Ser cristão é sempre procurar viver como Jesus

 



Estamos no início de uma seção do Evangelho que se desenvolve entre a saída da Galiléia e a ida a Jerusalém, na qual Jesus passa quase todo o seu tempo na formação de um grupo de discípulos que deverão ser, depois de sua ascensão, os pastores da comunidade.


Procedendo assim, ele não abandona o povo para cuidar de uma elite; não se separa das massas; somente procura seu bem de modo diferente; toma providências em vista do futuro de seu Reino. Hoje diríamos: preocupa-se com o futuro da Igreja. 


Nesta formação dos futuros pastores das comunidades, Jesus alterna a “ação” (o envio em missão) e a “contemplação”; o contato com as multidões e a solidão com ele. Nesta última, ele os educa à oração (cf Lc 11:1ss) e os instrui sobre os mistérios do Reino (cf Mc 4:10s). 

Ao longo da história da salvação, Deus foi mandando guias e pastores ao seu povo para que o organizassem e lhe dessem a segurança necessária frente às incursões de outros povos e ao oportunismo de falsos líderes.


  1. Há maus pastores mas, Deus cuida das ovelhas

– Hoje, apesar de tantas possibilidades de segurança e de cultura, também sentimos a falta de autênticos pastores e debatemo-nos com os mesmos problemas do povo de Israel: há pastores que dispersam as ovelhas, que criam a confusão dizendo mentiras, fomentam as incertezas e o medo do futuro para eles se imporem com o seu poder…


– Em nome de uma certa cultura, desconsideram as nossas raízes cristãs, a nossa literatura, os nossos hábitos, para dispersar em vez de congregar…


– A democracia e a liberdade em que todos queremos viver não pode ser o pretexto para pôr em causa a nossa convivência e os valores permanentes que fazem parte da nossa história…


– Estes modelos novos que nos querem impor, sem regras nem responsáveis, abrangem as diferentes áreas da nossa vida: a política, a economia, a cultura, o social, e também eclesial…


– Apesar de tudo, Deus não deixa de suscitar, na Igreja, em todos os tempos e também nos nossos, homens e mulheres que despertam para realidades novas e congregam os fiéis à volta de causas antigas e novas… 


E ainda que algumas vezes escasseiem as referências humanas, Deus nunca abandona o seu povo porque é Ele próprio que reúne e toma conta das suas ovelhas, como diz o profeta Jeremias (23:1-6) e o Salmo 23: é Ele o pastor que conduz e nada nos falta…


  1. Jesus é o nosso bom pastor

– Depois dos discípulos terem feito a experiência do anúncio do Reino e de realizar as obras que Jesus lhe mandou, é o mesmo Jesus que os convida a retirar-se para um lugar isolado porque mereciam um descanso…


– De fato, tanto Jesus como os enviados, dão-se conta que eram muitos os que os acompanhavam porque precisavam de alguém que lhe desse atenção e oferecesse resposta aos seus problemas… A tal ponto, diz o Evangelho, que eles nem tinham tempo de comer…


– Notemos que essa multidão não veio para se saciar de pão, como aconteceu em outra oportunidade (Jo 6:26), isto é, por motivos interesseiros e tacanhos; veio porque não tem ninguém a quem recorrer, e encontrou, enfim, alguém que não a despreza, mas lhe dá esperança. 


– Religiosamente, são as pessoas à margem da Lei que não conhecem ou não podem observar; os fariseus e os escribas as desprezavam e os zelotes os atraíam para alistá-los em movimentos de revolta destinados ao massacre. 


Jesus se compadece diante de sua humanidade “humilhada e ofendida” e, mais ainda, diante de sua necessidade e sua espera do Reino de Deus.


– É instrutivo para nós aprender do Evangelho que diante deste “proletariado esfarrapado”, como definiu a historiografia marxista (Engels), Jesus não faz discursos inflamados de revolta social, mas se põe “a ensinar-lhes muitas coisas”, certamente coisas que dizem respeito ao Reino de Deus; o que deviam fazer para entrar nele; quem nele eram “os primeiros” … Jesus ensina as multidões, as eleva, as faz tornarem-se pessoas íntegras e integrais, exatamente através da fé; não protela o discurso do Reino para quando estivesse de barriga cheia. A multiplicação dos pães vem em seguida; ela é o prêmio para quem procurou “antes o Reino de Deus e sua justiça” (Mt 6:33).


– E a multidão não lhe permite repousar… Jesus tem que se ocupar dela porque eram como ovelhas sem pastor… Para os congregar, Jesus dá-lhes formação: “começou a instruí-los demoradamente…”


– Jesus é o bom pastor que ama as suas ovelhas e dá a vida por elas… É verdade que temos a impressão de sermos como ovelhas sem pastor porque nos prendemos a outras coisas que nos atraíram mais e o resultado é maiores desigualdades, mais incertezas, menos fé no futuro… Precisamos de voltar à fé em Jesus para ultrapassar este tempo confuso e desorientado…


– Como no tempo de Jesus, também hoje há muitas pessoas abatidas… A pobreza tem manifestações e nomes diferentes (desemprego, impossibilidade de acesso a bens e serviços, as migrações forçadas, novas formas de escravatura…)


– Ser cristão é sempre procurar viver como Jesus… Mesmo quando se pensa que já se realizou um bom número de coisas, que uma determinada atividade chegou ao fim, que já houve envolvimento num conjunto de iniciativas missionárias, o trabalho de acompanhamento e a compaixão pelos que precisam nunca está acabado… 


E pode acontecer que, quando se julga que os objetivos foram alcançados, que aquilo que estava planificado foi executado, continua a haver gente que acorre e continua como ovelhas sem pastor… E é que há sempre gente à nossa espera! O trabalho da missão nunca está terminado…

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