vos um lugar, e quando eu tiver ido e vos tiver preparado o lugar, virei novamente e hei-de levar-vos para junto de mim, a fim de que onde eu estou, vós estejais também” (Jo 14,2-3); “Não vos deixarei órfãos: Eu voltarei a vós” (Jo 14,18); “Eu vou, mas voltarei a vós” (Jo 14,28); “Saí do Pai e vim ao mundo; agora deixo o mundo e vou para o Pai” (Jo 16, 28).


  1. Eles partiram e o Senhor cooperava com eles

– A missão confiada aos discípulos é universal: “ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura e fazei discípulos”. Como na criação foi confiada ao homem toda a obra criada, também agora é em toda a terra que deve ser combatido o mal… Com a Ascensão começa a responsabilidade de todos os cristãos…


– O relato da Ascensão não é apenas uma conclusão da obra de Jesus; é, sobretudo, o princípio do mesmo projeto de Jesus agora confiado aos que Ele escolheu e manda a pregar: “eles partiram a pregar por toda a parte”… De fato, é a partir daqui que os discípulos partem para a sua experiência missionária…


– Pode dizer-se que há duas atitudes face ao mesmo acontecimento: para aqueles que ficam parados, a olhar para o céu, Jesus é elevado, deixou-os e foi para o céu; para os que partem em missão, Jesus vai com eles e não os abandonou…


– A sua palavra de Boa Nova é acompanhada de sinais: a sua linguagem e os seus processos facilitam a comunicação porque vão ao encontro das pessoas, das suas dificuldades e dos seus problemas: têm em conta a realidade…


– É importante recuperar o modo de atuar dos discípulos: vão ao encontro das pessoas, procuram perceber os problemas através de relacionamentos significativos, particularmente as situações onde é necessário levar conforto e esperança… 


Só o ardor missionário ao estilo dos primeiros tempos pode apresentar Jesus como Boa Notícia. As novas tecnologias e o recurso aos novos meios e linguagens podem ser úteis mas, serão sempre a ousadia profética e o testemunho, à maneira dos apóstolos, os meios mais eficazes de transmitir a Boa Nova…

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