Páscoa - Uma verdade que encontrou seu lugar na impotência humana
“Jesus respondeu: — O meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas agora o meu Reino não é daqui.” João 18:36
O homem Jesus coberto de feridas expressa uma verdade profunda sobre o ser humano e seu destino. O ser humano é nada.
O que sabemos sobre o ser humano enquanto recuarmos diante da possibilidade de contemplar sem qualquer ilusão o limite extremo do destino humano, enquanto não tocarmos o fundo, enquanto desviarmos nossos rostos do abismo?
As mortes nos confrontam com uma verdade que se encontra além do mundo do poder e do ter; com uma verdade que encontrou seu lugar na impotência humana.
Em vez de se aliar com esse Mundo que jaz no maligno, a Verdade prefere tornar-se sua vítima.
Não queremos morrer e, mesmo assim, estamos tão entregues à morte que ela permeia tudo na vida como um poder assombroso.
Ele precisaria estar pregado. Pois a nossa liberdade nesta terra desemboca na necessidade do sofrimento. Ele precisaria ter um coração traspassado. Pois, no fim, tudo se transforma em lança que derrama a última gota de sangue do nosso coração”.
O homem ferido, acusado diante de um tribunal de um poder cínico, não nos é mais próximo e íntimo do que a imagem de um “Bom Pastor” amável nos cartões devocionais?
Já Pascal sabia muito bem que uma religião que se recusa a mostrar ao ser humano toda a sua miséria nada mais é do que a ilusão de uma projeção narcisista: “[...] aqueles que reconheciam Deus sem reconhecer sua miséria, não o louvavam, louvavam apenas a si mesmos”.
No final da narrativa da Páscoa, segundo São João, Jesus volta a mostrar suas feridas. E o apóstolo, até então atormentado por suas dúvidas, exclama: “Meu Senhor e meu Deus!”
Páscoa é o êxodo – a transição de uma visão das feridas de Jesus para outra, a transição do Ecce homo (latim: Eis o homem - expressão usada por Pilatos) para o Ecce Deus!
A alegria de Tomé, sua “segunda conversão”, foi provocada por algo que, evidentemente, o tocou de forma mais profunda do que os outros apóstolos: a identidade do Crucificado com o Ressurreto. As feridas de Jesus apontam para ele.
Quando testemunho pessoas que amo, sendo feridas e mortas, percebo-me impotente diante do poder do mal, mas envolvido pelo Espírito Santo Consolador que me promete que verei o “Meu Senhor e meu Deus” juntamente com todos os remidos.
Comentários
Postar um comentário