Quem nunca passou por uma crise de fé?
Quem nunca passou por uma crise de fé? E quem não conhece pessoas que se interrogam sobre o sentido da vida e a resposta dada pelos Evangelhos? Todos passamos por momentos de crise e, algumas vezes, procuramos respostas em ideologias e filosofias, na maior parte dos casos, passageiras e sem horizontes de eternidade.
Vê-se que nossas escolhas são instáveis, modificam-se por ser mutáveis nossa natureza humana; nada há de definitivo e irreversível em nossa vida a não ser a morte; temos sempre a tentação de depois de ter posto a mão no arado voltar atrás (Lc 9:62).
Assim, nossa vida é um contínuo fazer e desfazer. Oscilamos continuamente entre os dois polos de atração que são Deus e o mundo (dinheiro, status, prazer). E eis, então, que tomam posse em nosso coração os ídolos; há um bezerro de ouro em cada pessoa. Basta que nos escutemos enquanto falamos para descobrir qual é o ídolo, já que - como disse Jesus - a boca fala do que está cheio o coração (cf Mt 12,34).
O discurso de Jesus sobre o Pão da Vida provocou uma crise profunda entre os seus seguidores. Aquelas palavras exigiam uma tomada de posição: seguir ou não a Jesus. Apesar das dúvidas, que sempre nos acompanham, na vida de todos, há ocasiões em que se impõe uma opção.
Foi o que aconteceu com o povo de Israel depois de ocupar a terra prometida (Josué 24,1-2.15-18) e com todos os que andavam com Jesus: foi preciso decidir-se a ficar ou ir embora (Evangelho João 6:67). As ideologias e as filosofias, próprias de cada época da história, fruto do pensamento humano em circunstâncias concretas, podem dar algumas respostas pontuais mas, só o Evangelho apresenta as palavras de Jesus, que são eternas.
- O abandono a fé
– Todos temos a experiência do abandono da fé por parte de alguns membros da nossa família, do nosso grupo de amigos, da nossa comunidade… Diz-se que as novas gerações estão mais afastadas da Igreja e sentem pouca atração por ela; há adultos que pretendem manifestar a sua fé de modo diferente e deixam de participar no culto e noutros momentos celebrativos…E, de um modo geral, a forma de vida das pessoas tende a colocar Deus à parte: “vivem como se Deus não existisse” (é o secularismo)…
– Isto acontece mais no Ocidente descristianizado, porque noutros lugares o fenômeno não é exatamente o mesmo… Mesmo assim, os que celebram a fé e a procuram viver parece que revelam maior liberdade e responsabilidade numa sociedade cada vez mais plural…
– O processo da fé não é automático em nenhuma conjuntura e em nenhum lugar… É necessário discernir sempre, confrontar as propostas e optar. Jesus proferiu o discurso do Pão da Vida e apresentou-se Ele próprio como o alimento que permanece para a vida eterna; quem dele comer não morrerá porque Ele é a vida em plenitude… Estas palavras exigem uma tomada de posição…
– Os judeus reagiram logo argumentando com as obras de Deus no passado e exigindo a segurança da vida para o presente (Moisés deu-nos e os nossos pais comeram,… Tu, o que é que nos dás?)… Os discípulos ouviram e escandalizaram-se: “esta linguagem é dura, quem é que a pode escutar?”… E aconteceu que muitos o deixaram e já não andavam com Ele…
- A fé é uma opção pessoal
– Neste contexto, Jesus dirige-se aos discípulos desafiando-os de uma forma direta e sem quaisquer rodeios: “também vós quereis ir embora?” Já Josué (24:15,16), perante a murmuração das tribos, interpelou os representantes com a mesma pergunta: “quereis servir a Deus que vos libertou do Egito ou os deuses desta terra?”… Tem que haver uma resposta, dada no exercício da liberdade de cada um…
– Um dos grandes problemas nas nossas comunidades e nas famílias é que dificilmente damos uma resposta pessoal no âmbito da fé: acredita-se porque é comum, há um conjunto de ideias e práticas em que fomos sendo habituados, uns momentos sociais e religiosos que se herdaram… e pouco mais…
– As certezas e as seguranças do passado contam bem pouco se cada um não der a sua resposta… E Jesus dirige-se hoje também a cada um: “tu queres ficar ou sair?” E a resposta tem que ser dada pessoalmente, não a partir de explicações já elaboradas por outros, mas da sinceridade do coração que procura a Deus…
Vemos, portanto, quanta urgência há de escolher, de decidir-se, de posicionar-se de um lado ou do outro, antes que seja tarde demais e Deus tenha de nos colocar num lugar bem preciso: à sua esquerda!
- A quem iremos?
– Se a pergunta anterior tem de ser respondida quanto antes, aquela que Pedro faz como resposta à interpelação de Jesus é permanente… Precisamente por isso, é necessário conhecer sempre melhor Jesus, ficar com Ele, abrir o coração à Palavra com humildade e afeto…
– Às vezes pensamos que a fé se exprime num conjunto de coisas que nós fazemos para agradar a Deus… Mas não: é Deus que faz coisas conosco quando Lhe abrimos o coração: “O Senhor livra das angústias, está perto dos que têm o coração atribulado e salva os de ânimo abatido” (Salmo 34)…
– “Tu tens palavras de vida eterna e nós já começamos a acreditar e temos consciência que tu és o Santo de Deus” – a resposta de Pedro é uma adesão à pessoa e às palavras de Jesus que os outros rejeitaram…
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