Páscoa – A fidelidade nos momentos difíceis

 


“Nesse momento, muitos de seus discípulos se afastaram dele e o abandonaram. Então Jesus se voltou para os Doze e perguntou: “Vocês também vão embora?. Simão Pedro respondeu: “Senhor, para quem iremos? O senhor tem as palavras da vida eterna.” João 6:66-68

 

Não é estranho que as palavras de Jesus tenham parecido duras aos discípulos. A palavra grega é skleros, que não significa difícil de entender, e sim difícil de aceitar, de tolerar. Os discípulos sabiam muito bem o que Jesus tinha dito. Sabiam que tinha afirmado que era a própria vida de Deus que desceu do céu, e que ninguém podia viver esta vida ou enfrentar a eternidade se antes não o aceitava e se submetia a Ele. 

 

Aqui nos deparamos com uma verdade que volta a aparecer em todas as épocas. Com freqüência o que impede homens de converter-se em cristãos não é a dificuldade intelectual para aceitar a Cristo, e sim o elevado de suas exigências morais.

 

A verdadeira dificuldade do cristianismo é dupla. Exige um ato de entrega a Cristo; uma aceitação de Cristo como a autoridade suprema; e exige um nível moral no qual só os puros de coração podem ver a Deus. 

 

Os discípulos tinham entendido muito bem que Jesus havia dito que Ele era a mente e a própria vida de Deus que veio à Terra: o que era difícil era reconhecer que isso era verdade e aceitar tudo o que isso implicava. 

 

E até o dia de hoje o rechaço de Cristo por parte de muitos homens obedece não a que Cristo intrigue e surpreenda a seu intelecto, mas sim a que apresenta um desafio e uma condenação a suas vidas.

 

E Jesus continua, não para provar sua afirmação e sim para assegurar que algum dia os acontecimentos darão prova dela. Diz o seguinte: "É difícil para vocês crerem que eu sou o pão, o essencial da vida, que desceu do céu. Muito bem, não será difícil aceitar quando um dia me verem subir ao céu". Em outras palavras, trata-se de um preanuncio da Ascensão. Jesus diz: "Quando chegar o momento de Eu voltar ao céu e à minha glória, verão que minhas afirmações são verdadeiras". 

 

Isto é importante. Quer dizer que a Ressurreição é a garantia de todas as afirmações de Jesus sobre si mesmo. Não foi alguém que viveu com nobreza e morreu generosamente por uma causa perdida: foi alguém cujas afirmações ficaram provadas pelo fato de que morreu e ressuscitou.

 

Diante da maravilha da sua entrega, os homens respondem virando-lhe as costas. Não é a multidão, mas os discípulos que o abandonam. Os Doze permanecem, são fiéis ao seu Mestre e Senhor. Possivelmente eles também não compreenderam bem naquele dia aquilo o Senhor lhes prometia, mas permaneceram com Ele todos os dias  e haviam compreendido que Ele tinha palavras de vida eterna; porque o amava profundamente.

“Aonde iremos?”, diz Pedro quando o Senhor lhe pergunta se eles também querem ir embora: “Senhor, a quem iremos nós? Tu tens palavras de vida eterna. E nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus.”

 

Nós, cristãos, vivemos numa época privilegiada para dar testemunho dessa virtude tão pouco valorizada que é a fidelidade. Vemos com frequência como se quebra a lealdade na vida conjugal, nos compromissos assumidos, como se é infiel à doutrina e à pessoa de Cristo. 

 

Os apóstolos mostram-nos que esta virtude se baseia no amor; eles são fiéis porque amam a Cristo. É o amor que os induz a permanecer ao lado do Senhor no meio das deserções. Só um deles o trairá mais tarde, porque tinha deixado de amar. 

 

Por isso que é necessário procurarmos por Jesus, esforçando-nos por conseguir uma fé pessoal profunda que informe e oriente toda a nossa vida; mas sobretudo que o nosso compromisso e o nosso programa sejam amar a Jesus, com um amor sincero, autêntico e pessoal. Ele deve ser o nosso amigo e o nosso apoio no caminho da vida. Só Ele tem palavras de vida eterna. Ninguém mais fora dEle.

 

Enquanto estivermos neste mundo, a nossa vida será uma luta constante entre amar a Cristo e nos deixar levar pela tibieza (frieza, indiferença, frouxidão, moleza), pelas paixões ou por um estilo de vida que prioriza a vaidade, a aparência, o consumo fútil (desnecessário, insignificante, superficial) que mata todo o amor. 

 

A fidelidade a Cristo forja-se na luta contra tudo o que nos afasta dEle, no esforço por progredir nas virtudes. Quais? Há virtudes que nos assemelham à natureza divina (2Pe 1:4): fé, esperança e o amor; e há virtudes que aperfeiçoam nossa natureza humana: justiça, prudência, coragem e temperança. Precisamos amadurecer nessas duas dimensões para então sermos fiéis tanto nos momentos bons como nas épocas difíceis, quando nos parecer que são poucos os que permanecem junto do Senhor.

 

Para nos mantermos numa fidelidade firme ao Senhor, é necessário que lutemos a cada instante, com espírito alegre, ainda que as batalhas sejam pequenas. E uma manifestação desse desejo de nos aproximarmos todos os dias um pouco mais de Deus, de amá-Lo cada vez mais, é o exame de consciência, que nos ajuda a combater com eficácia os defeitos e obstáculos que nos separam de Cristo e dos nossos irmãos, as pessoas, e nos permite adquirir virtudes e hábitos que limam as nossas arestas no relacionamento com o Senhor.

 

O exame de consciência concretiza nossas metas da vida interior e leva-nos a atingir, com a ajuda da graça, uma cota determinada e específica da montanha que é a santidade, ou a expulsar um inimigo, talvez pequeno mas bem preparado, que causa inúmeros estragos e retrocessos. 

 

Hoje, enquanto dizemos ao Senhor que queremos ser-lhe fiéis, devemos também perguntar-nos na sua presença: são grandes os meus desejos de progredir no seu amor? Concretizo esses desejos de luta num ponto específico que possa ser objeto do meu exame particular e partilhado (discipulado) de consciência? 


A fidelidade cheia de perseverança nos momentos difíceis forja-se naquilo que parece pequeno. “Devemos convencer-nos de que o maior inimigo da rocha não é a picareta ou o machado, nem o golpe de qualquer outro instrumento, por mais contundente que seja: é essa água miúda, que se infiltra, gota a gota, por entre as fendas do penhasco, até arruinar a sua estrutura. O maior perigo para o cristão é desprezar a luta nessas desordens que calam pouco a pouco na alma, até a tornarem frouxa, quebradiça.”Josemaria Escrivá

 

Vocês precisam perseverar, a fim de que, depois de terem feito a vontade de Deus, recebam tudo que ele lhes prometeu. Hebreus 10:36

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