FÉ: uma luz que ilumina todo o percurso da estrada
Na fé, dom de Deus e virtude sobrenatural por Ele infundida,
reconhecemos que um grande Amor nos foi oferecido, que uma Palavra estupenda
nos foi dirigida: acolhendo esta Palavra que é Jesus Cristo - Palavra encarnada
-, o Espírito Santo transforma-nos, ilumina o caminho do futuro e faz crescer
em nós as asas da esperança para o percorrermos com alegria. Fé, esperança e amor
(caridade) constituem, numa interligação admirável, o dinamismo da vida cristã
rumo à plena comunhão com Deus. Mas, como é este caminho que a fé desvenda
diante de nós? Donde provém a sua luz, tão poderosa que permite iluminar o
caminho duma vida bem sucedida e fecunda, cheia de fruto?
A fé está ligada à escuta. Abraão
não vê Deus, mas ouve a sua voz. Deste modo, a fé assume um carácter pessoal: o
Senhor não é o Deus de um lugar, nem mesmo o Deus vinculado a um tempo sagrado
específico, mas o Deus de uma pessoa, concretamente o Deus de Abraão, Isaac e
Jacob, capaz de entrar em contacto com o homem e estabelecer com ele uma aliança.
A fé é a resposta a uma Palavra que interpela pessoalmente, a um Tu que nos
chama por nome.
Esta Palavra comunica a Abraão
uma chamada e uma promessa. Convite a abrir-se a uma vida nova, início de um
êxodo que o encaminha para um futuro inesperado. Mas tal Palavra contém ainda
uma promessa: a tua descendência será numerosa, serás pai de um grande povo
(cf. Gn 13, 16; 15, 5; 22, 17). Se torna capaz de abrir ao futuro, de iluminar
os passos ao longo do caminho.
A Palavra que foi capaz de
suscitar um filho no seu corpo «já sem vida (…), como sem vida estava o seio»
de Sara estéril (Rm 4, 19), também será capaz de garantir a promessa de um
futuro para além de qualquer ameaça ou perigo (cf. Heb 11, 19; Rm 4, 21).
A luz de Deus brilha para Israel,
através da comemoração dos factos realizados pelo Senhor, recordados e
confessados no culto, transmitidos pelos pais aos filhos. Deste modo aprendemos
que a luz trazida pela fé está ligada com a narração concreta da vida, com a
grata lembrança dos benefícios de Deus e com o progressivo cumprimento das suas
promessas.
A história de Israel mostra-nos
ainda a tentação da incredulidade, em que o povo caiu várias vezes. Aparece
aqui o contrário da fé: a idolatria. Perdida a orientação fundamental que dá unidade
à sua existência, o homem dispersa-se na multiplicidade dos seus desejos;
negando-se a esperar o tempo da promessa, desintegra-se nos mil instantes da
sua história. A idolatria não oferece um caminho, mas uma multiplicidade de
veredas que não conduzem a uma meta certa, antes se configuram como um
labirinto. Quem não quer confiar-se a Deus, deve ouvir as vozes dos muitos ídolos
que lhe gritam: «Confia-te a mim!»
Fonte: Encíclica Lumen Fidei
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