Páscoa – Amar como Jesus
A QUINTA-FEIRA SANTA recorda-nos a Última Ceia do Senhor com os Apóstolos. Como nos anos anteriores, Jesus celebra a Páscoa rodeado dos mais íntimos. Mas, desta vez, a celebração tem características mais especiais, por ser a última Páscoa do Senhor antes do seu trânsito para o Pai e em vista dos acontecimentos que nela tem lugar. Todos os momentos desta Última Ceia refletem a majestade de Jesus, que sabe que morrerá no dia seguinte, e o seu grande amor e ternura pelos homens.
A Páscoa era a principal festa judaica e fora instituída para comemorar a libertação do povo judeu da escravidão do Egito. “Conservareis a memória deste dia, celebrando-o como uma festa em honra ao Senhor: fá-lo-eis de geração em geração, pois é uma instituição perpétua” (Ex 12:14). Todos os judeus têm obrigação de celebrar esta festa para manter viva a memória do seu nascimento como Povo de Deus.
Jesus encarregou seus discípulos prediletos, Pedro e João, de preparar as coisas necessárias. Os dois Apóstolos fazem esses preparativos com todo o cuidado. Depois de terem levado o cordeiro ao Templo a fim de imolá-lo, vão à casa onde terá lugar a ceia para assá-lo. Preparam também a água para abluções (purificações – cf Jo 13:5), as “ervas amargas” (que representavam a amargura da escravidão), os “pães ázimos” (que recordavam que os seus antepassados não os tinham cozido pela pressa com que tinham saído do Egito), o vinho, etc.
A Última Ceia começa com o pôr-do-sol. Jesus recita os Salmos com voz firme e num tom particularmente expressivo. O Evangelista Lucas nos diz que Jesus desejava ardentemente comer essa Páscoa com os seus discípulos (Lc 22:15).
Nessas horas aconteceram coisas singulares, que os evangelistas tiveram o cuidado de transmitir-nos em pormenor: a rivalidade entre os Apóstolos, que começaram a discutir quem deles era o maior; o exemplo surpreendente de humildade e de serviço que Jesus dá quando se ajoelha, e executa uma tarefa que se deixava aos servos mais ínfimos: começou a lavar-lhes os pés; o amor e a ternura que manifesta pelos seus discípulos: Filhinhos meus ..., chega a dizer-lhes.
“O próprio Senhor quis dar àquela reunião tal plenitude de significado, tal riqueza de recordações, tal comoção de palavras e sentimentos, tal novidade de atos e preceitos, que nunca acabaremos de meditá-los e explorá-los. É uma ceia testamentária; é uma ceia afetuosa e imensamente triste, e ao mesmo tempo misteriosamente reveladora de promessas divinas, de perspectivas supremas. Está próxima a morte, com inauditos presságios de traição, de abandono, de imolação; a conversa decai logo, enquanto a Palavra de Deus flui aos borbotões, nova, extremamente doce, tensa em confidências supremas, pairando assim entre a vida e a morte” (Giovanni B. E. A. M. Montini – Paulo VI).
O que Cristo fez pelos seus pode resumir-se nestas breves palavras do apóstolo João: “amou-os até o fim” (Jo 13:1). Hoje é um dia especialmente apropriado para meditarmos nesse amor de Jesus por cada um de nós e no modo como estamos lhe correspondendo.
E, AGORA, ENQUANTO COMIAM, muito provavelmente no fim da ceia, Jesus tem um gesto transcendente e ao mesmo tempo simples, numa atitude que os Apóstolos conheciam tão bem; permanecem em silêncio por uns instantes e, a seguir, institui a Eucaristia.
O Senhor antecipa de forma sacramental o sacrifício que consumará no dia seguinte no Calvário. Até aquele momento, a Aliança de Deus com seu povo estava representada pelo cordeiro pascal sacrificado no altar dos holocaustos, pelo banquete de toda família na ceia pascal.
Agora o Cordeiro imolado é o próprio Cristo. Esta é a nova aliança no meu sangue ... O Corpo de Cristo é o novo banquete que congrega todos os irmãos: Tomai e comei ... Com a imolação e oferenda de Si próprio – Corpo e Sangue – ao Pai, como Cordeiro sacrificado, o Senhor inaugura a nova e definitiva Aliança entre Deus e os homens, e ela redime-os a todos da escravidão do pecado e da morte eterna.
Jesus dá-se-nos na Eucaristia para nos fortalecer na nossa fraqueza, para nos acompanhar na nossa solidão e como antecipação do Céu. Na véspera da sua paixão e morte, dispôs as coisas de modo a que nunca faltasse esse Pão até o fim do mundo. Porque, nessa noite memorável, Jesus deu aos Apóstolos e aos seus sucessores, o poder de renovarem o prodígio até o fim dos tempos: Fazei isto para celebrar a minha memória (Lc 22:19). Com o sacramento da Eucaristia que durará até que o Senhor venha (1Co 11:26).
“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” (Jo 13:35).
Jesus fala aos apóstolos da sua iminente partida, e é então que anuncia o mandamento novo, proclamado também em todas as páginas do Evangelho: Este é o novo mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. (Jo 15:12).
Desde então, sabemos que o amor incondicional é o caminho para seguir a Deus mais de perto e para encontrá-lo com maior prontidão. Deus é amor, e a alma entende-o melhor quando pratica a compaixão, generosidade, bondade, com maior pureza; e torna-se mais nobre na medida em que cresce nessa virtude espiritual.
O modo como tratamos e servimos os que nos rodeiam será o sinal pelo qual nos hão de reconhecer como discípulos do Senhor.
“Ele não fala em ressuscitar mortos nem em qualquer outra prova evidente, mas nesta: que vos ameis uns aos outros”. Tomaz de Aquino
Muitos querem saber se amam a Cristo e procuram sinais pelos quais possam descobri-Lo. O sinal que nunca engana é o amor incondicional e sacrificial. E essa é também a medida do estado da nossa vida interior, especialmente da nossa vida de oração e misericórdia.
“Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis” (Jo 13:34). É um mandamento novo porque são novos os seus motivos: o próximo é um só com Cristo, e por isso é objeto de um especial amor do Pai. É um mandamento novo porque estabelece relações novas entre os homens; porque o modo de cumpri-lo será sempre novo: como eu vos amei; porque se dirigi a um povo novo e requer corações novos; porque estabelece os alicerces de uma ordem diferente e desconhecida até então. É novo porque sempre será uma novidade para os homens, acostumados aos seus egoísmos e às suas vaidades.
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