Viver é correr riscos

Mas Jonas fugiu da presença do Senhor, dirigindo-se para Társis. Desceu à cidade de Jope, onde encontrou um navio que se destinava àquele porto. Depois de pagar a passagem, embarcou para Társis, para fugir do Senhor. (Jonas 1:3 NVI)

Társis simboliza, tanto para Jonas quanto para nós, lugar de descompromisso, o lugar de nos escondermos dos perigos que rondam o amor e, é claro, das felicidades que só ele proporciona. Ao ir a Társis, Jonas tenta se proteger dos riscos da entrega ao outro. Sua intensa peregrinação é uma desculpa para não obedecer a uma ordem que o desestabiliza diante de convicções ideológicas, políticas e, acima de tudo, pessoais e espirituais. Sendo assim, Jonas só poderias perder-se. "Quem ama a sua vida perde-a" (Joao 12.25).

O que Jonas parece não saber é que a única coisa que a morte não nos pode tirar é o significado daquilo que um dia fomos para o outro. Certas pessoas, mesmo depois de terem partido, continuam tão vivas dentro de nós, que às vezes nos perguntamos se elas ainda não estariam conosco.

Jonas procura proteger-se das emoções que Nínive evocará. Por isso foge. Nínive é a ocasião para ele dar a sua vida, o seu amor e, assim, não asfixiar o seu próprio ser. Melhor é não negar os fatos: se Jonas não tivesse ido a Nínive, talvez tivesse morrido velho, mas sem ter vivido. Como na canção O Velho, de Chico Buarque:
O velho sem conselhos, de joelhos, de partida,
Carrega com certeza todo o peso de sua vida.
A vida inteira, diz que se guardou
[...] da brincadeira que ele não brincou
[...]
O velho de partida deixa a vida sem saudades,
Sem dívidas, sem saldo, sem rival ou amizade.
Então, eu lhe pergunto pelo amor ...
Ele me diz que sempre se escondeu,
Não se comprometeu, nem nunca se entregou.
[...]
O velho vai-se agora. Vai-se embora sem bagagem.
Não sabe para que veio.
Foi passeio, foi passagem.
[...]

Viver é correr riscos. Indo a Nínive, Jonas poderia ter sido rejeitado e humilhado, mas teria amado. Quem não ama pode até dizer que vive efetivamente, mas não terá o privilégio de dizer que vive afetivamente. E não viver afetivamente é viver uma vida medíocre.

Se amamos também sofremos e morrermos, mas morremos com a alma leve. Esta é a vitória paradoxal da vida: a morte não pode tirar a parte de nós que já doamos - o amor.


Fonte: Megulho no ser, Soraya Cavalcanti


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