Páscoa - A Oração de Jesus
Depois da última ceia, Jesus e os Apóstolos recitaram os salmos de ação de graças, como era costume. A seguir, a pequena comitiva dirigiu-se a um horto vizinho, chamado das Oliveiras. Jesus tinha prevenido Pedro e os demais Apóstolos de que, nessa noite, todos – de um modo ou de outro – o negariam deixando-o só.
Foram em seguida ao lugar chamado Getsêmani, e Jesus disse aos seus discípulos: Sentai-vos aqui enquanto vou orar. Levou consigo Pedro, Tiago e João; e começou a sentir pavor e a angustiar-se. Disse-lhes: A minha alma está triste até a morte; ficai aqui e vigiai. Depois afastou-se à distância de um tiro de pedra. (Mc 14:32-34)
Jesus sente uma enorme necessidade de orar. Detêm-se junto de uma pedra e cai abatido: Prostrou-se por terra, escreve São Marcos. São Lucas diz: Ajoelhou-se, e São Mateus pormenoriza: prostrou-se com a face por terra, embora os judeus normalmente orassem de pé.
Jesus dirigiu-se ao Pai com uma oração cheia de confiança e ternura, na qual entrega totalmente a Ele: Meu Pai, diz-lhe, se possível, afasta de mim este cálice. Não se faça, porém, como eu quero, mas como tu queres. Poucos minutos antes, tinha comunicado aos seus discípulos que se sentia possuído de uma tristeza capaz de lhe causar a morte. Assim sofre Jesus: Ele, que é a própria inocência, carrega sobre si o fardo de todos os pecados dos homens: dos já cometidos, dos que se estavam cometendo naquele momento e dos se cometeriam até os fins dos tempos.
O Senhor não só se tornou fiador das culpas alheias, mas fez-se uma só coisa conosco, como acontece com a cabeça e o corpo: Ele quis que as nossas culpasse chamassem suas, por isso não pagou somente com o seu sangue, mas com a vergonha desses pecados. Todas essas causas de sofrimento eram captadas em toda a sua intensidade pela alma de Cristo.
Contemplamos em silêncio como Jesus sofre: Entrando em agonia, orava mais intensamente, e como chega a derramar um suor de sangue. Jesus, só e triste, empapava a terra com o seu sangue. De joelhos sobre a terra dura, persevera em oração ... Chora por ti ... e por mim: esmaga-O o peso dos pecados dos homens. Mas a sua confiança no Pai não se desfalece, e persevera na oração. Quando parece que o corpo não pode resistir mais, vem um anjo confortá-lo. A natureza humana do Senhor mostra-se nesta cena em toda a sua capacidade de sofrimento.
Na nossa vida, pode haver momentos de luta mais intensa, de escuridão e de dor profunda, em que nos custe aceitar a vontade de Deus e sejamos assaltados pela tentação do desalento. A imagem de Cristo no Horto das Oliveiras há de mostrar-nos então o que devemos fazer: abraçar-nos à vontade de Deus, sem lhe estabelecer limites nem condições de tipo algum, e identificar-nos com o querer de Deus por meio de uma oração perseverante.
Jesus ora no Horto: meu Pai (Mt 26:39), Abba Pai! (Mc 14:36). Deus é meu Pai, ainda que me envie sofrimento. Ama-me com ternura, mesmo que me fira. Jesus sofre, para cumprir a vontade do Pai ... E eu, que também quero cumprir a Santíssima vontade de Deus, seguindo os passos do Mestre, poderei queixar-me se encontro por companheiro de caminho o sofrimento?
JESUS CONTEMPLA-NOS nesta noite num simples olhar. Vê as almas e os corações à luz da sua sabedoria divina. Desfila diante dos seus olhos o espetáculo de todos os pecados dos homens, seus irmãos. Vê a deplorável oposição de tantos que desprezam a reparação que oferece por eles, a inutilidade em tantos casos do seu sacrifício generoso. Sente uma grande solidão e dor moral pela rebeldia e falta de correspondência ao Amor divino.
Por três vezes procura a companhia na oração daqueles três discípulos. Velai comigo, ficai a meu lado, não me deixes só, tinha-lhes pedido. E voltando, achou-os de novo dormindo, pois tinham os olhos carregados e não sabiam o que responder-lhe (Mc 14:40). No seu terrível desamparo, Jesus procura talvez um pouco de companhia, de calor humano. Mas os amigos abandonaram o Amigo. Era uma noite para permanecerem velando e orando; e dormem. Ainda não amam bastante, e são vencidos pela debilidade e pela tristeza, deixando Jesus sozinho. O Senhor não encontra apoio neles; tinham sido escolhidos para isso e falharam.
Temos de orar sempre, mas há momentos em que essa oração deve intensificar-se. Abandoná-la equivaleria a deixar Cristo abandonado e ficar à mercê do inimigo. Por que dormis? Diz-lhes Jesus, e repete-o a cada um de nós. Levantai-vos e orai, para não cairdes em tentação.
Por isso dizemos ao Senhor: Se vês que durmo, se descobres que a dor me assusta, se notas que fico paralisado ao ver de perto a Cruz, não me abandones! Diz-me, como a Pedro, como a Tiago, como a João, que necessitas da minha correspondência, do meu amor. Diz-me que, para seguir-te, para não tornar a abandonar-te às mãos dos que tramam a tua morte, tenho que vencer o sono, as minhas paixões, o comodismo.
A nossa meditação diária, se for verdadeira oração, nos manterá vigilantes diante do inimigo que não dorme. E nos dará a coragem de que necessitamos para enfrentar e vencer as tentações e dificuldades. Quem a desleixa cai nas mãos do inimigo, perde a alegria e se vê sem forças para acompanhar Jesus:
Sem oração, como é difícil acompanhá-Lo! Sabemos por experiência. Mas, se nos fizermos fortes pelo nosso relacionamento diário com Ele, poderemos dizer-lhe sem hesitar: Ainda que seja preciso morrer contigo, não te negarei. Pedro não pode cumprir a sua promessa naquela noite, entre outros motivos porque não perseverou na oração que o Senho lhe pedia.
A CONTEMPLAÇÃO desta cena da Paixão pode ajudar-nos muito a ser fortes para nunca omitirmos a nossa oração diária e para cumprirmos a Vontade de Deus nas coisas que nos custam.
Senhor, não se faça como eu quero, mas como tu queres. Dizemos hoje com sinceridade total.
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