Páscoa - O mistério inefável de Deus

 


“A consciência da finitude é ansiedade” Paul Tillich


Quando sabemos em nossa própria pele, o quanto somos contingentes - refere-se ao fato de que as coisas vêm a existir e depois deixam de fazê-lo - ficamos temerosos. Nós existimos no tempo, o que significa que caminhamos inelutavelmente para a morte.


Fomos lançados na existência, e portanto seremos um dia lançados para fora dela. Este estado de coisas produz medo e tremor. Tillich argumenta que tendemos a nos debater nas garras da ansiedade, buscando algo que nos dê segurança, um solo firme em que possamos ficar de pé.


Nós procuramos aliviar nossos medos acumulando prazeres, riquezas, poder ou honrarias, mas logo descobrimos que todas essas realidades terrenas são tão contingentes quanto nós somos, por isso, jamais podem nos acalmar. 


É nesse ponto que ressoam mais profundamente aquelas palavras das Escrituras: “Só em Deus minha repousa” (Sl 62,1). Nosso medo, cuja origem é a contingência, só será amenizado por aquilo que não é contingente. 


Nossa existência frágil e agitada só se estabilizará quando estiver em relação com a existência eterna e necessária de Deus. 


Ó Senhor, fizeste-nos para Ti, e inquieto está nosso coração enquanto não repousa em Ti.” Santo Agostinho 


Quando a tentativa de ser igual a Deus fracassa, o que inevitavelmente acontece, Adão e Eva passam a outro movimento clássico do pecador: escondem-se de Deus sob os arbustos do Jardim do Éden. Deus os descobre logo, é claro, pois, como fundamento do ser, é inevitavelmente íntimo de todas as criaturas.


Boa parte das narrativas bíblicas subsequentes de seres humanos que repetem as atitudes errantes de nossos primeiros pais, isto é, as tentativas de manipular a Deus e escapar dele. Todas essas táticas, no entanto, são impossíveis - e, por isso mesmo, moral, psicológica e espiritualmente frustrantes. 


Deus quer, ao longo de toda a Bíblia, nos demover dessas atitudes desesperançadas e nos conduzir a um estágio de amizade. 


Assim, o salmista pode dizer com assombro: “Senhor, tu me sondas e conheces: conhece meu sentar e levantar. [...] A palavra ainda não me chegou à língua, e tu, Senhor, já a conheces inteira.” (Sl 139:1-4). 


Santo Agostinho capta este modo único de ser da divindade ao dizer que Deus é, ao mesmo tempo “mais íntimo de mim do que sou eu mesmo e superior a qualquer coisa que eu possa imaginar.” 


Travar uma verdadeira relação com Deus, portanto, não consiste nem em tentar alcançá-lo, nem em esconder-se dEle, pois ambas as hipóteses são impossíveis; trata-se, antes, de render-se a Ele no amor.

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