Páscoa - Os métodos que emprega Jesus com o pecador
“O Filho do Homem vai morrer, conforme diz a Escritura a respeito dele. Contudo, ai daquele que o trair.”
Judas tinha oculto seus planos a seus companheiros, mas não podia escondê-los de Cristo. Sempre acontece o mesmo: qualquer um pode esconder seus pecados de seu próximo, mas nunca pode escondê-los dos olhos de Jesus Cristo que vê os segredos do coração. Jesus sabia, e era o único que sabia, quais eram os planos de Judas.
E agora podemos ver os métodos que emprega Jesus com o pecador. Jesus poderia ter usado seu poder para fulminar ao Judas, para paralisá-lo, para fazê-lo impotente, até para matá-lo. Mas a única arma que Jesus está disposto a usar é o apelo do amor. Um dos grandes mistérios da vida é o respeito que Deus manifesta para com a livre vontade do homem. Deus não obriga, não coage, só chama.
Quando Jesus trata de evitar que algum homem peque, faz duas coisas.
Em primeiro lugar, enfrenta o homem com seu pecado. Trata de obter que o homem se detenha, veja e pense no que está fazendo. É como se lhe dissesse: "Olhe o que está por fazer.
Pode, em realidade, fazer algo semelhante?" Tem-se dito que nossa maior segurança diante do pecado reside no fato de que nos surpreende e escandaliza. E Jesus faz, uma e outra vez, que o homem se detenha, veja e se dê conta para que sua surpresa o devolva à prudência.
Em segundo lugar, enfrenta o homem com ele, com o próprio Jesus. Faz com que o homem o olhe para lhe dizer: "Pode me olhar, pode ver meus olhos, e ir fazer o que te propões?"
O apelo de Jesus consiste em fazer com que o homem perceba o caráter horrível do que tenta fazer, e o amor que deseja evitar sua ação.
E aí é justamente onde vemos o espanto do pecado. O verdadeiro horror do pecado reside em seu caráter intencional e deliberado. Apesar do último apelo do amor, Judas prosseguiu. Mesmo confrontado com seu pecado e com o rosto de Cristo, Judas se negou a retroceder.
Há pecado e pecado. Há o pecado do coração apaixonado, e o do homem que, no impulso do momento, é miserável ao pecado antes de dar-se conta do que aconteceu.
Não se pode subtrair importância a esse tipo de pecado, pode ter conseqüências terríveis. Mas é muito pior o pecado frio, calculado, indiferente, premeditado, que sabe a sangue frio o que está fazendo, a quem se enfrenta com o horror do fato, e com o olhar amante de Jesus, e entretanto, escolhe seu próprio caminho.
Nosso coração se indigna ante o filho ou a filha que destroça o coração de seus pais com premeditação – e isso é o que Judas fez com o Jesus – e o trágico é que também é algo que nós mesmos fazemos com freqüência.
Jesus foi traído por um dos seus discípulos, os homens mais próximos dele. Quase todos o abandonaram, não estavam ao pé da cruz no momento em que Jesus mais precisava de seus amigos e discípulos.
Este é talvez o fato mais desconcertante que os evangelhos narram. Custa muito pensar que Jesus tenha sido traído por um de seus seguidores mais íntimos. Os primeiros cristãos perceberam a dificuldade e recorreram às Escrituras para demonstrar que até mesmo um ato vil se cumpria o desígnio de Deus.
As razões de Judas Iscariotes para cometer essa traição poderia ter sido seu amor pelo dinheiro, a ambição, a inveja ou a desilusão. A fidelidade da mulher na casa de Simão contrasta fortemente com a infidelidade de um dos Doze.
O ato egoísta destes homens e, sobretudo o de Judas, é facilmente condenável por todos nós, mas quantas vezes nos assemelhamos a Judas em nossas atitudes, arrogando a nós o direito de sermos os portadores da verdade e os escolhidos para apontar nossas denúncias aos outros?
Por vezes é necessário ativismo da nossa parte, porém “ai daquele” que trouxer tais denúncias, ai dos que fazem uso de sua voz não para proclamar a paz e buscar o melhor para todos, mas sim para transbordar sua intemperança, arrogância, impaciência e descontentamento pessoal nos outros.
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