Páscoa - O Modo de dar sentido aos erros

 


Jesus está à mesa com os discípulos. A mesa é lugar de comunhão. Jesus manifesta a sua perturbação. Os discípulos percebem que algo se passa, mas não sabem o quê, não têm capacidade de discernimento. 


Jesus está só, diante da verdade. Pedro é o discípulo preocupado. João é o discípulo amado. O Mestre é quem ama. O discípulo está no coração do Mestre. Há cumplicidade entre Pedro e João. Judas, pelo contrário, é o traidor. 


A hostilidade de Judas é manifesta nas palavras de Jesus, no pão que toma, na saída apressada, na noite onde se perde. “Depois de ele sair” a situação transforma-se. O tema agora é a glorificação de Jesus, o seguimento dos discípulos e a negação de Pedro. Aproximam-se momentos difíceis para todos. É a hora das trevas.


As palavras que me esmagam são estas “um de vós me entregará”. “Um de vós” pode ser um qualquer, posso ser eu. Aquele que o vai entregar pode ser um qualquer. 


Todas as possibilidades estão em aberto para ser eu, aquele que entrega o mestre. Pretendo dizer a Judas “não faças isso, não toques no pão, não saias deste lugar, não queiras entrar na noite”. Mas, como dizer isto a mim mesmo com a eficácia necessária para não entregar o Mestre?


O pecado, a infidelidade em maior ou menor grau, é sempre uma negação de Cristo e do que há de mais nobre em nós, dos melhores ideais que o Senhor semeou no nosso íntimo. O pecado é a grande ruína do homem. Por isso, temos de lutar com afinco, com a ajuda da graça, para evitar todo pecado grave - os que resultam da malícia, da fragilidade, da tibieza (indiferença, desânimo, preguiça) e de todo erro deliberado.


Mas, se tivermos a desgraça de cometê-lo, temos de tirar proveito do próprio pecado, pois a contrição fortalece a amizade com o Senhor. Os nossos erros não devem desanimar-nos nunca, se reagirmos com humildade. 


Um arrependimento sincero é sempre ocasião de um encontro novo com o Senhor, e dEle podem derivar consequências inesperadas para a nossa vida interior. 


Jesus recebe-nos sempre e alegra-se quando recomeçamos o caminho que havíamos abandonado.


A contrição dá a alma uma particular fortaleza, devolve-lhe a esperança, faz com que o cristão se esqueça de si mesmo e se aproxime novamente de Deus, num ato de amor mais profundo.


A contrição enriquece a qualidade da vida interior e atrai sempre a misericórdia divina. “Os meus olhares deixam-se atrair pelo humilde, pelo coração contrito que teme a minha Palavra” (Is 66:2).


Cristo não terá inconveniente em edificar a sua Igreja sob a liderança de um homem que podia cair e que caiu. Deus conta também com os instrumentos frágeis para realizar - se se arrependem - as suas grandes obras: a salvação dos homens.


Além de nos dar uma grande virtude, a verdadeira contrição prepara-nos para ser eficazes entre os outros. 


Junto de Cristo, o arrependimento transforma-se numa dor gozosa, porque se recupera a amizade perdida. Num instante, pela dor em face de suas negações, Pedro uniu-se ao Senhor muito mais fortemente do que jamais o estivera. 


As suas negações foram o ponto de partida de uma fidelidade que o levaria até o testemunho supremo do martírio. Judas, pelo contrário, ficou só: ‘Que nos importa? Isso é problema seu!’ Disseram-lhe os sacerdotes do templo. Judas, no isolamento produzido pelo pecado, não soube ir a Cristo, faltou-lhe a esperança que é a virtude que gera o arrependimento.


Mas que diferença entre Pedro e Judas! Os dois foram infiéis ao Senhor, embora de modo diferente. Ambos se entristeceram. Mas, enquanto Pedro viria a se arrepender e ser reconciliado à comunhão, Judas foi e enforcou-se.


O mero remorso, decepção humana não basta; produz angústia, amargura e desespero. 


Devemos despertar com frequência no nosso coração a dor de Amor pelos nossos pecados, sobretudo ao fazermos o exame de consciência no fim do dia, e fazermos nossa confissão.


“O Mestre passa, uma vez e outra vez, muito perto de nós. Olha-nos ... E se o olhas, se o escutas, se não o rejeitas, Ele te ensinará o modo de dares sentido sobrenatural a todas as tuas ações... E então também tu semearás, onde quer que te encontres, consolo, paz e alegria.


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