Páscoa - Adoração Genuína

 


Vinde, e ao mesmo tempo que subimos o monte das Oliveiras, saiamos ao encontro de Cristo, que volta hoje de Betânia onde ressuscitou Lázaro, e, por vontade própria, apressa o passo rumo à sua venerável e feliz paixão, para levar à plenitude o mistério da salvação dos homens.
 
Jesus faz a sua entrada em Jerusalém, como Messias, montado num burrinho, segundo fora profetizado muitos séculos antes (cf Zc 9:9). E os cânticos do povo eram claramente messiânicos. Estas pessoas simples conheciam bem essas profecias e manifestam-se cheias de júbilo, Jesus aceita a homenagem, e quando os fariseus que também conheciam as profecias, tentaram sufocar aquelas manifestações de fé e alegria, o Senhor disse-lhes: Digo-vos que, se estes se calarem, clamarão as pedras. (Lc 19:39). 
 
Hoje Jesus quer também entrar triunfante na vida dos homens, sobre uma montaria humilde: quer que demos testemunho dEle com a simplicidade do nosso trabalho bem feito, com a nossa alegria, com a nossa serenidade, com a nossa sincera preocupação pelos outros. Quer se fazer presente em nós através das circunstâncias do viver humano. 
 
O CORTEJO TRIUNFAL de Jesus transpôs o cume do monte das Oliveiras e desceu pela vertente ocidental a caminho do Templo, que se podia avistar dali. Toda a cidade surgiu diante dos olhos de Jesus. E, ao contemplar aquele panorama chorou (Lc 19:41).
 
Esse pranto, no meio de tantos gritos alegres e em tão solene entrada, deve ter sido completamente inesperado. Os discípulos devem ter ficado desconcertados. Tanta alegria que se quebrava subitamente, num instante!
 
Jesus vê como Jerusalém se afunda no pecado, na ignorância e na cegueira: Oh se ao menos neste dia, que te é dado, conhecesses o que te pode trazer a paz! Mas agora tudo está oculto aos teus olhos (Lc 19:42).
 
O Senhor vê como virão outros dias que já não serão como este, um dia de alegria e de salvação, mas de desgraça e ruína. Poucos anos mais tarde, a cidade será arrasada. Jesus chora a evasiva (pretexto, mentira, fuga, artimanha) de Jerusalém. Como são significativas estas lágrimas de Cristo! Cheio de misericórdia, compadece-se da cidade que o rejeita.
 
Não ficou nada por tentar: nem milagres, nem obras, nem palavras, em tom severo umas vezes, benevolente outras ... Jesus tentou tudo com todos: na cidade e no campo, com pessoas simples e com sábios, na Galileia e na Judeia ... 
 
Como também na nossa vida nada ficou por tentar, remédio algum por oferecer. Tantas vezes Jesus saiu ao nosso encontro, tantas graças ordinárias e extraordinárias derramou sobre a nossa vida! De certo modo, o próprio Filho de Deus se uniu a cada homem pela sua Encarnação. Trabalhou com mãos humanas, pensou com mente humana, amou com coração de homem. Nascido de Maria virgem fez-se verdadeiramente um de nós, igual a nós em tudo menos no pecado. Cordeiro inocente, mereceu-nos a vida derramando livremente o seu sangue, e nEle o próprio Deus reconciliou consigo e entre nós mesmos e nos arrancou da escravidão do demônio e do pecado, e assim ainda cada um de nós pode dizer com o apóstolo: O Filho de Deus amou-me e entregou-se por mim (Gl 2:20). 
 
A história de cada homem é a história da contínua solicitude de Deus para com ele. Cada homem é objeto da predileção do Senhor. Jesus tentou tudo com Jerusalém, e a cidade não quis abrir as portas da misericórdia. É o profundo mistério da liberdade humana, que tem a triste possibilidade de rejeitar a graça divina. 
 
Como estamos correspondendo às inúmeras instâncias do Espírito Santo para que sejamos santos no meio das nossas tarefas, no nosso ambiente? Quantas vezes a cada dia dizemos sim a Deus, e não ao egoísmo, à preguiça, a tudo o que significa falta de amor, mesmo em pormenores insignificantes?
 
QUANDO O SENHOR entrou na Cidade Santa, os meninos hebreus profetizaram a ressurreição de Cristo, ao proclamarem com ramos de palmas: Hosana nas alturas!
 
Nós sabemos agora que aquela entrada triunfal foi bastante momentânea para muitos. Os ramos verdes murcharam rapidamente. O hosana entusiástico transformou-se, cinco dias mais tarde, num grito furioso: Crucifica-o! Por que foi tão brusca a mudança, por que tanta inconsistência? Para podermos entender um pouco do que se passou, talvez tenhamos que consultar o nosso coração.
 
Como eram diferentes umas vozes e outras! Fora, fora, crucifica-o e bendito o que vem em nome do Senhor, hosana nas alturas! Como são diferentes as vozes que agora o aclamam Rei de Israel e dentro de poucos dias dirão: Não temos outro rei além de César! Como são diferentes os ramos verdes e a Cruz, as flores e os espinhos! Àquele a quem antes estendiam as próprias vestes, dali a pouco o despojam das suas e lançam a sorte sobre elas.
 
A entrada triufal de Jesus em Jerusalém pede-nos coerência e perseverança, aprofundamento na nossa fidelidade, para que nossos propósitos não sejam luz que brilha momentaneamente e logo se apaga. Muito dentro do nosso coração, há profundos contrastes: somos capazes do melhor e do pior. Se queremos ter em nós a vida divina, triunfar com Cristo, temos de ser constantes e matar pelo arrependimento o que nos afasta de Deus e nos impede de acompanhar o Senhor até a Cruz.
 
A liturgia do Domingo de Ramos põe na boca dos cristãos este cântico (Salmo 24: 7,8): 

“Abram-se, portões da cidade!
Abram-se, antigos portais,
para que entre o Rei da glória.
Quem é o Rei da glória?
O Senhor, forte e poderoso.
O Senhor, invencível nas batalhas.”
 
Quem permanece preso, recolhido na cidadela do seu egoísmo não descerá ao campo de batalha. Mas, se abrir as portas da fortaleza e permitir que entre o Rei da paz, sairá com Ele a combater contra toda essa miséria que embaça os olhos e insensibiliza a consciência.

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