Pentecostes - Onde encontrar as forças para ultrapassar as adversidades
Os sermões, as verdades, a doutrina que pregamos não é nossa, é de Cristo. Ele a disse, os Evangelistas a escreveram, nós a repetimos. Pois, se estas repetições são tantas e tão continuadas, e a doutrina que pregamos não é nossa, senão de Cristo, como fazem tão poucos progressos nela, e como aprendem tão pouco os que a ouvem?
“Tudo o que eu vos disse”; o Espírito Santo ensina. O Mestre na cadeira diz para todos, mas não ensina a todos. Diz para todos, porque todos ouvem; mas não ensina a todos, porque uns aprendem, outros não.
E qual é a razão desta diversidade, se o Mestre é o mesmo, e a doutrina a mesma? Porque, para aprender, não basta só ouvir por fora, é necessário entender por dentro. Se a luz de dentro é muita, aprende-se muito; se pouca, pouco; se nenhuma, nada. O mesmo nos acontece a nós. Dizemos, mas não ensinamos, porque dizemos por fora; só o Espírito Santo ensina, porque ilumina por dentro.
“Os ministérios são simples auxílios pois operam exteriormente; só ensina os corações Aquele que tem sua cátedra no Céu”, diz Santo Agostinho.
Por isso até o mesmo Cristo pregando tanto, converteu tão pouco. Se o Espírito Santo não ilumina por dentro, todo o dizer, por mais divino que seja, é dizer; mas se as vozes exteriores são assistidas dos raios interiores da Sua luz, logo qualquer que seja o dizer, e de quem quer que seja, é ensinar; porque só o Espírito Santo é O que ensina.
Por que vos parece que apareceu o Espírito Santo em Pentecostes sobre os apóstolos, não só em línguas, mas em línguas de fogo?
Porque as línguas falam, o fogo ilumina. Para converter Almas, não bastam só palavras; são necessárias palavras e luz.
Se quando o pregador fala por fora, o Espírito Santo ilumina por dentro; se quando as nossas vozes vão aos ouvidos, os raios da Sua luz entram ao coração, logo se converte o mundo.
Assim sucedeu em Jerusalém neste mesmo dia. Sai o apóstolo Pedro do cenáculo de Jerusalém, assistido deste fogo divino, toma um passo do Profeta Joel, declara-o ao povo, e, sendo o povo a que pregava aquele mesmo povo obstinado e cego, que poucos dias antes tinha crucificado a Cristo, foram três mil os que naquela pregação O confessaram por verdadeiro Filho de Deus, e se converteram à fé.
Oh admirável eficácia da luz do Espírito Santo! Oh notável confusão vossa, e minha! Um pescador, com uma só pregação e com um só passo da Escritura, no dia de Pentecostes converte três mil infiéis; e eu, hoje, com cinco e com seis pregações, com tantas Escrituras, com tantos argumentos, com tantas razões, com tantas evidências, não posso persuadir um cristão.
Mas a causa é porque eu falo e o Espírito Santo, por falta de disposição nossa para nEle viver, não ilumina.
Desde o princípio que a Igreja enfrenta dificuldades provocadas quer pelo ambiente cultural exterior, que era hostil, quer por tensões internas porque a abertura aos gentios não se deu sem ultrapassar vários obstáculos, como verificamos nos textos do livro dos Atos dos Apóstolos, e também porque havia conflitos com os líderes judeus (Evangelhos) e de outras autoridades do tempo.
Onde encontrar, então, as forças para ultrapassar as adversidades e levar a diante a vida e obra de Jesus?
Hoje, a oposição, tanto externa como interna, pode não ser tão evidente quando era nas origens da Igreja. Mas, é preciso vencer o vazio, o cansaço e o desencanto que parece dominar a cultura atual.
Dá a impressão que as pessoas não têm motivações nem estímulos para criar algo de novo ou contribuir para a mudança…
Desiludidas, conformam-se com a situação e não acreditam facilmente que possa haver energia e vontade para superar este ambiente de desalento e resignação.
Ora, sempre a Igreja foi conduzida pela força do alto. Como esteve presente no início da vida pública de Jesus, o Espírito também está presente no início da atividade missionária da Igreja (Atos 2,1-11).
É este Espírito que é derramado sobre a Igreja na multiplicidade de dons (Isaías 11:2; 1 Coríntios 12,3-7.12-13). Com os dons do Espírito a Igreja luta contra o mal e transforma-se em força viva e libertadora (João 20,19-23).
1. Todos os cristãos tem o Espírito
– Todos nós recebemos o Espírito Santo, a força que anima, o alimento que dá vida, o que nos aconselha, que nos defende e nos fortalece, que nos dá sabedoria e inteligência,… E se recebemos tudo isto, é para levar esta luz a todos os que dela precisam…
– Este Espírito que recebemos no nosso Batismo multiplica-se e expande-se, torna-nos membros de um corpo onde há muitos membros (1 Coríntios 12,3-7.12-13) e cria unidade na diversidade…
– No princípio, os apóstolos encontravam-se entre o medo e a fidelidade, o temor e a esperança… E é o Espírito que os transforma e os faz sair para a rua, para dar testemunho, em público, de Cristo ressuscitado…
– É assim que nasce a Igreja: pela força do Espírito na pluralidade de dons e tarefas… Com o mesmo Espírito das origens, a Igreja há-de enfrentar os desafios que hoje lhe são apresentados…
2. Deixar-nos conduzir pelo Espírito
– Como descobrir este Espírito na Igreja do séc XXI?
– No princípio da Igreja, todos aqueles que estavam em Jerusalém ficaram admirados porque viram um grupo de pessoas a mudar por completo (Atos 2,1-11) e quando lhe perguntavam o que se havia passado respondiam que tinham recebido “a vida nova de Jesus” e que se tinham deixado levar pelo “seu vento” (discursos dos Atos)…
– O que os Apóstolos fizeram foi começar a viver ao estilo de Jesus… E como é que se pode viver desta maneira no início do terceiro milénio?
Há muitas pessoas que preferem ficar adormecidas, no seu cantinho, com as portas fechadas, sem fazer mal a ninguém e com medo de sair e enfrentar os outros – isto também se passa muito na Igreja!
É preferível uma igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma igreja enferma pelo fechamento e comodidade de se agarrar às próprias seguranças…
Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, um falso bem-estar, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma humanidade faminta e Jesus repete-nos sem cessar: ‘dai-lhes vós mesmos de comer (Mc 6,37).
– O Espírito cria a unidade na diversidade (Partos, Medos, Elamitas…). Todos ouviram proclamar as maravilhas de Deus… Nos dias de hoje, a tentação maior continua sendo a de fechar-se em si mesmo, no nosso grupo, com medo,… Pensar que não há nada a fazer…
– O Pentecostes, encher-se do Espírito (Ef 5:18) há-de levar-nos a reconhecer que os outros são sempre uma riqueza para a comunidade, tanto os que estão mais próximos como os que estão noutros grupos ou noutros movimentos… É o Espírito que cria a unidade quando os seus dons se manifestam em ordem ao bem comum…
– É o mesmo que desce sobre os apóstolos para que falem todas as línguas, a linguagem universal do amor, ultrapassando raças, ideologias e fronteiras… É o Espírito do diálogo, da partilha das dores, dos sofrimentos e das alegrias de toda a humanidade…
– Não fechemos as portas do individualismo, mas aceitemos abri-las para acolher a todos ultrapassando as barreiras e os muros da separação que ainda existem, e evitemos construir outros mesmo que pareça haver causas que os justifiquem…
Orar a Palavra
“Vinde, Senhor, e mandai-nos do céu um raio eficaz de vossa luz” — não pelos nossos merecimentos, que conhecemos quão indignos são, mas pela infinita bondade Vossa.
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